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Depois dos atrasos nas eleições, um novo plano para os correios nos EUA está a ser criticado

O plano de reestruturação de Louis DeJoy propõe cortes que vão causar mais atrasos no processamento de encomendas. Esta é a segunda grande polémica a envolver o director dos correios nos EUA, depois dos atrasos no envio de votos durante as presidenciais.

Já desde antes das eleições presidenciais de 2020 que o financiamento do serviço de correios nos Estados Unidos está a ser alvo de uma acesa luta política entre Democratas e Republicanos.

Louis DeJoy, que já há muito participa em angariações de fundos para os Republicanos e é um aliado de Donald Trump, tornou-se director do USPS (United States Postal Service) em Junho de 2020.

DeJoy esteve no olho da tempestade sobre os cortes feitos aos correios que causaram atrasos na entrega de votos por correio, o que levou a acusações dos Democratas de tentativa de interferência nas eleições. Trump acabou por admitir em Agosto que esse era o objectivo e acusou os Democratas de fraude eleitoral.

Depois de vários processos judiciais que DeJoy perdeu, os correios foram obrigados a priorizar os votos e os serviços voltaram lentamente aos seus níveis de trabalho anteriores a quando o novo director assumiu o cargo. Agora, avizinha-se mais uma batalha política.

Foi anunciado em Março um plano de reestruturação do funcionamento do USPS para os próximos dez anos. DeJoy propôs mudar as horas de funcionamento e aumentar os critérios do serviço. Isto pode resultar em até 30% do correio de primeira classe passar a ser entregue em cinco dias em vez dos anteriores três.

O plano inclui também expandir as entregas até sete dias, passar a usar mais o transporte terrestre para as encomendas e deixar de depender tanto do transporte aéreo e criar uma frota de veículos eléctricos até 2035.

O USPS tem uma dívida actual e passivos não financiados no valor de 188 mil milhões de dólares, o que equivale a mais de 250% da sua receita anual, de acordo com dados do governo americano. DeJoy defendeu estas medidas como necessárias para reduzir custos.

“Que diferença faz esperar mais um dia para receber uma carta? Porque alguma coisa tem de mudar”, afirmou o director numa audição com legisladores em Fevereiro. O plano tem sido bastante criticado pelos Democratas por aumentar os atrasos, com 21 procuradores-gerais estaduais a assinar uma carta contra a gestão do USPS.

“Há já quase um ano, temos estado a lutar com unhas e dentes para que o USPS possa cumprir a sua missão e entregar atempadamente correio, medicamentos, cheques, boletins de voto, e outros bens essenciais aos americanos pelo país. Agora, em vez de resolver os problemas que se mantêm um ano depois, o director DeJoy quer cortar ainda mais os serviços do USPS”, escreve a procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James.

Em Março, Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, também criticou o plano. “Infelizmente, os cortes propostos pelo director DeJoy, se concretizados, vão enfraquecer a missão, resultando em atrasos sérios e degradação do serviço para milhões. O Congresso vai brevemente avançar com uma lei de infraestruturas robusta que vai garantir que os correios têm os recursos necessários”, pode ler-se num comunicado.

A Comissão Regulatória Postal, que é um órgão independente, também defendeu que o novo plano não vai trazer “muitas melhorias, se algumas sequer, à situação financeira actual dos serviços de correio” numa opinião consultiva publicada no dia 20.

O USPS também não mostrou provas de como o plano não vai afectar a satisfação dos clientes, de acordo com a comissão, e não estão a ser feitas as adaptações necessárias para dar resposta “às preocupações e problemas levantados pelos clientes e partes interessadas”.

Os conselhos da comissão não são vinculativos, por isso o USPS pode avançar com o plano apesar das críticas, e é isso que estão a planear fazer. A porta-voz Kimberly Frum revelou à Forbes que a agência está a “rever” as recomendações e que as vai ter em conta, mas que o plano vai avançar na mesma.

De acordo com o Washington Post, cinco mil milhões de encomendas e cartas podem ser atrasadas pelos cortes.

As críticas dos Democratas não se ficam por aqui. Já em Março, mais de 50 legisladores do partido escreveram uma carta a Joe Biden a apelar a que o presidente despedisse todos os membros do quadro de governadores dos correios que foram apontados por Trump, que são os únicos que têm o poder para afastar DeJoy da direcção.

Apesar da pressão política do lado dos Democratas, DeJoy já avisou para que “habituassem” à sua presença e que não se demitiria antes de reformas importantes serem feitas.

O quadro de governadores da agência também demonstrou publicamente o apoio à sua liderança numa audição na Câmara dos Representantes em Fevereiro. No entanto, este pode ser um sinal de um possível conflito futuro entre os membros apontados por Donald Trump e por Joe Biden.

A situação financeira frágil do USPS está assim a pôr em causa a importância que um serviço público de correios eficiente tem para os americanos e está a alimentar uma batalha partidária que não parece ter fim à vista.

AP, ZAP //

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