Desde o início da pandemia até ao final de julho, o Ministério da Saúde gastou mais de 218 milhões de euros em testes PCR feitos em laboratórios privados.
O valor foi avançado pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) ao jornal Público.
“O valor faturado entre Março de 2020 e Julho de 2021, conforme reportado pelo Centro de Contacto e Monitorização do Serviço Nacional de Saúde, totaliza 218.286.208 euros, correspondendo a um total de 3.365.759 requisições faturadas“, informa a ACSS.
As análises clínicas representaram no ano passado mais de metade (52%) da despesa do setor convencionado com o SNS.
“Face do elevado número de testes ao SARS-CoV-2 realizados”, esta foi a única área em que os encargos aumentaram em comparação com 2019.
Para pagar a despesa de 218 milhões seria necessário gastar, por exemplo, toda a receita obtida com taxas moderadoras no SNS o ano passado (99,6 milhões de euros) e ainda uma parte significativa dos 178 milhões arrecadados em 2019.
Embora o valor fornecido pela ACSS não englobe os gastos relativos ao mês de agosto, o jornal Público calcula que o Estado terá que desembolsar pelo menos mais 7,2 milhões de euros pelos PCR realizados nesse mês.
“Foram realizados até ao dia 30 de agosto de 2021 um total de 17.002.403 testes de diagnóstico à covid-19. Desses, 12.867.016 foram RT-PCR e 4.135.387 foram testes rápidos de antigénio de uso profissional”, precisa, por sua vez, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
“Foram realizados através de uma rede de 163 laboratórios, dos quais 42 pertencem ao SNS (realizaram 39% do total), 87 são privados (50,7% dos testes) e 34 pertencem à academia ou a outras instituições (10,3% dos testes)”, acrescentou o INSA
Desde o início da pandemia, em março do ano passado, o preço que o Estado paga pelos testes moleculares aos privados tem vindo a descer. Inicialmente era 87,95 euros por cada teste, mas em setembro desse mesmo ano já tinha chegado aos 65 euros.
Tiago Guimarães, presidente do Colégio de Patologia Clínica da Ordem dos Médicos e diretor do serviço de Patologia do Hospital de S. João considera que os laboratórios privados ganharam muito dinheiro com os PCR.
O patologista lamenta que a capacidade dos hospitais tenha sido subaproveitada: “Relativamente aos testes e análises ouve-se o INSA e a Associação Nacional dos Laboratórios Clínicos (ANLC), que é um lobby poderoso. Os hospitais ficam numa terra de ninguém. Não há uma estratégia conjunta para os laboratórios hospitalares a nível nacional”.