“Implosão catastrófica” do submarino Titan. Confirmada morte dos passageiros (que sabiam que podia “ser o fim”)

OceanGate

Titan, o submarino da OceanGate desaparecido numa visita ao Titanic

A Guarda Costeira norte-americana anunciou hoje ter encontrado um campo de destroços perto do Titanic, quando os socorristas procuram o submersível desaparecido com cinco pessoas a bordo.

Um robô submersível operado remotamente (ROV) descobriu destroços, próximo do local de naufrágio do Titanic, ligados ao submarino desaparecido no domingo.

A descoberta foi revelada no Twitter, sem mais detalhes, pela Guarda Costeira norte-americana, que agendou para as 20h de hoje uma conferência de imprensa para “discutir os achados do ROV“.

Na conferência de imprensa, um porta-voz da Guarda Costeira confirmou a morte dos passageiros e apresentou “sentidas condolências às suas famílias”.

De acordo com o mesmo porta-voz, entre os destroços encontrados foram identificados “cinco fragmentos muito concretos” que pertencem indubitavelmente ao Titan, e que o aparelho terá sofrido uma “implosão catastrófica“.

A OceanGate, a empresa que promoveu a viagem, acabou por confirmar, em comunicado, que os cinco passageiros morreram antes de a Guarda Costeira norte-americana o ter anunciado.

“Consideramos neste momento que o nosso patrão Stockton Rush, Shahzada Dawood e o seu filho Suleman, Hamish Harding e Paul-Henri Nargeolet estão infelizmente mortos“, adiantou a empresa no seu comunicado.

A bordo do submersível que não estava certificado estava o bilionário e aviador britânico Hamish Harding, de 58 anos, presidente da Action Aviation, empresa que oferece uma gama variada de serviços na área da aviação de negócios.

Entre os passageiros estava também Stockton Rush (61 anos), CEO fundador da própria OceanGate, empresa fundada em 2009 e especializada na organização de expedições turísticas a locais de naufrágios e desfiladeiros a grande profundidade — um projeto que Rush compara à indústria emergente de turismo espacial.

O ex-comandante da Marinha Francesa durante 25 anos, piloto de submersível e mergulhador experiente Paul Henry Nargeolet (77 anos) também seguia a bordo.

No interior do submergível encontravam-se ainda dois cidadãos paquistaneses, Shahzada Dawood (48 anos) e o filho Sulaiman (19 anos), membros de uma das mais abastadas famílias daquele país.

“Estes homens eram verdadeiros exploradores que compartilhavam um distinto espírito de aventura e uma profunda paixão por explorar e proteger os oceanos do mundo”, aponta a OceanGate em comunicado.

“Os nossos corações estão com essas cinco almas e com todos os membros das suas famílias durante este período trágico”, refere ainda a empresa, lamentando “a perda de vidas e a alegria que eles trouxeram para todos que conheciam”.

A OceanGate agradece ainda os esforços realizados nas buscas com “amplos recursos” e considera que é “uma altura muito triste para toda a comunidade de exploradores“.

Passageiros do Titan assinaram renúncia que alertava para risco de morte

Um ex-passageiro do Titan que fez a viagem turística em 2022, revela à BBC que os cinco homens que morreram tiveram que assinar um documento de renúncia de responsabilidade da empresa que fala em morte três vezes na primeira página.

“Assina-se uma renúncia massiva que lista de uma maneira a seguir a outra que se pode morrer na viagem“, explica Mike Reiss, um escritor e produtor em Nova Iorque que trabalhou na série de animação “The Simpsons”.

Mencionam a morte três vezes na página um, então nunca está longe da tua mente”, nota Reiss que confessa que quando entrou no submersível, em 2022, pensou que podia “ser o fim”.

“Ninguém que está nesta situação é apanhado de surpresa. Todos sabem no que se estão a meter“, aponta ainda.

O escritor considera que se trata “realmente de exploração”. “Não são férias. Não é busca de emoções. Não é paraquedismo. São exploradores e viajantes que querem ver alguma coisa”, nota.

Reiss diz que fez três viagens com a OceanGate ao fundo do mar, uma ao Titanic e outras duas na costa de Nova Iorque, e que em todas se perderam as comunicações.

“Não quer dizer que este é um navio de má qualidade ou algo assim: é apenas uma nova tecnologia, e eles estão a aprender à medida que avançam“, diz Reiss, apontando que é mais ou menos como o que aconteceu com os “primeiros dias do programa espacial”.

Esta quinta-feira, numa altura em que se estimava que o oxigénio a bordo do submersível já se teria esgotado, a Guarda Costeira norte-americana, apoiada por vários aviões e navios, intensificou as buscas para tentar resgatar os cinco tripulantes.

As autoridades esperavam que os sons subaquáticos, que continuvam a ser monitorizados, pudessem ajudar a restringir as operações de busca, cuja área de cobertura foi expandida para vários milhares de quilómetros.

O submarino, operado pela empresa turística OceanGate Expeditions, desapareceu sem explicação este domingo de manhã, no Atlântico Norte, quando se dirigia ao local do naufrágio do Titanic. O último contacto com o submersível ocorreu cerca de uma hora e 45 minutos após a embarcação ter submergido.

As buscas decorreram a profundidades de quatro mil metros e estenderam-se por uma vasta zona de vinte mil quilómetros quadrados perto da ilha da Terra Nova.

OceanGate

Localização do naufrágio do Titanic

Com uma lotação máxima de cinco pessoas, o submarino leva habitualmente o piloto, três convidados e o que a empresa chama de “especialista em conteúdo”.

Os clientes não precisam de qualquer experiência prévia de mergulho, mas existem “algumas exigências físicas, como ser capaz de embarcar em pequenos barcos em mares agitados.” Um mergulho completo até o naufrágio, incluindo a descida e a subida, leva cerca de oito horas.

O Titanic, o maior navio da sua época, atingiu um iceberg na sua viagem inaugural de Southampton a Nova Iorque em 1912. Dos 2.200 passageiros e tripulantes a bordo, mais de 1.500 morreram.

ZAP // Lusa

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