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Exclusividade dos médicos ao SNS “nunca irá passar do papel”, diz ex-ministro da Saúde

Manuel de Almeida / Lusa

O ex-ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes

O antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes considera que a questão da exclusividade dos médicos ao SNS “nunca irá passar do papel”.

Em contexto da pandemia de covid-19, a saúde tem sido um tema bastante discutido nas negociações do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022).

Uma das medidas avançadas pelo Bloco para a fixação de recursos humanos é a dedicação exclusiva para os profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS). No entanto, para Adalberto Campos Fernandes, antigo ministro da Saúde, isto é algo que nunca vai sair do papel.

Uma medida deste género iria apenas “agravar ainda mais o problema”, argumenta o ex-governante, defendendo um modelo de desenvolvimento da carreira.

“Há portugueses que estão com receio de não poder aceder aos cuidados do SNS, há portugueses que estão a optar por ter uma escolha diferente de âmbito privado por razões de liberdade individual, tem que ser visto mas são sinais que merecem atenção”, disse Campos Fernandes em entrevista ao jornal ECO.

“Na área médica, há problemas que se agravaram, mas a nível da enfermagem, a covid ajudou a perceber que as necessidades eram de facto reais”, acrescentou.

O antecessor de Marta Temido entende que, se nada for feito, “podemos ter dificuldades sérias, tendo hospitais e centros de saúde e não ter pessoas para colocar lá dentro”.

Para Campos Fernandes, os agentes políticos dizerem que estão preocupados não é suficiente, uma vez que os portugueses esperam ação.

“Quando olhamos para a questão remuneratória, há enfermeiros que trabalham fora do país por questões estritamente remuneratórias, porque a compensação é mais elevada, mas parte dos enfermeiros mesmo abdicando, se tivesse projeto de diferenciação era capaz de optar por trabalhar em Portugal”, explicou.

“Não é por acaso por dedicação exclusiva para médicos não passou do papel e acredito que nunca irá passar do papel. Iria agravar ainda mais o problema, não tendo o Estado capacidade de resolver problema do ponto vista orçamental iria descapitalizar mais o SNS”, acrescentou.

Na entrevista ao ECO, o ex-ministro da Saúde sublinhou que já se fechou a janela para crises políticas, pelo que o Governo não deverá ter muitas dificuldades no processo do OE.

Adalberto Campos Fernandes realçou ainda que há dois “riscos estratégicos para o país” que são necessários atacar nesta altura, nomeadamente com todos os fundos europeus a que Portugal terá acesso: a dívida pública “que nos afoga” e o “baixo crescimento da economia”.

ZAP //

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