A estratosfera tem um segredo. Vai dizer-nos quando sofreremos a próxima seca

Os níveis de ozono na estratosfera podem ajudar a prever com maior antecedência a meteorologia, permitindo-nos estar mais preparados para secas, por exemplo.

Mais de 10.000 metros acima da Terra fica a estratosfera. Apesar da enorme distância que a separa, é possível ouvir os seus segredos. É esta a convicção do investigador italiano Gabriel Chiodo do ETH Zurich.

A sua ideia para melhorar as previsões meteorológicas passa por simplesmente olhar para o céu. No entanto, Chiodo não se vai limitar a olhar para as nuvens e dizer que vai chover se o seu estiver cinzento. O investigador quer olhar para o interior da estratosfera, que vai até 50.000 metros da superfície terrestre.

A sua investigação sugere que o ozono nas camadas atmosféricas localizadas acima do Ártico tem uma influência decisiva no clima em toda a Europa.

Mais especificamente, quando os níveis desse gás caem, a chuva é escassa. Essa correlação já tinha sido observada, “o que não sabíamos é que as duas coisas estavam associadas”, disse Chiodo ao El Confidencial.

O mais recente estudo do cientista italiano, publicado em julho na revista Nature Geoscience, mostra que a relação não é apenas estatística, mas também causal.

Os resultados do estudo mostram que a descida nos níveis do ozono “resultou na escassez de chuvas em quase toda a Europa, principalmente na primavera”.

Quando a camada de ozono é reduzida no hemisfério norte, tornando-se mais fina, ela absorve menos radiação ultravioleta do Sol, o que se traduz num arrefecimento da estratosfera. Essa anomalia afeta o padrão de circulação dos ventos ao redor do polo, conhecido como vórtice polar, explica o El Confidencial.

“À medida que a estratosfera arrefece, essa circulação é reforçada, o vórtice é acelerado e isso afeta a troposfera” (a camada atmosférica que fica logo abaixo da estratosfera). Assim, “as tempestades do Atlântico não chegam à Europa tão diretamente”.

Tendo isto em conta, Chiodo acredita que é possível aumentar a precisão das previsões para uma escala sazonal, de um ou dois meses. Os atuais modelos apenas conseguem antecipar o tempo com duas ou três semanas de antecedência.

Com a ajuda do modelo de Chiodo, podemos prever com maior antecedência quando é que seremos afetados por uma nova seca, como a deste ano, que deixou em risco várias barragens portuguesas e espanholas, por exemplo. Ter uma bola de cristal que nos permite saber destes fenómenos com mais tempo pode ajudar a precavê-los.

Daniel Costa, ZAP //

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