Europa e EUA ajudam Rússia com milhões de euros em importações de material nuclear

Yuri Kochetkov/EPA

Kremlin

A Federação Russa vendeu cerca de 1,7 mil milhões de dólares em produtos nucleares a empresas nos EUA e na Europa. Dependência dos produtos nucleares russos permite financiar a invasão da Ucrânia.

Os EUA e os aliados europeus estão a importar quantidades elevadas de combustível e material nuclear da Federação Russa, garantindo ao Kremlin centenas de milhões de dólares em receitas muito necessárias para financiar a invasão da Ucrânia.

As vendas — que são legais e não sujeitas a sanções — motivaram alarmes de peritos em não-proliferação, que afirmam que as importações estão a ajudar a financiar o desenvolvimento do arsenal nuclear russo e a prejudicar os esforços para reduzir a capacidade bélica de Moscovo.

A dependência dos produtos nucleares russos, usados na sua maioria em reatores nucleares civis, deixam os EUA e os aliados em risco de escassez energética se o presidente russo, Vladimir Putin, cortar estes fornecimentos. O desafio pode aumentar à medida que estes Estados procuram elevar a produção de eletricidade sem emissões de gases com efeito de estufa para combater as alterações climáticas.

“Temos de dar dinheiro às pessoas que fazem armas? É absurdo”, comentou Henry Sokolski, diretor executivo do Nonproliferation Policy Education Center (Centro de Educação em Política de Não-Proliferação), sediado em Washington.

A Federação Russa vendeu cerca de 1,7 mil milhões de dólares em produtos nucleares a empresas nos EUA e na Europa, segundo informação disponível e analistas do setor.

Apesar de as sanções a Moscovo terem aumentado — bloqueando importações de petróleo, gás, vodka ou caviar —, as exportações russas de material nuclear cumprem um papel chave para manter os reatores nucleares a funcionar. A Federação Russa forneceu aos EUA cerca de 12% do seu urânio no ano passado, segundo a Agência de Informação de Energia norte-americana, e a Europa obteve 17%.

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu pela primeira vez em março que as sanções ocidentais contra o país estão a produzir efeitos.

A dependência da energia nuclear deve aumentar à medida que os Estados adotam alternativas aos combustíveis fósseis. As centrais nucleares não produzem emissões, mas peritos alertam que a energia nuclear vem com o risco da fusão do reator e o desafio de armazenar de forma segura o lixo radioativo.

Existem cerca de 60 reatores em construção no mundo e 300 em fase de planeamento.

Muitos dos 30 Estados que geram energia a partir de 440 centrais estão a importar materiais radioativos da empresa estatal russa Rosatom.

Esta, que assegura estar a construir 33 centrais em 10 Estados, juntamente com as suas filiais, exportou cerca de 2,2 mil milhões de dólares em bens e materiais relacionados com a energia nuclear em 2022, segundo informação analisada pelo centro de reflexão britânico Royal United Service Institute, que aliás admite que os valores sejam mais elevados, dada a dificuldade em identificar estas exportações.

ZAP // Lusa

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