Governo recusa renacionalizar CTT

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Manuel de Almeida / Lusa

O primeiro-ministro, António Costa

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou hoje que o Governo não tem intenção de renacionalizar os CTT e remeteu para o regulador qualquer eventual alteração ao contrato de concessão.

No debate quinzenal com o primeiro-ministro na Assembleia da República, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, desafiou António Costa a dizer se concorda com a coordenadora do BE, Catarina Martins, que tinha acusado os acionistas privados de “pilharem” a empresa e a esclarecer se a intenção do Governo será renacionalizar os CTT.

“Não, não é intenção do Governo nacionalizar os CTT. Sendo uma entidade pública sob concessão não havia lugar a nacionalização, quando muito haveria lugar ao resgate da concessão. A questão do resgate pôr-se-á ou não nos termos do contrato e nos termos da avaliação que cabe em primeiro lugar à Anacom”, afirmou António Costa, reiterando que o Governo criou um grupo de trabalho sobre esta matéria.

O primeiro-ministro lembrou que o regulador, a Anacom (Autoridade Nacional de Comunicações), já identificou uma situação de incumprimento do contrato e aplicou sanções aos CTT.

“Se isso é suficiente, duvido que seja. Há uma coisa que devemos refletir: se um serviço público como o serviço postal deve ser avaliado pela valorização acionista em bolsa ou pela qualidade dos serviços prestado aos cidadãos“, afirmou.

Arménio Carlos e Jerónimo de Sousa lado a lado a defender intervenção do Estado

No dia em que começou uma greve de dois dias dos trabalhadores dos CTT, e depois de a administração da empresa ter anunciado a redução de 800 postos de trabalho, Arménio Carlos esteve com os primeiros trabalhadores em greve nas instalações centrais do CTT em Lisboa, onde também estiveram o secretário-geral da central sindical UGT, Carlos Silva, e o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.

Aos jornalistas Arménio Carlos disse que o processo a ser desenvolvido pela administração dos CTT confirma que “a privatização dos CTT foi um erro monumental“, que foi benéfica para os acionistas mas “desastrosa para os trabalhadores e simultaneamente para a população”.

“Se este processo de privatização está errado então há tempo para o corrigir, fazendo retornar os CTT a esfera do setor empresarial do estado”, defendeu, lembrando o serviço público de caráter social que a empresa tem, porque através dela chegam por exemplo as pensões (por vales de correio) aos reformados, e que agora ficam “uma semana, duas e três” à espera de a receberem.

Arménio Carlos criticou também a autoridade reguladora, a ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações), que “não fez rigorosamente nada” em relação aos CTT, uma empresa que se tem “comportado mal”, e disse que a greve que hoje se inicia pode “criar uma linha de alerta” no país para que “populações se juntem aos trabalhadores” na defesa da melhoria da qualidade do serviço e contra o encerramento de balcões dos CTT.

“E se isso for feito, como já foi feito anteriormente, estamos convencidos que podemos travar, e condicionar, esta estratégia da administração, que é desastrosa para os trabalhadores e para o país”, disse, reiterando que é preciso “por os CTT novamente na esfera do setor empresarial do Estado”.

Também questionado pelos jornalistas o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, disse que o Governo tem de olhar para o que se está a passar “com olhos de ver” mas acrescentou: “Temos consciência de que o país não consegue enfrentar uma recompra dos CTT por 500 ou 600 milhões, agora tem de ser o Governo a perceber o que é que pode fazer para por um lado garantir o bom serviço publico, e por outro lado preservar postos de trabalho, porque os trabalhadores não são carne para canhão”.

Também prestando solidariedade aos trabalhadores em greve, o responsável referiu-se assim ao anúncio de que 800 trabalhadores poderão ser afastados: “Quando sabemos que eventualmente o custo de mandar 800 trabalhadores embora pode custar sete ou oito milhões de euros, mas que alguns administradores ganham quatro ou cinco milhões em conjunto, é para olharmos para isto com a relatividade que isto merece, e perceber que esse tempo, da outra senhora, já passou”.

Salientando a importância dos CTT para o país, nomeadamente quem vive no interior, Carlos Silva considerou fundamental garantir os postos de trabalho e a pressão dos trabalhadores.

Hoje mesmo, na comissão de Trabalho da Assembleia da República ouve os sindicatos do setor e administração dos CTT.

José Arsénio, secretário-geral do Sindicato Democrático dos Trabalhadores das Telecomunicações e dos Media (SIndetelco, UGT), disse que vai estar presente na reunião e acusou a administração dos CTT de “passar ao lado do setor postal” por só estar interessada no banco postal.

O secretário-geral dos comunistas, Jerónimo de Sousa esteve junto da central de distribuição em Cabo Ruivo, em Lisboa, para prestar solidariedade aos trabalhadores.

Não olhem para isto como um conflito laboral apenas. Está em causa o interesse nacional”, disse Jerónimo de Sousa aos jornalistas.

Adesão à greve dos trabalhadores dos CTT nos turnos da noite foi de 80%

Às 08:15, Vítor Narciso adiantou que a adesão à greve de dois dias, por melhores condições de trabalho e pela salvaguarda dos postos de trabalho, atingiu já de forma significativa os turnos que tiveram início às 21:00 e às 22:00 de quarta-feira e às 00:00 de hoje.

“Quando se iniciou o turno da noite a adesão estava em 80% nas três centrais de correio: Lisboa, Porto e Coimbra. As perspetivas para os turnos da manhã são boas. Só vamos ter dados mais tarde, porque temos de verificar cerca de 900 locais de trabalho”, disse.

// Lusa

5 Comments

  1. Não há duvidas que a privatização dos CTT foi ruinosa para os contribuintes (e para os funcionários) – com o serviço a piorar muito e ficar mais caro!
    Já se sabe que os accionistas se estão a marimbar e estão apenas interessados nos dividendos… o resultado está à vista!!
    Resta saber qual foi o objectivo de mais esta privatização ruinosa para o país, realizada pelo “iluminado” do Passos e companhia!…

  2. Deixa ver se eu entendo. O governo de Passos Coelho privatizou os CTT. Os acionistas privados pilharam a empresa, e agora este Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, levanta a galga e desafia António Costa a dizer se concorda renacionalizar os CTT ???

    • Sim, é exactamente isso!!
      É pena que nenhum jornalista tenha questionado o Passos (e outros do PSD) sobre o que fizeram/aconteceu aos CTT!…
      Esse Hugo Soares é o típico “lixo politico” vindo das jotas (parasita, incompetente, inconsequente, populista, etc, etc), enfim…
      Com esse líder parlamentar e com os dois candidatos à liderança (Santana e Rui Rio), o PSD está bem servido!…

  3. Os serviços dos CTT vão de mal a pior, após a privatização, principalmente para as populações do interior do país.
    O lema dos ditos governantes é:
    Muitos cifrões para os exploradores e o povo que se lixe.

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