Os diretores das escolas admitem que os alunos do secundário possam ter aulas em junho, julho e até em setembro para se prepararem para os exames nacionais, que poderão ser adiados.
Faltam três dias úteis para começar o terceiro período para a maioria dos alunos dos ensinos básico e secundário e os diretores continuam sem respostas a muitas questões neste tempo de pandemia da covid-19, que já provocou mais de 300 mortos em Portugal.
Em declarações à Lusa, os presidentes das duas associações de diretores escolares reconhecem “as dificuldades” de planeamento do Governo e do ministério da Educação perante a imprevisibilidade da evolução de contágio do novo coronavírus, que obrigou ao encerramento de todas as escolas desde 16 de março.
Os diretores continuam sem saber de que forma será feita a avaliação, se haverá aulas presenciais, como garantir o acesso a quem não tem internet nem computador ou se haverá provas de aferição e exames nacionais. Mas, nas escolas, os professores estão a ter reuniões de departamento, conselhos de turma e pedagógicos e começam a planear como serão os últimos dois meses de aulas.
“O 9 de abril é o nosso dia D, que é quando saberemos com que linhas nos vamos cozer”, disse à Lusa o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, referindo-se à data apontada pelo ministério da Educação para anunciar as medidas para o 3.º período.
Os diretores têm algumas sugestões, tais como poder manter as escolas abertas para apoiar os alunos do secundário numa altura em que tradicionalmente os estudantes estão de férias. “As escolas poderão funcionar em junho, julho e até em setembro para dar aulas extra aos alunos do 11.º e do 12.º anos que têm de realizar os exames nacionais por causa do acesso ao ensino superior”, sugeriu o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, em declarações à Lusa.
A ideia é corroborada por Filinto Lima, que acrescentou que o próximo ano letivo poderia começar um pouco mais tarde assim como a realização dos exames nacionais.
O Governo chegou a ponderar a hipótese de as escolas abrirem a 4 de maio para os alunos do secundário, mas os diretores consideram ser uma “visão demasiado otimista” tendo em conta as recentes declarações da ministra da Saúde que admitiu que “ainda não se vê uma luz ao fundo do túnel” na luta contra a pandemia da covid-19.
Os dois diretores sublinham que a prioridade tem de ser “a saúde dos alunos, professores e de toda a comunidade educativa” e por isso acham mais viável as aulas extra no final do ano letivo.
Esta sugestão acabaria por afetar diretamente os professores, que se têm queixado de sobrecarga de trabalho, mas os diretores acreditam que os docentes vão manter a postura conhecida até agora: “Os professores serão sempre parte da solução e nunca do problema. Têm-se adaptado a todas estas mudanças de uma forma incrível”, lembrou Filinto Lima.
Manuel Pereira também saudou o trabalho dos docentes, acrescentando que “o tempo da casa não é o mesmo que o tempo da escola: Muitos professores, quando estão em casa a dar aulas, também são pais, tendo que acompanhar os seus filhos e garantir as refeições. É tudo muito mais complicado”.
Também por isso, os diretores defendem que o horário de aulas deve sofrer um ajustamento, ou seja, menos carga horária para que professores, alunos e encarregados de educação consigam responder ao que lhes é pedido.
Sobre a realização das provas de aferição do 2.º, 5.º e 8.º anos e dos exames do 9.º ano, os diretores voltaram a dizer que “devem cair” porque não há condições para se realizarem.
Este fim de semana, o Governo garantiu que no 3.º período os professores terão o apoio da televisão, que irá transmitir programas com algumas matérias, uma espécie de regresso da “Telescola”. “Usar os canais abertos de televisão para conseguir que alguns conteúdos programáticos cheguem a todos é uma boa solução”, aplaudiu Manuel Pereira, voltando a lembrar os alunos sem acesso a internet ou computador.
Este serviço, que surge de uma parceria com a RTP, deverá começar na próxima semana para todos os alunos até ao 9.º ano, mas os pormenores ainda são desconhecidos.
O presidente da ANDE considerou que o ME já deveria ter dado mais indicações às escolas para planear o próximo período, sob pena de estarem a tomar decisões que depois terão de ser adaptadas a decisões diferentes: “Temos apenas três dias para preparar o próximo ano letivo”.
ZAP // Lusa