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A economia das “tostas com abacate” reflete-se nos fogos: roçar mato já não compensa

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Miguel Pereira Da Silva / Lusa

Bombeiros combatem um incêndio em Santa Comba, Seia.

“Não me lembro da última vez que comi cabrito” — e “isso é uma alteração social que se reflete nos fogos”. Arquiteto paisagista propõe dar 100 euros por hectare a quem mantiver os seus matos abaixo de 50 centímetros.

Incêndios continuam a afetar o país esta sexta-feira, especialmente a Norte, com os fogos em Penafiel, no Porto, e Ponte da Barca, em Viana do Castelo, ainda com duas frentes ativas e as habitações em risco, a serem protegidas pelos operacionais no terreno.

Em Arouca, o fogo que lavra há dias e que tinha alastrado para os concelhos vizinhos de Castelo de Paiva e Cinfães, está dominado graças à intervenção de 426 operacionais e 157 meios terrestres — mas chegou a ter mais de 48 quilómetros de perímetro e consumiu uma área de mais de 4500 hectares de floresta.

À SIC Notícias, o arquiteto paisagista Henrique Pereira dos Santos lamenta a falta de gestão florestal adequada, com uma perspetiva diferente.

Não me lembro da última vez que comi cabrito“, disse o arquiteto.

“É mais fácil encontrar pessoas que se lembram da última vez que comeram torradas com abacate do que um cabrito”, admite, e “isso é uma alteração social que se reflete nos fogos”.

O especialista lembra os tempos de antigamente, quando a própria população “apagava o incêndio antes de os bombeiros chegarem”. Hoje, “o que está em causa é uma alteração da economia e da sociedade que faz com que grande parte do território não seja gerido. E não é gerido porque não tem economia que pague essa gestão, não há retorno”, queixa-se.

Antes, “o mato era todo roçado para a cama do gado para estrumar as terras. E isso desapareceu. Não só há muito menos terras a ser feitas, como o estrume foi substituído por adubos e não compensa andar a roçar mato”, denuncia.

Como solução, Pereira dos Santos propõe que se pague 100 euros por hectare a todas as pessoas que mantenham os seus matos abaixo de 50 centímetros. Quem o faz “está a prestar-nos um serviço, que até agora não valorizamos porque era uma consequência de uma economia que morreu. Ou pagamos ou as pessoas não gerem” os terrenos, adianta.

O arquiteto paisagista, que tira as culpas do Ministério da Administração Interna e atira-as para o primeiro-ministro ou para o ministério da Agricultura, também defende a profissionalização dos bombeiros.

“Nós precisamos de uns bombeiros que dizem ‘isso não é comigo, porque a minha missão é combater fogo florestal’. Proteção civil é com outros. Se não houver isto, esta necessidade que temos de ter gente a combater o fogo florestal no meio de onde é preciso, vai ficar atrás da prioridade de salvar vidas e casas e toda a gente percebe isso.”

ZAP //

1 Comment

  1. Mas para os iluminados políticos é para os parasitas invejosos, os donos dos terrenos têm que gastar dinheiro a limpa los, mesmo sem qualquer retorno economico

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