O Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho encerrou a “enfermaria-tampão” na qual eram mantidos os pacientes que aguardavam pelo resultado do teste de diagnóstico à covid-19. Em declarações ao ZAP, uma profissional de saúde disse que a medida era uma “falta de cuidado” e que se criam cadeias de transmissão difíceis de controlar. Já a instituição considera o procedimento “seguro” e “mais rigoroso”.
Com a pandemia, o Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho definiu que todos os doentes que dessem entrada no hospital, provenientes da urgência ou com cirurgia programada, fariam um rastreio à covid-19 e aguardariam resultado numa “enfermaria tampão”, de forma a minimizar o contágio de outros doentes e dos profissionais.
Ao final de 24 horas, chegaria o resultado do teste de diagnóstico à covid-19. Se fosse negativo, os doentes eram encaminhados para outra enfermaria, composta por doentes com testes negativos. Porém, se o resultado fosse positivo, o doente seria deslocado para um local próprio para doentes com covid-19, com outros doentes infetados e onde os profissionais usavam proteção adequada.
Uma profissional de saúde, que não quis ser identificada, disse, em declarações ao ZAP, que “deixou de haver serviços próprios”, de acordo com uma orientação da chefia para deixar de haver uma “enfermaria tampão”. Segundo a profissional, a orientação chegou sem justificação, sendo que a chefia disse “apenas que eram orientações superiores”.
Desta forma, enquanto um doente aguarda pelo resultado do teste, o utente “vai para qualquer enfermaria onde haja vaga”, onde poderá haver pacientes não infetados e onde os profissionais de saúde ”entram apenas com uma máscara cirúrgica, luvas, touca e avental” – o que não representa uma proteção adequada para se protegerem da doença.
“Estamos a pôr em risco doentes, muitos deles oncológicos ou com outro tipo de risco associado. Estamos a pôr em risco profissionais de saúde que facilmente transportam o vírus para suas casas, onde também têm grupos de risco, onde eles próprios, muitas vezes, têm doenças crónicas, escreveu a profissional de saúde num e-mail enviado ao ZAP. “Cada um de nós, doente ou profissional, somos um risco por si só, mas também porque se criam cadeias de transmissão que serão muito difíceis de controlar. E, mesmo que se consiga controlar as cadeias de transmissão, entretanto, perdem-se vidas.”
Para a profissional, a situação representa uma “falta de cuidado, de respeito e de responsabilidade”. “Era suposto sentirmo-nos seguros num hospital onde estamos a ser tratados e não viver no pavor de ficarmos pior”, afirmou.
Contactado pelo ZAP, a administração do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho disse que a enfermaria-tampão “promove uma falsa sensação de segurança, uma vez que nesse espaço encontravam-se doentes positivos e negativos, sem isolamento de gotículas”.
Conforme explicado ao ZAP, os doentes internados através do serviço de urgência são testados à entrada, sendo “encaminhados para uma enfermaria adequada, onde aguardam o resultado em isolamento de gotículas”.
Para o Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, o procedimento é “seguro” e “mais rigoroso”. “Cada um dos doentes é mantido em condições de isolamento que inviabilizam a possibilidade de contágio”, explicou fonte do hospital. “Não houve qualquer caso de transmissão desde que foi implementado”.
Por outro lado, a profissional de saúde, ouvida pelo ZAP, disse que, se um doente da “enfermaria-tampão” testasse positivo, poderiam imediatamente testar-se apenas os restantes doentes dessa mesma enfermaria. Além disso, os profissionais de saúde entrariam nessa enfermaria com material de proteção adequado. “As cadeias de transmissão eram mais facilmente controladas“, insistiu.
Fonte do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho afirmou que a segurança dos profissionais “está sempre no foco das preocupações”. “Assumimos muito orgulho pelo excelente desempenho das nossas equipas, naquele que foi durante muitas semanas consecutivas o 2º concelho com maior número de casos de todo o país”, concluiu.
Um médico ouvido pelo ZAP explica que “deveria haver áreas específicas para os doentes que estão a aguardar os resultados. Mas isso é num mundo ideal. Nós depois temos de ter o mundo real. Temos de considerar o risco-benefício”.
“Se eles asseguram que, nos internamentos, os doentes estão com máscara, devidamente protegidos e com algum isolamento, provavelmente estão a cumprir as normas de seguranças que são preconizadas”, diz o especialista. “Cabe aos profissionais concordar ou não. Muitas vezes, quem está no terreno acha que aquilo que se defende não seria o melhor. Mas as orientações que vêm da DGS e das comissões internas hospitalares determinam assim e é assim que se têm de cumprir”.
Ainda assim, o especialista concorda que a “situação não é ideal”, mas defende que a instituição não estará em incumprimento e não irá “contra as orientações da DGS”.
Desde o dia 13 de maio, o Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho não tem nenhum profissional infetado e todos os que estiveram positivos cumprem os critérios de cura.
Foram efetuados mais de 32 mil testes pela instituição desde o início da pandemia.
Coronavírus / Covid-19
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