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Dinamarca vai deitar abaixo a estátua de uma sereia. É demasiado feia (e pornográfica)

Jan Jeppesen / Amagerliv

Den Store Havfrue, “A Grande Sereia”

Estalou a controvérsia na Dinamarca sobre o destino de uma estátua de sereia que vai ser afastada dos olhos do público — depois de ter sido descrita como “feia e pornográfica” e “o sonho erótico de um homem sobre como uma mulher deveria ser”.

A agência dinamarquesa para palácios e cultura estará a considerar a remoção da a estátua Den Store Havfrue (a Grande Sereia) do Forte de Dragør, que está instalada nas antigas fortificações marítimas de Copenhaga, por “não se alinhar com o património cultural do marco histórico de 1910”.

Mathias Kryger, crítico de arte do Politiken, classificou a estátua, com 4 por 6 metros e 14 toneladas, como “feia e pornográfica” — e esta é uma das críticas mais simpáticas que tem recebido.

A sacerdote e jornalista Sorine Gotfredsen escreveu no jornal Berlingske que “erguer uma estátua do sonho erótico de um homem sobre como uma mulher deveria ser dificilmente promoverá a aceitação de muitas mulheres dos seus próprios corpos.”

“É verdadeiramente edificante que muitos considerem a estátua vulgar, não poética e indesejável, porque estamos a sufocar com corpos opressivos no espaço público.”

O autor da escultura, Peter Bech, diz que não compreende as críticas, afirmando que os seios da figura de pedra são simplesmente “de tamanho proporcional” à sua escala.

Segundo o The Guardian, muitos dinamarqueses consideram que as críticas refletem as atitudes da sociedade em relação aos corpos das mulheres em geral – e não de forma positiva. Para Aminata Corr Thrane, editora do Berlingske, o escrutínio dos seios da sereia equivalia a humilhação corporal.

“Os seios femininos nus têm de ter uma forma e tamanho académicos específicos para poderem aparecer em público?” questionou.

Realçando que a Den Store Havfrue era “possivelmente um pouco menos nua” do que a sua famosa contemporânea pequena em bronze e granito, a Pequena Sereia, Corr Thrane acrescentou: “Por outro lado, ela tem seios maiores, e é provavelmente aí que reside o problema“.

“Talvez as duas estátuas – a Grande e a Pequena Sereia – representem dois lados da mulher, e a eterna luta sobre o que é uma mulher verdadeira. E talvez até o que é uma mulher errada”, notou.

Em 2006, a estátua foi instalada no Cais de Langelinie, em Copenhaga, perto da Pequena Sereia. Mas foi removida em 2018 depois de os locais a terem denunciado como “sereia falsa e vulgar“.

Foi na altura transferida para o Forte de Dragør, até que, em março, a agência dinamarquesa para palácios e cultura interveio, solicitando a sua remoção. Peter Bech terá entretanto decidido doar a estátua ao município de Dragør — que terá rejeitado a oferta.

Em declarações ao Berlingske, Helle Barth, presidente da comissão de clima e urbanismo do município, explicou que, embora fosse uma oferta simpática, “é apenas difícil de encaixar. Ocupa muito espaço“.

Bech, que contou ter feito a estátua em resposta aos comentários dos turistas de que a Pequena Sereia – inspirada no conto de fadas de Hans Christian Andersen – era demasiado pequena, diz que muitas pessoas de Dragør lhe dizem que adoram a sua escultura — e está a tentar encontrar uma forma de a manter na cidade.

ZAP //

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