O “desaire” eleitoral do “afilhado” do PS. André Silva disponível para ajudar o PAN

Manuel Farinha / Lusa

O antigo líder do Partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza (PAN), André Silva

André Silva entende que as eleições legislativas do passado domingo foram desastrosas para o PAN que, além de deixar de marcar a agenda política, teve uma postura errática.

No entender do antigo porta-voz do partido, o PAN sofreu um “desaire” eleitoral provocado por “causas internas e inteligíveis”, nomeadamente o facto de se ter tornado um “afilhado” do PS.

André Silva não poupa críticas à “postura errática” do PAN sob a liderança de Inês Sousa Real e diz-se disponível para ajudar o partido a “reposicionar-se e a reconquistar a credibilidade e a voz política que já teve”. A intenção é transmitida num artigo de opinião, publicado esta sexta-feira no jornal Público.

“Estou disposto a apoiar uma nova direção do PAN com uma nova liderança, esta não vai a lado nenhum”, assume ao Público. “Estou disponível para colaborar com outra liderança que não passa por mim”, esclarece ainda.

No artigo de opinião, escreve que “apregoar que os resultados são fruto dos ataques de alguns setores que o PAN belisca, dos efeitos do voto útil, ou, pasme-se, do sistema eleitoral que prejudica os pequenos partidos é um insulto à inteligência, pois, como dizia o meu avô agricultor, ‘a boa fazenda nunca fica por vender”.

O ex-deputado defende, assim, que o “desaire” se deveu à “postura errática” do partido liderado por Inês Sousa Real que “deixou de marcar a agenda política em áreas que fazem parte da sua matriz”.

Considerado que “chegou o momento de falar perante o definhar do partido” que ajudou a erguer, André Silva considera que “a campanha de 2019 foi bem mais agressiva e hostil” para o partido, que não era sequer conhecido, mas conseguiu impor-se.

“Nas legislativas de 2019, o nível de escrutínio ao PAN e à minha pessoa foi tal que, e na falta de lenha para a fogueira, o material dos meus sapatos até foi objeto do Polígrafo”, lembra, sublinhando que nessas eleições, “com menos palco mediático, ataques constantes e com o mesmo sistema eleitoral, o PAN elegeu quatro deputados”.

Descreve ainda que “o desaire do passado dia 30 tem, sobretudo, causas internas e inteligíveis”, exemplificando: “De partido estrategicamente dialogante com o PS, o PAN passou a comportar-se como seu afilhado”.

“E não ficou por aqui. De afilhado nas autárquicas, o PAN passou a porta-estandarte do OE. No encerramento do debate do documento orçamental, assisti a uma intervenção do PAN que sei que alguns deputados do PS não seriam capazes de fazer, tal foi a devoção na defesa do documento e arremessando em direção a tudo o que mexia contra o PS”, insiste.

Para mostrar a postura errática do partido, André Silva acrescenta: ”Depois deste tango com o partido do Governo, e para pasmo de tantos, não passaram muitos dias até que o PAN viesse anunciar que também queria dançar com o PSD”.

“Nesta dança a três inventada pelo PAN, os eleitores acabaram por excluir o elemento mais dúbio”, sublinha.

Lembra que uma das principais causas de crescimento do PAN, e de fidelização de eleitores, “foi a forma como o partido fazia oposição ao Governo na Assembleia da República, sem descurar o equilíbrio político da equidistância à esquerda e à direita”.

O ex-deputado e ex-porta-voz do PAN considera que o partido deixou de marcar a agenda política nas áreas que fazem parte da sua matriz e noutras que veio a abraçar por imperativo do necessário reforço da democracia” e que “envelheceu umas valentes décadas”.

“Parecem longínquos os tempos do partido polémico, irreverente, não alinhado com os ‘incumbentes’, combativo e sem medo de fazer escolhas e de defender propostas incomodativas”, considera André Silva, que defende que o PAN “deixou de cumprir a sua missão de partido-farol” e “perdeu a chama e a clareza na mensagem política”.

Acrescenta que “o auto-epíteto de ‘partido responsável’ não traz progresso político nem tão-pouco colhe votos”, lembrando que o PAN perdeu “metade dos votos alcançados em 2019, obtendo um resultado semelhante ao de 2015, quando nem os jornalistas conheciam o partido”

“Uma análise com maior acuidade mostra números preocupantes que são reveladores da profunda erosão eleitoral. Por exemplo, no concelho de Lisboa obteve menos votos do que em 2015, e em termos relativos o resultado de 1,82% é semelhante ao obtido em concelhos sem qualquer implantação como a Lourinhã”, exemplifica.

Escreve ainda que “a ineficácia da mensagem política do PAN alastrou-se às áreas que o ergueram” e que o partido perdeu espaço no campo político do ambientalismo, “o que também teve como consequência a debandada de jovens eleitores para outros partidos”.

Sublinhando que desde o momento em que saiu do cargo de porta-voz do PAN não lhe passou pela cabeça regressar, não tendo como ambição ocupar um lugar que já teve, André Silva diz, contudo, que está disponível para ajudar o partido.

“Estou disponível, como sempre estive, para ajudar o meu partido a reposicionar-se e a reconquistar a credibilidade e a voz política que já teve, caso os afiliados decidam por outra liderança”, acrescenta.

ZAP // Lusa

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