Criado no século VII a.C., este texto babilónico é o 11.º quadro da Epopeia de Gilgamesh
Um grupo de investigadores da Universidade Ludwig Maximilian, na Alemanha, criou um sistema de Inteligência artificial (IA) capaz de decifrar fragmentos de textos babilónicos. Denominado “Fragmentarium”, o algoritmo pode reunir algumas das histórias mais antigas alguma vez escritas pelos humanos.
O problema com a compreensão dos textos babilónicos é que as narrativas são escritas em peças de barro e hoje em dia só existem fragmentos.
Esses são armazenados em instalações localizadas em lugares distantes uns dos outros, tais como o museu Britânico, em Londres, e o Museu do Iraque, em Bagdad.
Para além destes obstáculos, relatou o IFL Science, os textos são escritos em dois sistemas de escrita complexos, o Sumério e o Akkadian, tornando a tarefa de compilação dos textos ainda mais difícil.
Neste trabalho, os investigadores decifraram previamente os textos, copiando carateres para o papel, depois compararam cuidadosamente as suas transcrições com outras para ver quais fragmentos encaixam uns nos outros.
O facto de essas peças estarem fragmentadas dificulta o processo. Até agora foram digitalizados 22.000 fragmentos de texto. O sistema de IA conseguiu reuni-los sistematicamente, fazendo ligações em segundos. Normalmente, os investigadores demoram meses até fazer essas ligações.
“É uma ferramenta que nunca existiu antes, uma enorme base de dados de fragmentos. Acreditamos que é essencial para a reconstrução da literatura babilónica”, disse Enrique Jiménez, professor da Universidade de Ludwig Maximilian.
Em novembro de 2022, o software reconheceu um fragmento pertencente à mais recente tábua da Epopeia de Gilgamesh, a peça de literatura mais antiga do mundo, datada de 2100 a.C.. As partes mais famosas deste poema descrevem uma grande cheia, que se pensa ser a origem da história da Arca de Noé.
Noutro momento, com a ajuda do Fragmentarium, Enrique Jiménez e um colega do Iraque identificaram um hino à cidade da Babilónia. “O texto é encantador. Consegue-se imaginar muito bem a cidade. Descreve a primavera a chegar à Babilónia”, explicou o professor. Sem o sistema, a reconstrução teria levado 30 a 40 anos.
O hino diz o seguinte:
“O rio Arahtu,
– criado por Nudmmund, o Senhor da Sabedoria – Águas
a planície, molha os canaviais;
Despeja as suas águas na lagoa e no mar.
Está a florir e verde nos seus campos,
Os prados brilham com grãos frescos;
Graças a ele, o cereal acumula-se em montões e montões,
A erva cresce alto para pastagens para os rebanhos,
Com riqueza e esplendor próprios da humanidade,
[Tudo está] coberto de gloriosa abundância”.
Até agora, apenas 200 investigadores de todo o mundo utilizaram a plataforma para o seu trabalho, que está agora aberto para acesso público.
Mas o milho existia nessa altura nesta parte do mundo?
Caro leitor,
Obrigado pelo reparo.
A IA usou a expressão “corn” na sua tradução. Substituímos no nosso texto a expressão “milho” pela expressão “cereal”, mais genérica.
Sim, o painço, uma espécie de milho cultivado há milénios na Ásia.