Um maratona de 63 horas de ataques por interferência de GPS perturbou os sistemas globais de navegação por satélite de centenas de aeronaves que sobrevoavam a região do Báltico. Suspeita-se que a Rússia seja responsável pelo ataque.
A Rússia é suspeita de estar por trás de um ataque sem precedentes que durante 63 horas bloqueou os sinais de GPS no espaço aéreo da região do Báltico.
O incidente, que a semana passada afetou centenas de aeronaves de passageiros, ocorreu numa altura em que há tensões crescentes entre a Rússia e a aliança militar da NATO, mais de dois anos após o início da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia.
“Observámos um aumento nos bloqueios de GPS desde o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, e os aliados alertaram publicamente que a Rússia esteve por trás do bloqueio de GPS… afetando a aviação e a navegação,” afirmou à New Scientist um responsável da NATO.
“A Rússia tem um historial de bloqueio de sinais GPS e dispõe de um leque alargado de capacidades para guerra eletrónica”, acrescentou o responsável.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Europa tem vivido um aumento no número de perturbações significativas dos sistemas de GPS e de outros sistemas globais de navegação por satélite (GNSS).
As perturbações têm sido particularmente sentidas perto do Mediterrâneo e Mar Negro, e nas proximidades do Mar Báltico e Ártico. A região do Báltico, por exemplo, regista des dezembro de 2023 um bloqueio consistente dos sistemas de GPS.
Este período coincide com relatos dos meios de comunicação russos de que a frota báltica da marinha russa, baseada em Kaliningrado, enclave russo situado entre a Lituânia e a Polónia, estava a realizar exercícios de guerra eletrónica.
Estas interferências incluem o bloqueio de sinais de satélite e ataques de “spoofing” de sinais, técnica usada para fazer com que os recetores GPS das aeronaves “pensem” estar em locais completamente diferentes, explica à New Scientist o analista Zach Clements, investigador da Universidade do Texas.
Um estudo recente de Clements mostrou que as interferências no GPS registadas no período do último Natal na Europa incluiu múltiplos incidentes de bloqueio de GPS, juntamente com um ataque de spoofing com origem na Rússia.
“É evidente que estamos a ver um número sem precedentes de ataques de interferência GNSS na Europa,” diz Zach Clements.
Segundo adiantou no X-Twitter um analista de inteligência, a mais recente maratona de bloqueio de GPS começou na noite de 22 de março e terminou na tarde de 25 de março, tendo durado 63 horas e 40 minutos.
O ataque incluiu 24 horas de interferências distribuídas por algumas regiões da Suécia, Alemanha e Polónia, antes de mudar para uma interferência mais focada, cobrindo principalmente a Polónia, durantee 40 horas. Segundo um outro analista, durante este período mais de 1600 aeronaves civis foram afetadas.
Num incidente anterior, a 13 de março, uma aeronave da Royal Air Force que transportava Grant Shapps, Secretário de Defesa do Reino Unido, registou interferências no sinal GPS em ambos os trajectos de uma viagem entre o Reino Unido e a Polónia enquanto voava perto de Kaliningrado.
“Um dos aspetos positivos destes ataque é que os russos estão a ajudar-nos a perceber que dependemos demasiado do GPS para muitas coisas“, considera Dana Goward, responsável da Resilient Navigation and Timing Foundation, ONG sediada na Virgínia focada na proteção e reforço dos sinais de GPS.
Em 2019, o relatório de um incidente apresentado ao Sistema de Relatórios de Segurança de Aviação da NASA descreveu a forma como o bloqueio de GPS levou um jato de passageiros a quase colidir com uma montanha no estado do Idaho.
“Alguém vai acabar por se magoar” diz Goward.
Guerra na Ucrânia
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