O partido Pessoas-Animais-Natureza continua em alvoroço, numa história que acaba de ganhar mais um capítulo esta segunda-feira. Dez membros da Comissão Política Nacional do PAN apresentaram a demissão, alegando “asfixia democrática interna”.
O Observador avança, esta segunda-feira, que dez membros do órgão máximo do partido entre Congressos, a Comissão Política Nacional, anunciaram a sua demissão.
Entre eles está o ex-deputado Nelson Silva, o deputado no Parlamento Açoriano Pedro Neves e o porta-voz do PAN na Madeira Joaquim de Sousa. Em comunicado, os dirigentes demissionários queixam-se da “total asfixia democrática interna”.
A saída é justificada pelo “chumbo da proposta para a realização de um congresso eletivo extraordinário com vista à discussão e balanço das eleições legislativas de 2022 e retificação dos estatutos, devolvendo a palavra ao órgão máximo do partido em ambiente de discussão democrática interna e panorama alargado”.
Dos 27 membros da Comissão Política Nacional do partido, os dez que se demitem votaram em sentido contrário à decisão anunciada de auscultar as bases.
“Os membros demissionários consideram que uma Direção que deseja ouvir as bases para traçar estratégia, mas que, perante os maus resultados em dois atos eleitorais consecutivos, foge ao escrutínio em congresso, não se pauta por uma metodologia verdadeiramente transparente nem democrática, quando falhou nos objetivos assumidos e logo necessita de ser reavaliada”, apontam ainda em comunicado.
Quanto às eleições legislativas do dia 30 de janeiro, os demissionários dizem que se tratou da “maior derrota eleitoral de sempre” e que”só o órgão máximo do PAN tem o poder total para reerguer o partido e revalidar uma direção e a sua porta-voz”.
“Sem um Congresso, o partido estará sempre numa fragilidade contínua, algo insustentável que irá condenar o PAN a uma erosão que querem a todo o custo travar”, lê-se na nota, que aponta a “falta de maturidade e lucidez política nas análises dos resultados eleitorais pouco realistas que sustentam as causas da dramática descida de votos em externalidades”.
Além dos três nomes de peso, soma-se a saída de Sónia Domingos, dos Açores; Paulo Baptista e Ricardo Cândido de Faro; Vítor Pinto, de Setúbal; Carolina Almeida, de Viseu; Fábio João de Castelo Branco e o membro da mesa da direção, Jorge Alcobia.
Recorde-se que o antigo porta-voz do partido, André Silva, criticou o resultado eleitoral do PAN num artigo de opinião publicado no jornal Público, onde também mostrava o seu descontentamento face à estratégia seguida pela atual direção mesmo antes das legislativas serem convocadas.
Os comentários não foram bem recebidos por Inês Sousa Real, que não se mostra recetiva a uma eventual demissão. A dirigente partidária caracterizou ainda o artigo do antigo colega de bancada como “muito oportunístico”.
Líder do PAN critica demissões por “agenda pessoal”
“Esta direção não terá qualquer tipo de receio, muito pelo contrário, de ir a congresso”, afirmou Inês Sousa Real, defendendo que o “momento que o partido vive e o momento que o país também vive” exige “um elevado sentido de responsabilidade, de união, de maturidade e não de dissidência”.
Em declarações à Lusa, a porta-voz defendeu que “o PAN precisa de reflexão, precisa de trabalho interno e não de dissidências que a este tempo só vêm pôr interesses pessoais à frente daquilo que possam ser os interesses coletivos” e recordou que as pessoas que agora põem em causa a direção “faziam parte” dela.
De acordo com a líder do PAN, – que se encontra em isolamento por estar com covid-19 – no sábado a CPN esteve reunida “durante cerca de 12 horas” e foi aprovada a deslocação da direção pelo país para “auscultar todos os filiados” em relação à estratégia de futuro, apontando que “com o congresso não seria possível”.
“Esta proposta foi aprovada com uma larga maioria e com apenas um voto contra, e portanto muito nos espanta estas demissões, que claramente só vêm denotar que há aqui uma agenda pessoal por detrás das demissões”, acusou, criticando o que apelidou de um “espetáculo lamentável de cisão interna, que neste tempo é de facto tudo menos o que o PAN precisa”.
Inês de Sousa Real indicou que não afasta “a possibilidade de realização de um congresso”, mas salientou que “devem ser primeiramente auscultadas as bases e posteriormente decidir, em função dessa mesma auscultação, o rumo que deve ser necessário para o país”.
“Se filiados quiserem, lá estaremos para convocar o congresso”, declarou, afirmando que a sua direção quer “fomentar uma maior democraticidade interna e participação, de forma transparente, aberta”.
Liliana Malainho, ZAP // Lusa