Em 1983, uma tragédia mudou o mundo: deu-nos o GPS, grátis e para sempre

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Depois de comprarmos um novo telemóvel, é necessário pagar para usar alguns serviços, como as chamadas telefónicas e o acesso à internet. Mas uma função essencial destes dispositivos está sempre disponível, e gratuitamente: o sinal de GPS.

Mesmo quando estamos offline, é possível abrir uma aplicação que use GPS e receber a nossa posição exata no mapa.

Aplicações como o Google Maps e o Waze precisam de uma ligação à internet para atualizar rotas e dar informações em tempo real, mas mostram sempre a posição exata em que se encontra o dispositivo.

O sinal de GPS está assim sempre disponível, e é sempre gratuito. Mas porquê?

A razão é histórica e está ligada a um trágico evento, que em 1983 ceifou a vida a 269 pessoas.

O Sistema de Posicionamento Global, ou GPS, originalmente designado Navstar GPS, é um sistema de navegação por satélite desenvolvido pelo exército dos Estados Unidos — inicialmente, exclusivamente para uso militar.

O sistema permite triangular sinais de um conjunto de satélites em órbita para  receber informações precisas sobre alvos militares, e a tecnologia era restrita aos organismos militares e de defesa do país.

Mas, em 1983, em plena Guerra Fria, tudo mudou.

No dia 1 de setembro desse ano, um Boeing 747-200B da Korean Airlines, que tinha partido de Nova Iorque com destino a Seul, desviou-se da sua rota, e violou o espaço aéreo da então União Soviética.

O avião foi abatido pela força aérea da União Soviética. Levava a bordo 269 passageiros e tripulantes, incluindo o congressista norte-americano, Lawrence McDonald; ninguém sobreviveu.

A União Soviética alegou que não sabia que o avião era civil, que tinha entrado no espaço aéreo soviético, e que acharam ter sido uma provocação deliberada dos Estados Unidos.

A tragédia poderia ter sido evitada se o sistema de GPS não fosse na altura restrito a uso militar. E, apenas 15 dias depois, o então presidente Ronald Reagan determinou que o sinal de GPS passasse a estar disponível para uso civil.

Inicialmente, o sistema foi disponibilizado com uma ressalva: a precisão da versão pública do serviço seria restrita a 100 metros da posição exata, o que ainda daria uma vantagem tática ao exército dos EUA.

Em 2000, o presidente Bill Clinton removeu essa limitação da versão pública do GPS e melhorou a precisão até aos 15 metros.

Após esta medida, a produção de dispositivos com sistemas de localização aumentou exponencialmente, e nos nossos dias o GPS tornou-se omnipresente — para grande satisfação e alívio de quem não se pode gabar de ter um bom sentido de orientação.

Embora esteja disponível para uso em todos os países do mundo, a tecnologia e os satélites que suportam o sistema de GPS pertencem aos Estados Unidos.

Para evitar eventuais falhas nos satélites ou qualquer tipo de bloqueio, diversos países desenvolvem os próprios sistemas independentes de GNSS, ou “Sistema Global de Navegação por Satélite”.

É o caso da Rússia, que criou o seu GLONASS, e da China, que criou o BeiDou como alternativa própria ao GPS norte americano.

Um dos mais promissores sistemas alternativos ao GPS é o Galileo, o sistema de navegação por satélite desenvolvido pela União Europeia.

Concebido desde o início como um projeto civil, o Galileo prometia revolucionar a navegação por satélite com um sistema com maior precisão, maior segurança, e menos sujeito a problemas — sendo além disso compatível com os outro sistemas já existentes, permitindo uma maior cobertura de satélites.

No entanto, o Galileo foi sendo afetado por falhas e problemas de funcionamento, que retardaram a sua implantação como verdadeira alternativa ao GPS norte americano.

Mas enquanto não temos o nosso Galileo 100% operacional, não estamos propriamente mal servidos com o GPS — que funciona bem e é gratuito.

ZAP // CanalTech

Ataques por bloqueio de GPS

12 Comments

  1. O GLONASS não é de uso exclusivamente militar!
    Prova disso é que em muitos GPS civis, é possível activar ou desactivar a utilização do sistema Russo.
    Alguns GPS permitem até a utilização combinada de este sistema com o GPS, para melhorar a precisão de posicionamento, até escassos 3 metros.

    • E acescento que até o sistema Beidou é também aberto e gratuito, pois quase todos os telemóveis recentes suportam os 3 sistemas.

  2. Os jornalistas deviam fazer uma pesquisa ou procurar alguém especializado, numa determinada matéria, antes de publicarem seja o que for. Existem neste momento e funcionais QUATRO constelações de GNSS. A saber… GPS (EUA), GLONASS (FEDERAÇÃO RUSSA), BEIDOU (CHINA) e o GALILEO (UNIÃO EUROPEIA).

    TODOS SÃO “GRATUITOS” E TODOS PODEM SER USADOS PELOS CIDADÃOS DO PLANETA. Não há almoços grátis e por isso coloco as aspas. Há um fee que tem de ser pago. E por norma esse fee já está assegurado aquando da compra do equipamento, seja ele qual for, embora q no uso profissional do mesmo as coisas n sejam bem assim.

    • Caro leitor,
      Obrigado pelo seu comentário.
      Permita-nos no entanto alguns reparos.
      Os leitores deveriam ler os artigos até ao fim, antes de comentar seja o que for.
      Os últimos 5 parágrafos do artigo são sobre a GLONASS, BeiDou e Galileo.
      Segundo é do nosso conhecimento, GLONASS e BeiDou são restritos a uso militar.
      Sejam ou não restritos a uso militar, na prática, não é verdade que GLONASS, BeiDou e Galileo possam ser “usados pelos cidadãos do planeta”.
      Para que fosse verdade, seria necessário que estivessem acessíveis nos dispositivos que os cidadãos do mundo usam realmente.
      Não temos conhecimento de qualquer aplicação, pelo menos “nesta parte do mundo”, que use GLONASS, BeiDou ou Galileo.
      Se o leitor tiver conhecimento de alguma aplicação, que um português ou cidadão da UE possa usar, que recorra por exemplo, a Galileo em vez de GPS, agradecemos que nos indique referências com as quais possamos enriquecer ou completar a peça.
      Apesar de termos conhecimento de que os custos do sistema GPS são subsidiados com a taxa paga pelos fabricantes no custo dos chips, mantemos que o uso do GPS é gratuito, sem aspas.
      O custo dos chips GPS está incorporado no custo dos dispositivos que os consumidores compram, quer usem ou não qualquer funcionalidade GPS.
      E usá-la é gratuito.
      Quando compramos um telemóvel, pagamos todos os custos associados a todos os chips que suportam todos os serviços que o telemóvel oferece.
      Se não fizermos nada com o telemóvel, não pagamos mais nada.
      Se quisermos fazer chamadas ou usar internet, temos que pagar mais do que o telemóvel.
      Se quisermos usar o GPS, não temos nenhum custo extra.

      • Tenho por norma q qd afirmo algo q tenhas os pés bem assentes na terra para o afirmar. Tudo o q afirma mencionei no meu comentario qd fala de ser “gratuito” o uso. Qd compra um equipamento está inserido no preço o pagamento do “fee” excepto nalguns equipamentos profissionais. Já agora… Eu sou topógrafo e na minha profissão uso estes equipamentos profissionais q ao contrário dos equipamentos comuns tem precisão centímetrica. Em q para além de pagarmos os equipamentos tb temos de pagar as licenças para o uso das constelações. São a excepção e não a regra. Tb nestes casos depende da marca. Leica, Trimble, Topcon, Sokkia, e Spectra, para mencionar algumas, são fabricantes de equipamentos GNSS profissionais onde quem os utiliza para além de pagar o equipamento tb paga, uma única vez por equipamento, o fee da utilização das constelações.

        Em relação ao resto bastava uma pesquisa na net num qq site de um qq fabricante de um qq equipamento “popular” para obterem esta informação:

        https://support.polar.com/pt/what-is-gnss

        E sim, podem ser usados por um qq cidadão deste planeta e em qq parte do mesmo e não somente para uso militar.

        Tem o meu contacto de email se precisarem de fotografias onde eu comprovo tudo o q aqui afirmei e afirmo.

      • Há mais de 20 anos que usamos sistemas de posicionamento, mas como não estão nos telemoveis as pessoas pensam que não existem. Enfim…

  3. O GLONASS não é exclusivo para uso militar…
    Aliás é só procurarem na internet e essa informação é bem clara…
    Deixo aqui também a indignação de não assumirem o vosso erro na informação.
    E já agora… O meu telemóvel tem acesso tanto ao sistema GPS/ NAVSTAR como ao GLONASS.

    • Caro leitor,
      Obrigado pelo reparo, na sequência do qual optámos por remover a referência “restrito a uso militar” no caso do GLONASS.
      Pode indicar-nos com que aplicações tem acesso ao uso do GLONASS?

      • Cara leitora,
        Imagino que não esteja a referir-se a usar GPS pondo um dedo no ar.
        Pode ajudar-nos indicando então, especificamente, exemplos de dispositivos disponíveis ao público, que não sejam telemóveis, que usem GLONASS?
        Seria muito útil tal informação, com a qual certamente poderíamos enriquecer a notícia.

      • Cara leitora,
        Obrigado pelo seu comentário.
        Sim, “antenas” está mais quente, quase lá.
        Tem referências de dispositivos que usem essas antenas, que qualquer um de nós possa usar?

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