Tesla

Um tribunal norte-americano condenou a Tesla a pagar mais de 200 milhões de euros devido a um acidente com o sistema de condução autónoma da marca de veículos elétricos de Elon Musk. O julgamento revelou ainda “táticas chocantes” da empresa, que ocultou provas cruciais — que a defesa conseguiu mostrar.
Um júri de Miami decidiu que a Tesla foi parcialmente responsável por um acidente mortal na Florida, que envolveu a sua tecnologia de assistência à condução Autopilot, e condenou a empresa de Elon Musk a pagar às vítimas mais de 240 milhões de dólares (cerca de 207 milhões de euros) em indemnizações.
O júri federal considerou que a Tesla teve uma responsabilidade significativa no acidente, porque a sua tecnologia falhou, e que nem toda a culpa pode recair sobre um condutor imprudente — mesmo que este tenha admitido ter-se distraído com o telemóvel. antes de embater num jovem casal que estava a observar as estrelas.
A decisão surge numa altura em que Musk tenta convencer os americanos de que os seus carros são suficiente seguros para circular sem condutor, enquanto prepara o lançamento, nos próximos meses, do seu serviço de táxis autónomos Robotaxi em várias cidades do país.
A decisão põe fim a um caso que se arrastou durante quatro anos, notável não só pelo resultado mas por ter sequer chegado a julgamento, diz a NPR.
Nos últimos anos, inúmeros casos semelhantes contra a Tesla foram arquivados e, quando tal não aconteceu, foram resolvidos pela empresa com acordos extra-judiciais, para evitar a exposição pública de um julgamento.
“Isto vai abrir a Caixa de Pandora“, considera Miguel Custodio, advogado especializado em acidentes rodoviários, que não esteve envolvido no caso. “Vai encorajar muitas pessoas a avançar para tribunal“.
O julgamento incluiu também acusações chocantes dos advogados da família da falecida Naibel Benavides Leon, de 22 anos, e do namorado, Dillon Angulo, que ficou ferido no acidente.
Os advogados alegaram que a Tesla escondeu ou perdeu provas fundamentais, incluindo dados e vídeos gravados segundos antes do acidente. Após estas provas terem sido apresentadas em tribunal, a defesa da Tesla diz ter “cometido um erro” e que “honestamente não pensava que estivessem lá“.
A Tesla já foi criticada anteriormente por ser lenta a fornecer dados cruciais aos familiares de outras vítimas de acidentes com Tesla, acusações que a empresa negou.
Neste caso, os requerentes mostraram que a Tesla sempre teve as provas, apesar das suas negações repetidas, contratando um perito forense em dados que as descobriu.
“O veredicto de hoje está errado”, disse a Tesla em comunicado, “e só serve para atrasar a segurança automóvel e pôr em risco os esforços da Tesla e de toda a indústria para desenvolver e implementar tecnologia que salva vidas”.
Segundo a defesa, que adiantou que vai recorrer da sentença, os requerentes inventaram uma história “culpando o carro quando o seu condutor, desde o primeiro dia, admitiu e aceitou a responsabilidade“.
Para além de uma indemnização punitiva de 200 milhões de dólares, o júri condenou a Tesla a pagar 43 dos 129 milhões pedidos pela família da vítima em danos compensatórios pelo acidente, elevando o total para 243 milhões de dólares.
“É um valor elevado, que vai enviar ondas de choque para o resto da indústria“, diz o analista financeiro Dan Ives. “Este não é um bom dia para a Tesla”.
“Finalmente descobrimos o que aconteceu naquela noite, que o carro estava mesmo defeituoso”, disse Neima Benavides, irmã da vítima. “Foi feita justiça“.