“Europa poderá tremer de frio”. Gazprom não garante abastecimentos de gás

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A Gazprom avisou os seus clientes europeus que não poderá garantir o abastecimento de gás devido a circunstâncias “extraordinárias”, notícia que surge quando o pipeline Nord Stream 1 está sob o período de manutenção anual de dez dias, cujo término se prevê para quinta-feira.

Segundo uma carta a que a agência Reuters teve acesso, datada de 14 de julho, a companhia da gás russa disse que estava a declarar retroativamente motivos de “força maior” nos fornecimentos a partir de 14 de junho.

A cláusula da força maior é usada nos contratos comerciais e define as circunstâncias extremas que liberta uma das partes das suas obrigações legais. A declaração não significa que a Gazprom vai interromper o fornecimento, mas não poderá ser responsabilizada se não cumprir os termos do contrato.

O abastecimento de gás russo tem vindo a cair, incluindo através da Ucrânia e Bielorrússia e o Nord Stream 1 no mar Báltico. “Parece ser o primeiro sinal de que os fornecimentos através do Nord Stream 1 não deverão ser retomados, assim que a manutenção terminar”, disse à Reuters o analista do ABN Amro Hans van Cleef.

“Dependendo das circunstâncias ‘extraordinárias’ em causa para declarar força maior, e se essas questões são técnicas ou mais políticas, isso pode significar o próximo passo na escalada entre a Rússia e a Europa/Alemanha”, acrescentou.

Já Rui Baptista, professor do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), disse ao ECO que “os cenários previsíveis são, de facto, sombrios e de alguma forma pessimistas. A Europa poderá tremer de frio e a economia irá ressentir-se seguramente”.

De acordo com a Comissão Europeia (CE), um corte definitivo pode roubar 1,5% ao Produto Interno Bruto (PIB) europeu. Um corte nas importações russas, em julho, significaria que as reservas da União Europeia (UE) ficariam preenchidas entre 65 a 71% no início de novembro, abaixo da meta de 80% necessária para o inverno.

“Se for problema de manutenção, não há problema nenhum, o fluxo será reposto. Mas a verdade é que o Nord Stream é uma arma política da Rússia e por isso há um risco de não voltar reabrir nos próximos tempos”, indicou ao mesmo jornal o professor de ambiente e energia Carlos Santos Silva, do Instituto Superior Técnico (IST).

Como apontou o ECO, os países europeus estão a preparar medidas para minimizar os impactos, como a reativação de centrais a carvão e o racionamento. “Será difícil não entrarmos num inverno com racionamento de consumo se o Nord Stream não abrir. Em termos de política energética, a prioridade é sempre as pessoas e depois a indústria. Isso ia matar a economia alemã”, indicou Carlos Santos Silva.

A UE consome 260 bcm de gás, importando da Rússia cerca de 40%, ou seja, 155 bcm, referiu ao ECO Victor Moure, country manager Portugal da Schneider Electric, sendo, por isso, incerto que “a Europa seja capaz de garantir ‘stock’ suficiente com a atual dependência do gás”.

Segundo Rui Baptista, o fornecimento de gás oriundo da Noruega via gasoduto aumentou mais de 8% só no primeiro semestre de 2022, frisando que a produção em Oslo “não é suficiente para colmatar a redução do abastecimento da Rússia”.

O abastecimento de Israel, através do Egito, também “não será relevante”, uma vez que a produção de gás israelita provém de dois campos offshore, o Leviathan e o Tamar, que produzem cerca de 12 bcm e menos de 10 bcm por ano, explicou.

Quanto às importações de países como a Argélia, Catar ou a Nigéria, “existem imitações no transporte, na capacidade de recebe-lo no porto e o introduzir nos gasodutos”, apontou Carlos Santos Silva. “A solução não pode ser só diversificar através de outras fontes de gás ou regiões. É preciso outro tipo de medidas”, frisou.

Para o especialista, aumentar a capacidade de armazenamento em Portugal pode ser uma delas. Segundo o primeiro-ministro, António Costa, está a ser montada, no Porto de Sines, uma operação para aumentar a capacidade de transbordo e acelerar o fornecimento de gás natural aos países que dependem da Rússia. Contudo, a curto prazo, esta solução não será “compagináveis com às carências europeias”.

ZAP //

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