Aviso de Mário Centeno, que considera que se podiam tirar lições a partir do que está a acontecer nos EUA. Os sinais acumulam-se.
O governador do Banco de Portugal (BdP) alerta que a relação da política monetária com o mercado de trabalho “merece atenção na Europa”, numa altura em que já há sinais de abrandamento na criação de emprego.
No rescaldo do simpósio anual do Jackson Hole, Mário Centeno destaca que se podiam tirar lições a partir do que está a acontecer nos Estados Unidos, tendo em conta a mensagem trazida pelo presidente da Reserva Federal (Fed), de que “há sinais de enfraquecimento na economia norte americana, em particular no mercado de trabalho, que preocupam mais do que há uns meses e essa confirmação veio muito clara nas declarações de Jerome Powell”.
“As lições que podemos tirar para a Europa são significativas: temos uma inflação que tem vindo a cair muito claramente ao longo dos últimos meses, é verdade que há caminho a fazer, mas temos de ter a noção que a posição de política monetária neste momento aponta para um aperto financeiro”, mesmo com “próximas reduções que possam existir das taxas de juro”, diz, num episódio do BdP Podcast divulgado hoje.
Mário Centeno salienta que “não é a partir do momento em que a taxa começa a cair que a situação se altera, todos temos de ter noção disso”, deixando o alerta de que “a relação disto com o mercado de trabalho também merece atenção na Europa”.
“Os últimos dados de criação de empregos na Europa têm vindo a diminuir, são sempre os primeiros sinais de abrandamento do mercado de trabalho”, avisa o governador do BdP.
Neste cenário, Mário Centeno explica as declarações feitas na semana passada em Jackson Hole, de que a decisão do Banco Central Europeu na reunião de setembro seria “fácil”, apontando que quando se olha para setembro “como mês de decisão está bastante claro”, nomeadamente “prosseguindo a inflação o caminho que tem vindo a ter, olhando para a economia, o mercado trabalho e dúvidas e hesitações que já se começam a assistir no mercado de trabalho, numa economia que teima em não crescer”.
Apesar de ser um “sacrifício” na Europa, nomeadamente devido ao impacto no crescimento económico, o governador reitera que quando olha para os dados “parece claro a trajetória”.
Nos EUA os sinais de preocupação também já começaram. O relatório de empregos de julho revelou que a economia dos EUA acrescentou apenas 114.000 empregos, muito aquém dos 176.000 empregos esperados pelos economistas.
Além disso, a taxa de desemprego subiu para 4,3%, de 4,1% em junho, marcando um aumento assinalável em relação aos 3,9% de abril.
Esses dados inesperados (ou nem por isso) geraram preocupações entre os investidores, levando a uma queda nos mercados.
O relatório destacou vulnerabilidades crescentes na estrutura económica, sugerindo uma potencial recessão no horizonte.
Essa ansiedade foi ainda mais alimentada pela recente decisão da Reserva Federal de manter as taxas de juros, em vez de reduzi-las para estabilizar a economia.
ZAP // Lusa