“É preciso fazer o que for necessário para acabar com esta guerra”, diz Guterres

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André Kosters / Lusa

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres

O secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu esta quinta-feira uma investigação a eventuais crimes de guerra na Ucrânia.

Em Bucha, que se tornou um símbolo das atrocidades da guerra no território ucraniano, depois de terem sido descobertos dezenas de cadáveres nas ruas após a retirada das tropas russas, Guterres defendeu uma investigação do Tribunal Penal Internacional, pedindo a cooperação de Moscovo, segundo o Público.

Quando vemos este lugar horrível, vemos como é importante ter uma investigação completa e estabelecer responsabilidades”, afirmou Guterres.

O secretário-geral da ONU encontrou-se esta terça-feira com o Presidente russo, Vladimir Putin, e esteve em Kiev esta quinta-feira, onde se reuniu, à tarde, com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy.

“Imagino a minha família numa destas casas destruídas e escurecidas”, afirmou Guterres, enquanto passava por edifícios em ruínas em Borodianka.

Vejo as minhas netas a correr em pânico. Uma guerra no século XXI é um absurdo, nenhuma guerra é aceitável no século XXI”, defendeu, lembrando que “o pior dos crimes é a própria guerra”.

Guterres seguiu depois para Irpin, onde os combates entre as forças russas e ucranianas foram particularmente sangrentos.

“Toda a gente deve lembrar-se sempre de uma coisa: em qualquer guerra, são sempre os civis que pagam o preço mais alto“, realçou, em frente a um prédio de apartamentos parcialmente destruído pelos bombardeamentos russos.

O secretário-geral da ONU salienta que a situação em Mariupol é uma “crise dentro de uma crise” e que teve “intensas discussões” com o presidente ucraniano para tornar a evacuação de Mariupol numa realidade.

“Estamos a fazer todos os possíveis para retirar pessoas da metalúrgica de Azovstal”, indicou Guterres, depois do encontro com Zelenskyy, durante uma conferência de imprensa que os dois líderes deram em conjunto.

“Hoje visitei uma boa parte de Kiev e testemunhei pessoalmente a destruição e a violação dos direitos humanos. A posição das Nações Unidas é clara, tal como já disse em Moscovo. A invasão da Ucrânia pela Rússia é uma violação da integridade territorial e da carta das Nações Unidas. É por isso que temos que dar apoio ao povo da Ucrânia. É preciso fazer o que for necessário e que ainda não foi feito para acabar com esta guerra”, apelou Guterres.

“A população de Mariupol precisa de ajuda urgente. Não conseguem sair nem não conseguem ter acesso a comida e bens essenciais”, acrescentou ainda.

Volodymyr Zelenskyy, que agradeceu diversas vezes a visita de Guterres para testemunhar a “agressão russa”​, acredita que, depois do encontro com o secretário-geral, será possível “resolver com sucesso” a situação na fábrica em Mariupol.

Afirmou também que “milhares” de cidadãos ucranianos continuam a ser levados para a Rússia. “A Ucrânia está disposta a começar imediatamente as negociações para a retirada de civis”, garantiu Zelensky, referindo-se a Mariupol e à Azovstal.

António Guterres refere que a Ucrânia é o epicentro da “dor e sofrimento” e que o Conselho de Segurança das Nações Unidas “falhou na prevenção da guerra”.

“Deixe-me ser bem claro: o Conselho de Segurança falhou em fazer tudo o que estava ao seu alcance para prevenir e acabar com esta guerra. Esta é uma fonte de grande deceção, frustração e raiva”, disse Guterres a Zelenskyy, em Kiev.

“Mas os homens e mulheres das Nações Unidas estão a trabalhar todos os dias para o povo da Ucrânia, lado a lado com tantas corajosas organizações ucranianas”, notou.

Esta guerra tem que terminar e a paz tem que ser estabelecida. Estou aqui para dizer ao povo da Ucrânia que não desistiremos e que continuaremos a lutar para alcançar um cessar-fogo e criar corredores humanitários”, insistiu Guterres.

Foram ouvidas duas explosões em Kiev, enquanto o secretário-geral da ONU visitou a capital ucraniana. A informação foi avançada pela CNN Portugal e pela Reuters, que citam duas testemunhas oculares.

As explosões aconteceram na mesma altura em que decorria a transmissão da conferência de imprensa de Guterres e Zelenskyy.

A RTP refere que as explosões terão sido numa fábrica de material militar em Lukianivka, um bairro da capital ucraniana que se encontra a cerca de seis quilómetros do palácio presidencial de Kiev.

O presidente da câmara da capital, Vitali Klitschko, confirmou no Telegram que “o inimigo disparou contra Kiev”, com dois projéteis a atingirem o distrito de Shevchenkivskii – onde fica o bairro de Lukianivka.

“Todos os serviços estão em funcionamento”, adiantou Klitschko, alertando que ainda não foram apuradas informações sobre vítimas.

Biden não deixa que a Rússia “intimide” europeus

O Presidente dos EUA, Joe Biden, realçou que não deixará que a Rússia “intimide” os países europeus com ameaças de bloqueio de recursos energéticos.

Biden caracterizou ainda as declarações do Kremlin sobre o uso de armas nucleares como sendo “irresponsáveis”.

“Não permitiremos que usem as suas reservas de petróleo ou de gás para evitar as consequências da sua agressão. Estamos a trabalhar com outros países, como Japão, Coreia do Sul ou Qatar para ajudar os nossos aliados europeus, ameaçados por essas chantagens”, prometeu o Presidente norte-americano.

Esta semana, a Rússia bloqueou a venda de gás à Bulgária e à Polónia e ameaçou outros países que não aceitem pagar as faturas de energias em rublos.

Biden considerou as declarações sobre as ameaças de Putin de usar armas nucleares “irresponsáveis” e sublinhou que ilustram o “sentimento de desespero” de Moscovo na guerra na Ucrânia.

“Ninguém deve fazer comentários vazios sobre o uso de armas nucleares ou sobre a possibilidade de usá-las. Isso é uma irresponsabilidade. Isso mostra o sentimento de desespero que a Rússia sente perante o seu miserável fracasso em alcançar os objetivos iniciais”, insistiu Biden.

O presidente dos EUA pediu ainda ao Congresso que aprove uma ajuda de cerca de 31 mil milhões de euros para apoiar a Ucrânia — um aumento dramático do financiamento norte-americano para a guerra contra a Rússia — bem como novas ferramentas legais para desviar ativos de oligarcas russos.

“Precisamos deste projeto de lei para apoiar a Ucrânia na sua luta pela liberdade. O custo desta luta não sai barato, mas ceder à agressão vai ser mais caro”, notou.

“Temos de fazer a nossa parte para ajudar a Ucrânia. Não estamos a atacar a Rússia, estamos a ajudar a Ucrânia a defender-se contra a agressão russa”, referiu Biden.

A proposta apresentada inclui mais de 19 mil milhões de euros em assistência militar a Kiev e para reforço da Defesa dos países vizinhos.

Na iniciativa inclui-se ainda uma verba de cerca de oito mil milhões de euros em ajuda económica, para ajudar a manter em exercício o Governo do Presidente ucraniano.

Cerca de 2,8 mil milhões de euros irão ainda para alimentos e programas humanitários de ajuda a civis, incluindo os mais de cinco milhões de refugiados.

O pacote de assistência — que agora segue para votação no Congresso – representa mais do dobro dos 12,9 mil milhões de euros inicialmente previstos para a área da Defesa e da ajuda económica para a Ucrânia.

A intenção da Casa Branca é provar que os EUA não esgotaram ainda o esforço para ajudar a Ucrânia a resistir à invasão russa.

“Não testem a nossa paciência”

Moscovo voltou a avisar os países ocidentais, em particular o Reino Unido, para não incentivarem ataques ucranianos em território russo.

Dois meses depois do início da guerra, a Rússia começou a relatar uma série de ataques de forças ucranianas em regiões russas que fazem fronteira com a Ucrânia.

Alertou que os ataques podem conduzir a uma escalada significativa do conflito. A Ucrânia ainda não admitiu diretamente a responsabilidade.

“No Ocidente, eles estão a pedir abertamente que a Ucrânia ataque a Rússia, inclusive com o uso de armas recebidas através dos países da NATO”, realçou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova.

Eu não vos aconselho a testar nossa paciência ainda mais“, sublinhou em tom de ameaça. “Kiev e as capitais do Ocidente devem levar a sério a declaração do Ministério da Defesa de que incitar ainda mais a Ucrânia a atacar o território russo levará definitivamente a uma resposta dura da Rússia”, concluiu Zakharova.

Alice Carqueja, ZAP //

2 Comments

  1. Basta apanhar o putin e interná-lo num manicómio. Quer agora a antiga URSS. Um gajo com 70 anos, e quer agora vergar os outros países á vontade dele. Devia era ir para a reforma. Nem vai ter tempo de gastar todo o dinheiro que acumulou.

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