Explosões em Kiev e Lviv. Confirmado um morto e vários feridos na capital

Alkis Konstantinidis / Reuters

Ataques aéreos e com mísseis russos atingiram Kiev e outras grandes cidades este sábado, com Moscovo a lançar mais ataques de longo alcance.

No porto de Mariupol, cenário dos combates mais fortes e da pior catástrofe humanitária da guerra, as tropas russas pressionaram os ucranianos, na esperança de compensar o seu fracasso em capturar Kiev.

A situação é muito difícil” em Mariupol, alertou Volodymyr Zelenskyy ao Ukrainska Pravda. “Os nossos soldados estão bloqueados, os feridos estão bloqueados. Há uma crise humanitária. E no entanto, os rapazes estão a defender-se”.

Moscovo disse que os seus aviões de guerra tinham atingido uma fábrica de reparação de tanques em Kiev. Ouviu-se uma explosão e viu-se fumo no distrito de Darnytskyi, no sudeste.

O presidente da câmara disse que pelo menos uma pessoa tinha morrido e que os médicos estavam a lutar para salvar outras, segundo a Reuters.

Os militares ucranianos afirmaram que os aviões de guerra russos que descolaram da Bielorrússia tinham disparado mísseis na região de Lviv, perto da fronteira com a Polónia, e que quatro mísseis de cruzeiro tinham sido abatidos pelas defesas aéreas ucranianas.

Em Mariupol, jornalistas da Reuters nos distritos russos chegaram à siderurgia de Ilyich, uma das duas fábricas de metais onde os defensores resistiram em túneis subterrâneos e bunkers. Moscovo afirmou tê-la capturado na sexta-feira.

A fábrica foi reduzida a ruínas de aço e betão queimado, sem sinais de defensores presentes. Vários corpos de civis estavam espalhados pelas ruas próximas.

O governador da província de Kharkiv no leste disse que pelo menos uma pessoa tinha sido morta e 18 ficaram feridas num ataque de mísseis.

A Rússia garantiu ter atingido uma fábrica de reparação de veículos militares, em Mykolaiv, uma cidade próxima da frente sul da Ucrânia.

Os ataques seguiram-se ao anúncio da Rússia na sexta-feira, de que iria intensificar ataques de longo alcance, em retaliação a atos não especificados de “sabotagem” e “terrorismo”, horas depois de ter sido confirmado o naufrágio do seu navio-almirante do Mar Negro, o Moskva.

Kyiv e Washington dizem que o navio, cujo naufrágio se tornou um símbolo da força ucraniano, foi atingido por mísseis ucranianos. Moscovo diz que se afundou após um incêndio e que a sua tripulação de cerca de 500 pessoas foi evacuada.

Um mês e meio após a invasão da Ucrânia pelo Presidente Vladimir Putin, a Rússia está a tentar capturar território no sul e no leste, depois de se retirar do norte, na sequência de um ataque a Kiev que foi repelido na periferia da capital.

As tropas russas que saíram do norte deixaram para trás cidades repletas de corpos de civis, provas do que o Presidente dos EUA, Joe Biden, chamou “genocídio” — uma tentativa de apagar a identidade nacional ucraniana.

Se Mariupol cair, será a maior conquista da Rússia na guerra até agora. É o principal porto do Donbass, uma região de duas províncias do sudeste da Ucrânia que Moscovo exige ser totalmente cedida aos separatistas.

A defesa da Ucrânia concentra-se em torno de Azovstal, outra enorme siderurgia que ainda não cedeu.

O proprietário de ambas as gigantescas fábricas de aço de Mariupol, o homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov, prometeu reconstruir a cidade. “Mariupol foi e será sempre uma cidade ucraniana“, afirmou o empresário à Reuters.

A Ucrânia diz que, até à data, tem retido os avanços russos noutras regiões de Donetsk e Luhansk, onde pelo menos uma pessoa foi morta em bombardeamentos durante a noite.

Mas um conselheiro de Zelenskyy sublinhou que o país precisava de um fornecimento de armas mais rápido por parte dos seus parceiros da União Europeia.

A Ucrânia precisa de armas. Não dentro de um mês. Agora“, alertou Mykhailo Podolyak numa publicação do Twitter.

A Ucrânia ganhou a vantagem na fase inicial de uma guerra. Tem destacado (com sucesso) unidades móveis armadas com mísseis anti-tanque, fornecidos pelo Ocidente, contra veículos blindados russos.

Mas Putin parece determinado a capturar mais território do Donbass, para reclamar a vitória numa guerra que deixou a Rússia sujeita a sanções ocidentais cada vez mais fortes e com poucos aliados.

Zelenskyy salientou que cerca de 2.500 a 3.000 tropas ucranianas foram mortas até agora, e até 20.000 tropas russas.

Moscovo não deu quaisquer atualizações sobre as suas baixas militares desde 25 de março, quando disse que 1.351 tinham morrido.

As estimativas ocidentais das perdas russas são muitas vezes superiores, enquanto que existem poucas estimativas independentes sobre as perdas da Ucrânia.

A Ucrânia diz que as mortes de civis são impossíveis de contar, estimando pelo menos 20.000 mortos, só em Mariupol.

No total, cerca de um quarto dos ucranianos foram expulsos das suas casas, incluindo um décimo da população que fugiu para o estrangeiro.

Apesar dos ataques russos, num sinal da melhoria da situação em Kiev, as embaixadas italiana e francesa recomeçaram ambas a trabalhar na capital pela primeira vez desde os primeiros dias da guerra, referiram os seus embaixadores.

Forças especiais britânicas treinaram tropas em Kiev

As forças especiais britânicas treinaram tropas locais em Kiev, na Ucrânia, pela primeira vez desde o início da ofensiva militar, a 24 de fevereiro, por parte da Rússia, segundo revelaram comandantes ucranianos ao jornal britânico The Times.

Yuriy Myronenko, pertencente a um batalhão que está em Obolon, a norte de Kiev, explicou ao The Times que soldados das forças especiais foram instruir novos recrutas a usar mísseis antitanque NLAW (Next generation Light Anti-tank Weapon), fornecidos pelo Reino Unido.

Contudo, o jornal citado pela Agência EFE, ressalva que o Ministério da Defesa em Londres não confirmou esta informação, citando o protocolo que não permite comentar operações especiais.

O The Times destaca o facto de esta ser a primeira vez, desde o início da guerra, em que se verifica a presença ativa de soldados britânicos em solo ucraniano, e que esta notícia é publicada numa altura de tensão, no dia em Moscovo proibiu a entrada de Boris Johnson no país.

Alice Carqueja, ZAP //

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