A Marinha francesa respondeu esta quinta-feira ao envio de dois navios-patrulha britânicos para Jersey, na véspera, e mobilizou as suas próprias embarcações militares para as imediações da ilha, contribuindo, dessa forma, para o aumento da tensão no Canal da Mancha.
Em causa está uma disputa sobre o acesso dos barcos de pesca franceses às águas territoriais da ilha, localizada junto à costa da Normandia e dependente da Coroa britânica.
As autoridades de Jersey, a maior das ilhas do Canal da Mancha e uma dependência autónoma da coroa britânica perto da costa do norte de França, acusaram os gauleses de agir de forma desproporcional, depois de Paris ter ameaçado cortar o fornecimento de eletricidade para a ilha.
Jersey e as outras ilhas do Canal da Mancha estão mais próximas da França do que da Grã-Bretanha e, por esse motivo, aquela ilha recebe a maior parte da sua eletricidade de França, fornecida por cabos submarinos.
O porta-voz do Governo francês, Gabriel Attal, recusou-se a comentar a questão da eletricidade, mas expressou a “determinação total” da França em implementar o acordo pós-Brexit com o Reino Unido, especialmente em relação à indústria pesqueira.
“Continuaremos a fazer tudo o que pudermos para garantir que este acordo seja respeitado”, garantiu o porta-voz.
Para além do HMS Severn e do HMS Tamar (ambos da Marinha britânica) e dos navios-patrulha de França, várias dezenas de barcos pesqueiros franceses foram para do porto de St. Helier, contudo, ao longo esta tarde abandonaram os protestos.
“A demonstração de força está feita. É aos políticos que cabe decidir. (…) Agora, se não tivermos sucesso, a ministra deve apagar a luz”, disse o presidente da Comissão regional de pesca da Normandia, Dimitri Rogoff, indicando assim a situação de crise do setor.
As autoridades francesas dizem que as “novas medidas técnicas” impostas por Jersey não foram comunicadas à UE e que, por isso, são “nulas e inválidas”.
“Queremos voltar às negociações para podermos obter as licenças de pesca previstas no acordo”, disse à BBC uma fonte do Palácio do Eliseu, que acrescentou que os navios franceses estão no local para “monitorizar” uma situação que, apesar da tensão, “está calma”.
Contudo, o Governo britânico diz-se totalmente solidário com a tomada de posição do Governo autónomo de Jersey.
“O primeiro-ministro reitera o seu apoio inequívoco a Jersey e confirma que os dois navios-patrulha da Marinha Real vão permanecer onde estão para monitorizar a situação, como medida de precaução”, informou esta quinta-feira um porta-voz de Downing Street, dizendo que Boris Johnson tem estado em contacto com o ministro-chefe de Jersey, John Le Fondré, e com o responsável pelas questões diplomáticas da ilha, Ian Gorst.
A Comissão Europeia pediu “calma” a todos os intervenientes e informou que estão em curso negociações com o Reino Unido.
Nos termos do acordo de parceria que regula as relações comerciais e políticas entre Reino Unido e UE, houve um compromisso de divisão de quotas de pesca, com Bruxelas a concordar com um corte de 25% à quota de pesca em águas britânicas (a UE queria manter o limite atual, Londres queria um corte de 60%).
Foi ainda definido um período de transição até 2026 e renegociações anuais para fixar os totais admissíveis de capturas depois desse prazo.
Segundo o Público, existe ainda a possibilidade de a União Europeia levar a cabo medidas de retaliação, incluindo impor taxas ao peixe exportado pelo Reino Unido, caso este deixe de permitir o acesso previsto às suas águas.
ZAP // Lusa
Que comecem os jogos!