Submarino do Titanic é pilotado com comando de consola. OceanGate sabia dos perigos “catastróficos” da missão

OceanGate

Submarino turístico Titan da OceanGate

Em 2018, a empresa foi avisada várias vezes dos problemas no design do submarino, mas recusou certificar o Titan com uma agência especializada.

Vários anos antes da visita aos destroços do Titanic num submarino, a OceanGate foi avisada dos riscos que esta missão acarretava. Em Janeiro de 2018, o diretor de operações marinhas da empresa, David Lochridge, escreveu um relatório que apontava que o submarino precisava de mais testes e que representava um perigo potencial para os passageiros quando chegava a “profundidades extremas”.

Um porta-voz da OceanGate recusou comentar os avisos com cinco anos sobre os perigos da missão, relata o The New York Times.

Em documentos de tribunal, Lochridge afirma que recomendou que a empresa fizesse uma certificação com uma agência especializada, mas a OceanGate “não estava disposta a pagar” por este procedimento. Os documentos foram divulgados no âmbito de um processo que a OceanGate abriu contra Lochridge em 2018, acusando-o de partilhar informações confidenciais da empresa.

A defesa de Lochridge alegou que a janela de exibição que permite aos passageiros ver fora do submarino só estava certificada para funcionar em profundidades até aos 1300 metros, muito abaixo dos quase 4000 metros até onde vão as missões do Titanic, e que a empresa estava a esconder esta informação dos passageiros.

Lochridge acabou por ser despedido e a OceanGate defendeu-se dizendo que não é um engenheiro e que estava a recusar aceitar as informações da equipa de engenharia da empresa. As duas partes chegaram a acordo em tribunal em 2018.

Dois meses depois do relatório de Lochridge, a OceanGate recebeu uma carta com avisos semelhantes assinada por 38 especialistas, que informaram o chefe executivo Stockton Rush dos problemas “catastróficos” que podiam surgir da abordagem “experimental” da empresa.

A carta considera que o marketing da missão Titan feito pela OceanGate tem sido “no mínimo, enganador” por alegar que o submarino cumpria os critérios de segurança de uma agência chamada DNV, mesmo sem haver planos para que o submarino fosse formalmente certificado pela agência.

Will Kohnen, o presidente do comité que escreveu a carta, afirma que Rush lhe telefonou depois para lhe dizer que os critérios de segurança da indústria estavam a estagnar a inovação.

Uma publicação de 2019 num blog da empresa também fez argumentos semelhantes, dizendo que o submarino Titan era tão inovador que seriam precisos anos até ser certificado pelas agências reguladoras.

Ao contrário dos barcos, os submarinos são pouco regulados, especialmente quando operam em águas internacionais. Dado que o Titan é carregado num navio canadiano e é depois largado no Oceano Atlântico, não precisa de ser registado em nenhum país e seguir regras específicas.

Têm também sido levantadas questões sobre o design do submarino, que é pilotado com um comando de videojogos, especificamente um F710 Wireless Gamepad da Logitech, que custa 40 dólares e funciona com duas pilhas. O botão de arranque do Titan também pode ser comprado na Amazon por 15,49 dólares, escreve o Jalopnik.

Os passegiros têm também de assinar um documento antes da viagem que especifica que o Titan é um submarino “experimental que não foi aprovado ou certificado por nenhum órgão regulador e pode resultar em ferimentos, deficiências, traumas emocionais ou morte”.

A OceanGate fez duas expedições ao Titanic antes da actual, em 2021 e 2022, que já apresentaram alguns problemas. Na viagem de 2021, o submarino teve problemas técnicos com a bateria e teve de ser manualmente preso à plataforma elevatória.

Adriana Peixoto, ZAP //

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