Como as flores vão revolucionar a administração de medicamentos

Dong Wook Kim / Instituto Max Planck

Partículas de óxido de zinco em forma de flor têm apenas três micrómetros de diâmetro.

A forma de uma flor e das suas pétalas transporta medicamentos para partes específicas do corpo e minimiza efeitos secundários. Eis as “rosas do deserto” que permitem “telecomandar” a medicação.

Um novo sistema, que recorre a micropartículas em forma de flor para administrar medicamentos, está a ser tido como revolucionário na medicina de precisão e promete transformar os tratamentos do cancro e das doenças cardiovasculares.

Apelidadas de “rosas do deserto”, estas inovadoras partículas conseguem visar áreas específicas do corpo, e são seguidas através de imagens médicas e guiadas por ultra-sons.

Durante anos, os cientistas procuraram métodos para transportar medicamentos diretamente para partes específicas do corpo. É uma forma de minimizar os seus efeitos secundários, que se manifestam em grande força, por exemplo, em tratamentos oncológicos.

O conceito de “partículas correio” já existia, mas as recentemente desenvolvidas por investigadores da ETH Zurich parecem cumprir, segundo o SciTech Daily, os objetivos mais difíceis de alcançar: absorver um elevado volume da substância ativa, serem facilmente guiadas através da corrente sanguínea e serem rastreáveis através de imagens não invasivas.

Por que é que uma “flor” é mais eficaz?

As pequenas “flores” desenvolvidas pela equipa de Daniel Razansky e Metin Sitti são constituídas por estruturas finas, semelhantes a pétalas, com um a cinco micrómetros de diâmetro — são mais pequenas do que um glóbulo vermelho.

De acordo com o estudo publicado em outubro na Advanced Materials, a forma única destas partículas oferece-lhe duas vantagens fundamentais.

Por um lado, a disposição das pétalas cria uma extensa área de superfície, com espaços de largura nanométrica que funcionam como poros, permitindo-lhes absorver grandes quantidades de substâncias terapêuticas. Por outro, as pétalas dispersam as ondas sonoras e podem ser revestidas com moléculas que absorvem a luz, tornando-as detetáveis através de ultrassons.

“Anteriormente, os investigadores estudavam principalmente pequenas bolhas de gás como método de transporte através da corrente sanguínea utilizando ultrassons ou outros métodos acústicos”, explica Paul Wrede, coautor do estudo.

“Agora demonstrámos que as micropartículas sólidas também podem ser guiadas acusticamente”, permitindo uma maior capacidade de carregamento de fármacos, explica.

Controlar a substância injetada

As primeiras experiências demonstraram a capacidade das partículas de transportar um fármaco contra o cancro e de se manterem estacionárias numa zona específica do sistema circulatório de um rato, utilizando ultrassons focalizados. Ao contrário dos métodos convencionais, este sistema oferece um controlo preciso, garantindo que os medicamentos chegam ao local pretendido com mais eficácia.

“Por outras palavras, não nos limitamos a injetar as partículas e esperar pelo melhor. Na verdade, controlamo-las”, explica Wrede.

As partículas podem ser fabricadas a partir de vários materiais, incluindo óxido de zinco, poli-imida e substâncias compostas.

Os investigadores pretendem agora aperfeiçoar a tecnologia, com mais estudos em animais, antes de explorar aplicações em humanos. Se for bem sucedida, a inovação vai revolucionar os tratamentos de doenças potencialmente fatais, como o cancro e as doenças cardiovasculares.

Tomás Guimarães, ZAP //

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