Faturas que Ventura mostrou no Parlamento não tinham coletes antibala

Mário Cruz / Lusa

O primeiro-ministro, António Costa (D), conversa com o deputado do Chega, André Ventura,

André Ventura mostrou no Parlamento faturas que dizia comprovarem que os agentes policiais compravam coletes antibala do seu próprio bolso. O jornal Público consultou os talões e não era mencionada a compra dos coletes.

Há alguns dias, André Ventura mostrou no Parlamento um conjunto de faturas que alegadamente serviriam de prova de que o primeiro-ministro António Costa mentiu e que, de facto, os polícias e os agentes da GNR compram coletes antibala. No entanto, nas 56 faturas divulgadas a pedido do jornal Público, nenhuma delas mencionava nenhum colete.

As faturas consultadas incluíam a compra de 328 artigos que supostamente foram comprados pela PSP e pela GNR para compensar pela falta de material fornecido pelo Estado português. Além disso, Ventura também referiu que os agentes compraram latas de gás pimenta, mas os talões não corroboram as alegações do líder do Chega.

Dos bens comprados, cerca de 90 são relativos à farda, cujo pagamento é subsidiado (50 euros por mês) pelo Estado. Porta-chaves, porta-algemas, porta-bastão, porta-luvas, fiadores, elásticos, pomadas, lanternas e luvas táticas são alguns dos outros materiais que constam nas faturas. Estas são relativas ao período entre maio de 2017 e novembro deste ano.

Na altura, quando Ventura tocou no assunto das forças policiais colmatarem a falta de material através do seu próprio bolso, Costa reagiu imediatamente: “essa não é a realidade: em matéria de forças de segurança, sugiro que mude de informador porque esse informador é mau”. Dias depois, o deputado único do Chega traria as faturas ao Parlamento, confrontando o primeiro-ministro.

Tendo em conta que os coletes antibala não constavam nas faturas, foi a vez do jornal Público confrontar André Ventura. O assessor do partido respondeu com quatro novas faturas, das quais apenas uma mencionava a compra de coletes à prova de bala. Por sua vez, o assessor do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, disse que “não recebeu até hoje qualquer documento do deputado Ventura”.