No dia em que ficou decidido quem seria o campeão nacional de futebol deste ano, a campanha eleitoral para as europeias abrandou, com os partidos a terminarem as iniciativas pelo final da tarde.
O cabeça de lista do PS às eleições europeias, Pedro Marques, disse querer fazer na Europa aquilo que o PS fez bem em Portugal, lembrando que foi “difícil” convencer a Europa. “Parece agora muito simples, mas foi muito difícil de fazer e foi muito difícil convencer a Europa que era possível”, disse, referindo-se, nomeadamente, às medidas que permitiram criar emprego e repor rendimentos, num comício, no Centro Cultural de Vila Flor, em Guimarães, no distrito de Braga.
Pedro Marques frisou que o PS conseguiu mostrar que era possível não só à Europa, mas também em Portugal, porque “muitos diziam: ou não fazem nada daquilo que prometeram ou não põem as contas em ordem”.
O comício desta noite contou também com a presença o secretário-geral do partido, António Costa, e dos dirigentes socialistas José Vieira da Silva, que também discursou, e Pedro Silva Pereira, que apenas assistiu às intervenções.
O secretário-geral do PS acusou o cabeça de lista europeu do PSD de ter pedido à Comissão para “pôr Portugal na ordem”, tentando impedir a mudança política iniciada no final de 2015.
“Temos dito muitas vezes que o candidato do PSD e do CDS a presidente da Comissão Europeia tentou aplicar sanções com a força máxima contra Portugal, mas não foi só ele que quis impedir a mudança. Convém não esquecer que o cabeça de lista do PSD, num debate, no Parlamento Europeu, com a nossa deputada Elisa Ferreira, pediu à Comissão que viesse a Portugal impedir a mudança“, referiu. Segundo Costa, Rangel disse que, com essa mudança política, o país “não seria capaz de cumprir os acordos europeus”.
No seu discurso, António Costa voltou a alertar o eleitorado socialista contra os riscos da abstenção, alegando que essa atitude é “entregar a outros o poder democrático de escolher”, mas também se manifestou confiante na vitória do PS nas eleições europeias de 26 de maio.
O ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José Vieira da Silva, disse não ter dúvidas de que a Europa reconhece Portugal como “uma referência”, de tal maneira que foi um português que foi escolhido para liderar o Eurogrupo, o ministro das Finanças, Mário Centeno. “Conseguimos vencer grande parte das batalhas que consideramos prioritárias, aqui no nosso país, mas também na Europa, que acabou por reconhecer que este era um caminho”, sublinhou.
Vieira da Silva frisou que o Governo socialista apresentou “um caminho novo”, porque não desiste, não cede e não é submisso. “Não queremos ir além da troika, queremos fazer diferente da troika”, declarou.
No comício intervieram ainda o presidente da concelhia de Guimarães do PS, Luís Soares, o presidente da federação de Braga, Joaquim Barreto e a candidata independente a eurodeputada Isabel Estrada Carvalhais. Isabel Estrada Carvalhais falou do “lado triste” de uma Europa “sobranceira, de arrogância”, que resulta de uma “aposta errada em políticas ultraliberais, em que o centro são as finanças e não as pessoas”.
Rangel lembra cataplana de Costa na TV
O cabeça de lista do PSD, Paulo Rangel, respondeu às críticas de António Costa à política-espetáculo lembrando a participação do primeiro-ministro num programa televisivo com a família, no qual cozinhou cataplana.
“Tem dito que é contra a política-espetáculo, contra a política feita para as televisões, contra a política de encenação. Há uma coisa que ele a mim não pode dizer, já que está a falar de Paulo Rangel e quer personalizar as coisas: a mim ninguém me viu com a minha família a cozinhar cataplana num programa de televisão”, afirmou o eurodeputado, num encontro com jovens em Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga.
Rangel referia-se à participação do primeiro-ministro no programa matinal da SIC da apresentadora Cristina Ferreira e respondia, em concreto, às críticas que António Costa fez durante a campanha para as europeias à sua viagem de helicóptero sobre as zonas afetadas pelos incêndios de 2017.
“Não estou a criticar ninguém por o fazer, mas não venha dar lições de política-espetáculo quem anda em programas da manhã a cozinhar cataplana e ainda leva a família, não vai sozinho. A mim ninguém me viu a fazer isso. Nem viu, nem vai ver”, assegurou.
No encontro com jovens, Paulo Rangel enalteceu o facto de o PSD ter na sua lista como número dois Lídia Pereira, indicada pela Juventude Social-Democrata, e líder da juventude do Partido Popular Europeu. “Há aqueles que só falam de juventude e há aqueles que dão protagonismo à juventude ao colocarem a Lídia como número dois na lista do PSD”, destacou José Manuel Fernandes.
“Só a esquerda” pode dar uma nova Europa
A cabeça de lista do BE às europeias defendeu que “só a esquerda” pode dar uma nova Europa “às gerações que desconfiam do sentido” seguido, criticando o “festival de hipocrisia” de PS, PSD e CDS-PP sobre orçamentos comunitários.
Conforme é já tradição nas corridas eleitorais do BE, a meio da campanha o partido reúne-se em Lisboa para um “mega-almoço”, que hoje junta cerca de 900 pessoas na Sala Tejo do Altice Arena.
“O apelo que faço hoje, agora que entramos nesta última semana de campanha, o apelo que faço é que quem confiou no Bloco de Esquerda em 2015, quem votou na Marisa Matias em 2016, no dia 26 de maio não fique em casa”, pediu Catarina Martins, que falou antes da primeira candidata bloquista, a eurodeputada Marisa Matias.
A líder bloquista subiu ao palco para pedir o voto dos “pensionistas que em 2015 votaram no BE contra os cortes nas pensões” ou dos “trabalhadores que Passos Coelho prometeu empobrecer”, insistindo no apelo para que vão às urnas no dia das eleições europeias.
“Apelo também àqueles que nunca votaram no BE, que não votaram na Marisa Matias, mas que sabem com quem têm estado ao longo destes anos, sabem quem têm encontrado nas suas lutas, no que conta, sabem que quem tem estado, lado a lado, com cada um, com cada uma é o Bloco de Esquerda”, pediu. Catarina Martins foi perentória no final do discurso: “O voto que conta é o voto no Bloco, é o voto na Marisa Matias, a campeã do clima, a campeã dos direitos humanos”.
O antigo coordenador e fundador do BE Francisco Louçã antecipou “um grande resultado” para o partido nas eleições europeias, contrapondo a alegria e força da cabeça de lista, Marisa Matias, aos “discursos tão sorumbáticos do medo”.
“Agora o que conta mesmo é ter a vontade de falar com as pessoas que nunca votaram no Bloco ou que nunca votaram em nenhuma eleição ou que estão descontentes com esta modorra que se divide entre a emoção do mil milhões de euros de dívida e a vida difícil de quem faz as contas aos euros do seu salário e da sua pensão”, explicou.
Avanços sociais deram-se porque PS “não tinha os votos”
O secretário-geral comunista atribuiu avanços de rendimentos e direitos em Portugal à atuação da CDU porque o Governo minoritário do PS “não tinha os votos” sozinho, nem as “mãos livres”, para a sua habitual política de direita.
“O PS e o seu Governo falam dos avanços que foram alcançados nesta nova fase da vida política nacional dizendo que são conquistas suas, mas a verdade é que muito do que se alcançou começou por ter o seu desacordo, resistência e oposição. O que se avançou avançou-se porque o PS não tinha os votos para, sozinho, impor a política que sempre, ao longo de quatro décadas, fez sozinho ou com o PSD e o CDS”, disse Jerónimo de Sousa.
“São medidas que foram alcançadas por essa razão simples e objetiva de o Governo minoritário do PS não ter as mãos completamente livres para impor a sua vontade. Sim, Governo minoritário do PS e não das esquerdas ou de esquerda, como também se impõe clarificar”, afirmou. O secretário-geral do PCP sublinhou: “ninguém duvide que o que se conseguiu de avanços não existiria hoje se não fosse a iniciativa e a proposta das forças da CDU”.
Na sua intervenção, o cabeça de lista da CDU mostrou-se de “rosto erguido”, orgulhoso do “trabalho inigualável” da coligação e confiante num resultado eleitoral “feito a golpes de vontade” e que, “ao contrário do que alguns gostariam, está longe ainda, muito longe, de estar fechado”.
Nuno Melo quer um CDS “da tolerância”
O cabeça de lista do CDS-PP às europeias, Nuno Melo, assumiu que os centristas querem ocupar o espaço eleitoral à direita, face ao reposicionamento do PSD, e até para ser “tampão” à extrema-direita.
Os centristas assumem-se, afirmou, como um partido da “direita democrática”, da “direita da tolerância”, de centro-direita, em que “gravitam liberais, democratas-cristãos e conservadores” desde a sua fundação, em 1974.
“Nós somos isso tudo”, disse, para depois assinalar, como já tem feito nos discursos da campanha europeia, que o PSD sofreu um reposicionamento “ao centro”, dado que os sociais-democratas dizem que o PSD “não é um partido de direita” e que até Rui Rio, o líder do partido, se assumiu como um político do centro.
E é, por isso, esse espaço de direita e centro-direita que o CDS-PP quer ocupar já nestas europeias, a quatro meses das eleições legislativas, rejeitando qualquer tipo de comparação com a extrema-direita. “Somos de direita com muito orgulho. Não somos é de extrema-direita. Distinguimo-nos e combatemos essa extrema-direita para que a direita que existe em Portugal possa prevalecer nas urnas”, afirmou.
Na prática, trata-se de uma adaptação da frase atribuída a Paulo Portas, o ex-líder do partido, que tinha a máxima “à direita do CDS, uma parede”, para tentar evitar extremismos em Portugal.
O eurodeputado do CDS Nuno Melo atacou o ministro das Finanças por ter dado uma “indicação institucional a Bruxelas da disponibilidade” de Portugal para a criação de “impostos europeus, à margem de qualquer autorização do parlamento”.
“Não compreendemos realmente que, em plena campanha eleitoral” o “ministro socialista Mário Centeno se permita dar indicação institucional, a Bruxelas, da disponibilidade para impostos europeus, à margem de qualquer autorização do parlamento e basicamente impondo a todos os portugueses aquilo que eventualmente os portugueses não querem”, afirmou aos jornalistas.
Aliança quer agência da União Europeia no Porto
O cabeça de lista da Aliança às eleições europeias, Paulo Sande, revelou durante uma ação de campanha, no Porto, que o partido pretende instalar na cidade uma agência ou um órgão da União Europeia.
“Uma das coisas que queremos fazer é garantir que, na próxima legislatura da União Europeia, venha para o Porto, como já devia ter acontecido, uma agência europeia ou um órgão da União Europeia”, afirmou Paulo Sande.
O cabeça de lista, que retomou a campanha eleitoral depois de um acidente de viação, salientou que apesar de não existirem “agências disponíveis”, poderão vir a ser criadas “novas”, colocando a hipótese de serem transferidas “algumas” das agências instaladas noutras cidades, incluindo as duas que estão em Lisboa, para o Porto.
“É uma luta que acho que faz todo o sentido, o país tem de ser mais equilibrado e, portanto, é aqui que isto faz sentido”, disse Paulo Sande, acrescentando que “outras cidades e regiões do país têm de ganhar dimensão e isso passa também pela parte administrativa e pela parte da governação”.
ZAP // Lusa