Editar o ADN de embriões humanos pode ser uma ferramenta útil para alterarmos o nosso genoma de forma a ficarmos protegidos de futuras pandemias.
Sucessos de bilheteira de Hollywood como X-Men, Gattaca e Jurassic World exploraram o conceito intrigante da “edição do genoma da linha germinal” – uma técnica biomolecular que pode alterar o ADN de espermatozoides, óvulos ou embriões. Se removermos um gene que causa uma certa doença num embrião, não só o bebé ficará livre da doença ao nascer, como o mesmo acontecerá com os seus descendentes.
A técnica é, no entanto, controversa. Não podemos ter a certeza de como é que uma criança com um genoma alterado se desenvolverá ao longo da vida. Mas com a pandemia de covid-19 a mostrar o quão vulneráveis os seres humanos são às doenças, será hora de pensar em avançar com ela mais rapidamente? A pergunta é feita pelo investigador Yusef Paolo Rabiah da University College London.
Há agora boas evidências de que a técnica funciona, com estudos normalmente realizados em embriões inviáveis que nunca resultarão num bebé vivo. Mas em 2018, o cientista chinês He Jiankui afirmou que os primeiros bebés com edição genética, de facto, nasceram.
Os cientistas estão agora a discutir a edição do genoma à luz da pandemia de covid-19. Por exemplo, pode-se usar o CRISPR para desativar os coronavírus, misturando o seu código genético. Mas também poderíamos editar os genes das pessoas para torná-los mais resistentes à infeção.
Este tipo de edição de genes difere da edição da linha germinal, pois ocorre em células não reprodutivas, o que significa que as alterações genéticas não são hereditárias.
É fácil perceber-se o fascínio. A pandemia revelou a realidade brutal de que a maioria dos países em todo o mundo está completamente mal equipada para lidar com choques repentinos nos seus, muitas vezes, já sobrecarregados sistemas de saúde.
Significativamente, os impactos na saúde não são sentidos apenas nos pacientes covid. Muitos pacientes com cancro, por exemplo, têm lutado para ter acesso a tratamentos ou consultas de diagnóstico em tempo útil durante a pandemia.
Isto também aumenta a possibilidade de usar técnicas de edição do genoma da linha germinal para combater doenças graves, como o cancro, para proteger os sistemas de saúde contra futuras pandemias. Já temos muitas informações que sugerem que certas mutações genéticas, como as do gene BRCA2 em mulheres, aumentam a probabilidade de desenvolvimento de cancro. Estes pontos críticos genéticos de doenças fornecem alvos potenciais para este tipo de terapia.
ZAP // The Conversation