Os golfinhos podem usar os seus dentes para ouvir debaixo de água, como interface entre as vibrações sonoras na água e o sistema auditivo. Dentes podem ser “como os pelos táteis que alguns animais usam”, diz novo estudo.
Os dentes dos golfinhos podem servir-lhes como sofisticadas ferramentas para a deteção de sons debaixo de água, com um papel particularmente relevante na ecolocalização, segundo estudo publicado a 12 de novembro na Wiley.
O estudo, realizado por Ryo Kodera e a sua equipa na Universidade de Tsurumi, no Japão, descobriu que os dentes dos golfinhos estão ligados a feixes espessos de fibras nervosas, que podem funcionar como uma interface entre as vibrações sonoras na água e o sistema auditivo.
“Os nossos resultados apoiam a hipótese de os golfinhos utilizarem os seus dentes como parte de um sistema avançado de receção de som”, explica o autor, citado pela revista New Scientist.
Sabe-se que os golfinhos e outras baleias com dentes, conhecidos coletivamente como odontocetos, têm muitos dentes, muitos dos quais não são utilizados para mastigar. Os investigadores acreditam que estes dentes podem mesmo desempenhar um papel na receção de ondas sonoras.
O nervo coclear, crucial para o processamento auditivo, liga-se à gordura no maxilar inferior, o que indica uma potencial ligação entre as vibrações sonoras, os dentes e o cérebro.
A equipa de Kodera examinou mandíbulas de várias espécies de odontocetos, incluindo o golfinho roaz e a falsa orca, e comparou-as com as de mamíferos terrestres como os porcos domésticos.
Os investigadores notaram caraterísticas únicas nas mandíbulas dos odontocetos, tais como uma colocação mais solta dos dentes, alvéolos alveolares mais esponjosos e porosos e feixes de nervos espessos que ligam os dentes.
Estes nervos estão envolvidos por um isolamento de gordura, permitindo uma rápida transmissão de sinais electroquímicos, e são mais espessos do que os dos mamíferos terrestres.
“Estas descobertas sugerem uma maior sensibilidade ao movimento dos dentes, possivelmente comparável aos pelos táteis que alguns animais usam para tocar“, diz Kodera. No entanto, o estudo não prova de forma conclusiva que estes feixes nervosos ajudam diretamente a ecolocalização ou a audição.
Os especialistas na matéria elogiaram o estudo, mas não deixaram de assinalar as suas limitações. Philippe Blondel, da Universidade de Bath, salienta que é necessária mais investigação para determinar as funções sensoriais específicas das fibras.
Robert Boessenecker, do Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia, que considera as descobertas no mínimo inovadoras e acredita que o estudo “irá influenciar a forma como examinaremos as mandíbulas dos golfinhos no futuro”.