Doentes com sintomas ligeiros provocados pela covid-19 estão a ser encaminhados para as urgências pela SNS24

Mário Cruz / Lusa

Diretora das urgências do hospital de Santa Maria diz já ter alertado os responsáveis da SNS24 para as diretrizes que estão a ser emitidas, destacando o “encaminhamento exagerado”.

Após os relatos recentes de que as urgências hospitalares estão repletas de doentes com sintomas ligeiros provocados pela covid-19 e de utentes com testes antigénio positivos que pretendem confirmar o diagnóstico, há cada vez mais órgãos de comunicação a noticiar casos de que estas movimentações terão sido aconselhadas pela linha SNS24, apesar de se tratarem de doentes sem critério para receberem cuidados hospitalares.

A indicação tem merecido críticas dos profissionais, que se queixam das equipas reduzidas e dos próprios níveis de cansaço. Os casos têm sido relatados nos hospitais de Lisboa, Porto, Leiria, o que evidencia um fenómeno comum a todo o país. António Lacerda Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, em entrevista à RTP1, confirmou esta cenário, dizendo que “é provável que tenha acontecido” e que as autoridades de saúde estão a proceder a um trabalho de “simplificação de algoritmos” — apesar de não especificar que alterações estão a ser feita.

Anabela Oliveira, diretora do Serviço de Urgência do hospital Santa Maria, afirmou ao Observador já ter chamado a atenção dos SNS24 para um “encaminhamento exagerado de doentes ou utentes com sintomatologia muito ligeira, e mesmo para confirmação de testes e autotestes [feitos] no domicílio para o serviço de urgência”.

A responsável confirmou que também no hospital de Santa Maria o absentismo dos profissionais de saúde também já é um fenómeno que se faz sentir com consequências na resposta hospitalar. “As equipas estão desfalcadas, não só de médicos, mas de enfermeiros e assistentes operacionais. Temos muita gente em casa, infetados ou contactos de alto risco, o que vai piorar na próxima semana e na primeira de janeiro”, antecipa Anabela Oliveira.

No principal hospital da capital, perante a crescente chegada de doentes covid-19, já foi preciso abrir uma nova enfermaria, o que pressupõe a diminuição do espaço de internamento para doentes não-covid, mas também menos recursos humanos disponíveis — o que resulta numa maior pressão nos serviços.

“[Devido ao] tempo de isolamento, tal qual como temos atualmente — e ao contrário da aviação, em que os voos são cancelados, aqui não podemos cancelar voos por falta de tripulação –, mas temos muita falta de recursos nas equipas. É uma preocupação que nos assola a mente diariamente, à medida que nos aproximamos do período pior, que vão ser as primeiras semanas de janeiro”, descreveu a responsável ao Observador.

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