Numa manobra de última hora que não disfarça as suas intenções, os detentores dos direitos de autor sobre o “Diário de Anne Frank” – que expirariam no final deste ano – tentam descaradamente prolongar o seu controlo sobre a obra por mais algumas décadas.
O Diário de Anne Frank é uma obra bastante conhecida, que conta o dia-a-dia da jovem Anne Frank, que vivia escondida com a sua família durante a ocupação Nazi.
A jovem morreu nos campos de concentração em 1945, com apenas 15 anos; tornando-se num ícone de tempos que esperamos nunca ver repetidos.
Legalmente, os direitos de autor da obra prolongar-se-iam por 70 anos após a morte da autora, pelo que o seu Diário passaria a ser do domínio público a 1 de Janeiro de 2016 – havendo já alguns projectos que preparavam a sua disponibilização gratuita na internet, como acontece com muitas obras cujos direitos de autor já expiraram.
No entanto, a fundação que detém o copyright sobre o obra não está com muita disposição de abdicar deste rendimento garantido, e recorreu a uma manobra bastante duvidosa, pretendendo classificar o pai de Anne Frank como co-autor – de modo a prolongar os direitos de autor até 2050!
Foi o pai de Anne Frank, Otto Frank, que compilou as notas escritas pela sua filha de modo a criar o livro; sendo considerado o editor da obra.
Mas dizer agora que o mesmo é co-autor do livro não passa de uma manobra que tem como único propósito o prolongamento dos direitos de autor por mais umas décadas.
Se estivesse mesmo em causa a sua reclassificação, não teria isso sido alvo de atenção há muitas décadas atrás?
Para além disso, esta medida vem complicar a vida aos autores, porque se se passar a considerar os editores como co-autores, então o papel do autor fica fragilizado, sujeitando-se a ficar sob controlo de um editor – que passa a ter palavra a dizer sobre o que o autor poderá fazer ou não com a sua obra.
É uma completa subversão dos direitos de autor, e que demonstra que há mesmo muito por fazer para se modernizar as leis dos direitos de autor – incluindo a protecção dos mesmos contra este tipo de abusos por quem os detém e não os quer largar.