É a “conspiração do silêncio”: há problemas sérios e até sistémicos no país, mas a campanha eleitoral pouco ou nada fala sobre isso.
23 de Maio de 2024: Rushi Sunak anuncia eleições antecipadas no Reino Unido. Sob chuva forte, e “abafado” por uma música associada ao rival Partido Trabalhista, aquele momento do ainda primeiro-ministro fazia antever uma campanha eleitoral agitada.
Agitada está a ser. Útil e produtiva, talvez não.
As eleições são já nesta quinta-feira, dia 4 de Julho, e pouco ou nada se tem falado sobre os problemas sérios e até sistémicos no país, ao longo destas (poucas) semanas.
Como escreve Jack Blanchard no Politico, ninguém repara que o Reino Unido está em crise. Se olharem só para a campanha eleitoral, nem se repara nisso.
Esses problemas sistémicos substanciais têm sido amplamente ignorados durante a campanha eleitoral.
O entusiasmo é à volta de outros aspectos: escândalos, falhas políticas ou o “artista” Nigel Farage a preencher manchetes.
No meio desse espectáculo, os problemas mais profundos e duradouros da nação continuam sem resposta.
No topo da lista surge, obviamente, a economia. Tem estado praticamente estagnada, com um crescimento negligenciável ou negativo, agravado pelo aumento dos pagamentos de juros da dívida que impedem qualquer potencial para investimentos substanciais em serviços públicos essenciais.
As estratégias fiscais do governo empurraram a tributação para níveis quase recordes.
Há escalada no custo de vida, altos custos de energia e inflação – a guerra na Ucrânia não é um pormenor.
E os programas eleitorais dos partidos nem sugerem reformas económicas substanciais ou políticas para recuperar o crescimento do país.
É uma espécie de “conspiração de silêncio” entre os principais partidos, como descreveu Paul Johnson, director do Instituto de Estudos Fiscais.
A saúde também está sob pressão: está a decorrer uma mudança demográfica que aumenta a procura sobre o Serviço Nacional de Saúde, onde faltam recursos.
Entre os problemas mais graves também estão: crise na habitação, nas prisões e de financiamento do ensino superior.
Falta financiamento a serviços essenciais como cuidados de saúde mental e apoio a necessidades especiais; as despesas de bem-estar social disparam.
Além disso, o compromisso de alcançar emissões zero de carbono nos próximos 25 anos apresenta outro desafio custoso que não foi devidamente planeado nas discussões políticas.
Os dois maiores partidos, o Conservador e o Trabalhista, são acusados de apresentarem projecções excessivamente optimistas, e sem estratégias claras para implementar as mudanças necessárias. Faltam planos económicos realistas.
Com tudo isto, continua-se a prever uma maioria história dos trabalhistas; mas no geral, fica a sensação de que há milhões de eleitores desligados da campanha – porque estão desiludidos com as opções que têm.