Não tinha formação em matemática, e começou por ser mágico infantil. Mais tarde, 100 anos e 100 livros depois, é recordado como como um dos mestres dos puzzles e paradoxos.
“Começou e terminou com magia”. Mas, pelo meio, o americano Martin Gardner teve uma carreira editorial de 80 anos como escritor e jornalista, e publicou mais de 100 livros.
Quem o conta é a Scientific American (SA), onde foi colunista, em entrevista ao professor de matemática e grande fã, Colm Mulcahy.
Foi também através de uma coluna na SA, “Mathematical Games”, que fascinou milhares de leitores ao longo das décadas — hoje, 110 anos depois do sei nascimento, o seu legado continua a juntar matemáticos, artistas e fãs de puzzles.
O que o caracterizava era a forma como explicava fenómenos matemáticos de uma forma acessível a qualquer leitor.
Exemplo disso é um artigo que data de 1957 em que levanta alguns paradoxos matemáticos de uma forma quotidiana e com recurso a perguntas como “qual seria a probabilidade de, num grupo de 24 pessoas, duas ou mais terem nascido no mesmo dia do mesmo mês?”.
A estas questões, respondia frequentemente com curiosidades: “Pesquisei os aniversários dos 33 presidentes dos EUA e tenho o prazer de informar que eles obedeceram à lei da média. Dois presidentes tinham a mesma data de aniversário: James Polk e Warren Harding nasceram a 2 de novembro”.
Gardner “não tinha o perfil elevado do seu contemporâneo Richard Feynman ou do seu amigo Isaac Asimov, e não tinha os instintos de relações públicas de Salvador Dalí, que o procurou [para discutir formas quadridimensionais], ou de Steve Jobs“, diz Mulcahy.
No entanto, garante que “o seu legado ainda pode ultrapassar o deles“.
Uma das suas paixões eram os puzzles, e fazia muitos em 3D, com “formas estranhas”. Mulcahy recorda-se de alguns, e da paixão do matemático pelas formas geométricas: havia um que “tinha uma imagem na capa daquilo a que os matemáticos chamam um toro, a forma de um donut ou de um bagel.
A pergunta do Martin era: Quantas peças se podem obter cortando-o três vezes?.
Atualmente, sabe-se a resposta através de uma fórmula geral, disponível até automaticamente online para qualquer número de cortes, mas “quando ele fez esta pergunta nos anos 50, era uma questão totalmente nova”, explica o professor.
Gardner “tinha alguns grandes quebra-cabeças. Não eram todos da sua autoria, mas ele era muito bom a dar crédito a ideias de outras pessoas e, à medida que se tornava famoso, as pessoas enviavam-lhe puzzles e ele publicava-os”, conta Mulcahy.
Mas mais tarde, quando se tornou respeitável na comunidade matemática, não era só curiosidades que recebia: os colegas investigadores “enviavam-lhe coisas que eram novidade para o mundo”, de que são exemplo os “azulejos de Penrose”, que permitem desenhar padrões infinitos, ou os primeiros fractais (padrões que se repetem infinitamente) inventados por um homem, Benoit Manelbrot.
Essencialmente, o que diferenciava Gardner era a sua capacidade de inventar problemas e saber descrevê-los de forma engraçada e acessível, explica Mulcahy: “Os matemáticos que não são criativos, vão apenas ensinar cálculo e fazer coisas de adultos, e eu não quero divertir-me com eles”.
Uma pequena gralha: não é “Science American” mas sim Scientific American.
Caro leitor,
Obrigado pelo reparo, está corrigido.