Os planos de Pedro Sánchez para formar governo parecem estar a desmoronar-se. O PSOE ainda não chegou a acordo com o Unidas Podemos e a abstenção do PP e do Ciudadanos parece longe de se concretizar.
Espanha vive um verdadeiro impasse político e arrisca-se a ter que fazer novas eleições caso os partidos não cheguem a um consenso. O líder do PSOE, Pedro Sánchez, sabia qual era o seu plano e procurava reunir o apoio do Unidas Podemos para tentar rondar a maioria simples numa segunda volta. No entanto, a coligação ainda não foi alcançada, devido às exigências da extrema-esquerda.
Pablo Iglesias, do Podemos, quer cinco ministérios e uma vice-presidência de cariz social, mas Pedro Sánchez recusa-se a dar lugares-chaves no Governo. Depois de três meses de negociações, o ponto de situação mantém-se o mesmo.
O debate desta segunda-feira, que serviria para tentar reunir apoio para uma coligação, acabou por afastar ainda mais o PSOE e o Podemos. Os dois lideres partidários protagonizaram uma troca de argumentos intensa, com Iglesias a acusar Sánchez de não se ter esforçado para chegar a uma acordo. O político de extrema-esquerda reiterava: o Unidas Podemos quer ter um papel relevante no Governo — algo que Sánchez resiste em aceitar.
“Não renuncio a entender-me com o Unidas Podemos, mas se não chegamos a um acordo, qual é a solução? Instalar um bloqueio político?”, disse Sánchez, citado pelo Observador. O atual presidente usou a pressão das eleições antecipadas para tentar dissuadir os outros partidos a chegarem a um consenso, mas a estratégia acabou por não resultar.
Pablo Iglesias não teve papas na língua e defendeu que Pedro Sánchez estava farto de inventar desculpas para não chegar a um acordo.
“A primeira foi que não somamos se fizermos um Governo de coligação. Disseram-nos que o nosso programa é muito radical e moderámo-lo. A terceira desculpa foi a Catalunha e dissemos que não havia linhas vermelhas da nossa parte. A quarta desculpa foi um veto à minha pessoa, algo inédito. Creio que não minto se disser que a nossa resposta vos surpreendeu e vos deixou sem desculpas”, disse Iglesias.
Portugal como exemplo
“A cooperação existe em Portugal, a cooperação existe na Dinamarca, a cooperação existiu nos últimos 12 meses em Espanha e alcançámos em conjunto muitas coisas”, disse Sánchez no debate de investidura, tentando reunir esforços para um acordo com a extrema-esquerda.
O candidato do PSOE fez questão de agradecer publicamente a decisão que o líder do Unidas Podemos tomou na passada sexta-feira de deixar de exigir fazer parte de um eventual futuro Governo de coligação, posição que desbloqueou as negociações entre as duas partes.
Para ser investido na terça-feira, Sánchez necessitaria dos 123 votos do PSOE, dos 42 votos do Unidas Podemos e de outros pequenos partidos regionais, uma opção praticamente afastada, visto não haver ainda acordo com a extrema-esquerda.
Mas Pedro Sánchez espera que até quinta-feira possa chegar a um compromisso com o Unidas Podemos que lhe permita ser investido, 48 horas depois da primeira votação, quando já só precisa de ter mais votos a favor do que os contra a sua recondução.
Nas legislativas realizadas em 28 de abril último, o PSOE obteve 123 deputados (28,68% dos votos), o PP (Partido Popular, direita) 66 (16,70%), o Cidadãos (direita liberal) 57 (15,86%), a coligação Unidas Podemos 42 (14,31%) e o Vox (extrema-direita) 24 (10,26%), tendo os restantes deputados sido eleitos em listas de formações regionais, o que inclui partidos nacionalistas e independentistas.
No caso de não conseguir ser investido esta semana, haverá um período de dois meses para se tentar encontrar uma solução para a situação de impasse, antes de serem marcadas novas eleições.
Direita não colabora
Além de tentar um acordo com a esquerda, Sánchez também procurou o apoio da direita. O candidato do PSOE pediu insistentemente ao PP e ao Cidadãos para se absterem, para assim não depender dos independentistas catalães para ser investido.
“Não lhe peço que se abstenha de forma gratuita”, disse o chefe de Governo de gestão ao líder do PP, Pablo Casado, que recusou qualquer entendimento, porque Pedro Sánchez “não é uma pessoa em quem se possa confiar“, sendo um “prolongamento” do projeto de rutura do país defendido pelos independentistas.
Perante a insistência em abster-se, o líder do Cidadãos, Albert Rivera, também sublinhou que o seu partido ia votar “não” com as duas mãos: “não ao programa de Sánchez e não à equipa que vai executar o programa de Sánchez”, disse.
Por seu lado, Pablo Iglesias não gostou das insistências de Sánchez a pedir a abstenção da direita, tendo ironizado e pedido, “por favor”, ao candidato socialista para não pedir também a abstenção ao Vox.
ZAP // Lusa