Covid: professores com muitos problemas. Alunos também, mas “prontos para outra”

Manuel de Almeida / Lusa

Metade dos docentes apresenta problemas psicológicos, tal como um terço dos alunos. Cenário dos professores é o mais preocupante.

O Ministério da Educação organizou pela primeira vez um estudo para avaliar a saúde mental de alunos e professores.

O estudo ‘Observatório Escolar: Monitorização e Ação | Saúde Psicológica e Bem-estar’ obteve respostas de cerca de 8 mil alunos, entre os 5 e os 18 anos. Participaram quase 1.500 professores, na maioria mulheres (81,8%). Foi realizado entre 22 de Fevereiro e 8 de Março.

O maior impacto da COVID-19 verifica-se nos professores. Margarida Gaspar de Matos, coordenadora do estudo, indicou aos jornalistas que “pelo menos metade dos docentes acusa sinal de sofrimento psicológico”.

E, na comparação com a vida pré-pandemia, 70% dos professores sentem que a sua vida com os amigos ficou pior ou muito pior por causa da pandemia; e a vida escolar ficou pior ou muito pior para 68,6% dos docentes inquiridos.

“Um professor perturbado com 30 alunos à frente não vai conseguir fazer um bom serviço. Nem por ele, nem pelos alunos”, avisa a psicóloga e professora na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa .

Muitos alunos também apresentam sinais de problemas psicológicos: “Cerca de um terço dos alunos acusa sinais de sofrimento psicológico e défice de competências socio-emocionais em pelo menos uma das medidas consideradas, apresentando sinais de sofrimento psicológico a exigir atenção”.

Também cerca de um terço (34,3%) considera que a vida na escola ficou pior ou muito pior por causa do coronavírus.

E, entre outros números, há um dado revelador: 20% dos alunos têm dificuldade em fazer amigos. Quase 43% ficam muito tensos quando estudam para testes.

É no 2.º ano de escolaridade que se encontram mais alunos com problemas emocionais e de relacionamento com os colegas. O stress, a ansiedade e a depressão são mais habituais no 12.º ano.

No entanto, a coordenadora não se revela muito preocupada: “Penso que os alunos, tirando uma minoria, em pouco tempo estarão prontos para outra. Estarão recuperados”.

No geral, a psicóloga Margarida Gaspar de Matos apela à relativização: “Não é uma catástrofe nacional. É um período de vulnerabilidade”.

O Ministério da Educação vai tentar melhorar este cenário com a contratação de 1.100 técnicos especializados (psicólogos, na maioria).

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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