ONGs pressionam França e UE para evitar destruição “irresponsável” de contracetivos financiados pelos norte-americanos.
Organizações não-governamentais e eurodeputados estão a apelar a França e à Comissão Europeia para travarem a destruição de contracetivos avaliados em cerca de 10 milhões de dólares (cerca de 8,7 milhões de euros), armazenados na Bélgica e destinados à incineração em França.
Os produtos pertencem ao programa da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que entretanto viu o seu financiamento bloqueado devido à reinstauração da chamada “Política da Cidade do México”, que impede o envio de ajuda americana a organizações que oferecem serviços de aborto.
Segundo o Departamento de Estado dos EUA, os contracetivos não se tratam de preservativos, mas sim maioritariamente dispositivos intrauterinos e implantes de longa duração, que podem ser considerados abortivos e, portanto, violar esta política reativada pela administração Trump.
A eurodeputada francesa Mélissa Camara apelou diretamente à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para que a UE “intervenha”, defendendo, em conversa com o Politico, que os direitos sexuais e reprodutivos são valores fundamentais da União. Também a líder dos Verdes em França, Marine Tondelier, dirigiu-se ao presidente Emmanuel Macron, pedindo que o país não seja cúmplice da destruição de recursos médicos vitais que podem salvar vidas e garantir maior autonomia às mulheres.
A diplomacia francesa afirmou estar a acompanhar o caso e a apoiar os esforços da Bélgica para encontrar uma solução que permita entregar os contracetivos a quem deles necessita. O ministro belga dos Negócios Estrangeiros, Maxime Prévot, confirmou ter iniciado contactos diplomáticos com a embaixada dos EUA em Bruxelas e está a explorar alternativas, incluindo uma eventual relocalização temporária dos produtos.
Organizações internacionais como o UNFPA e a MSI Reproductive Choices ofereceram-se para recolher os contracetivos, mas sem sucesso, até agora. A IPPF (Federação Internacional de Planeamento Familiar) também propôs o transporte dos mesmos para os seus armazéns, nos Países Baixos.
Avril Benoît, diretora executiva da Médicos Sem Fronteiras nos EUA, classificou a destruição como um “ato irresponsável e prejudicial” para mulheres e raparigas em todo o mundo. As críticas têm vindo a aumentar, com muitos a denunciarem a incoerência de políticas que, ao mesmo tempo que apelam à eficiência, desperdiçam bens essenciais de saúde pública.