Depois da demissão, críticas ao anúncio da demissão. Os “aproveitamentos” no PAN

Miguel A. Lopes / LUSA

Inês de Sousa Real e Pedro Fidalgo Marques (PAN)

Anabela Castro e Nuno Pires enviaram um comunicado para anunciar a sua saída – mas, supostamente, o comunicado seria apenas interno.

Dois membros da comissão política nacional do PAN eleitos pela lista da atual líder, Inês de Sousa Real, demitiram-se, acusando a direção de desrespeito pela democracia interna, centralização do poder e silenciamento dos críticos.

Os dois membros em causa são Anabela Castro e Nuno Pires, eleitos para a Comissão Política Nacional do PAN – órgão máximo de direção entre congressos – pela lista A, afeta à líder Inês de Sousa Real, e transmitiram a decisão através de um comunicado enviado no dia 18 de maio, pouco antes do fecho das urnas das eleições legislativas.

Segundo a Lusa, no comunicado, Anabela Castro e Nuno Pires justificam a sua saída com o “desacordo com o rumo atual da gestão interna do partido”, alegando que o PAN deixou de ser “o espaço ético, respeitador coerente e plural que o diferenciava no panorama político nacional”.

“A direção atual (ou parte dela), revela uma visão demasiado autocentrada e autocrática, de quem não se responsabiliza pelos resultados, saídas e descontentamentos que o partido tem sistematicamente sofrido, optando em vez disso por criarem narrativas de traição e de abandono, com ataques a qualquer posição ou crítica divergente do atual ‘status quo’”, lê-se.

Anabela Castro e Nuno Pires acusam a direção de silenciar as divergências e atacar os críticos, lamentando que as reuniões da comissão política sejam um “pró-forma para cumprir calendário, onde a estratégia se centra em jogos de poder, mais do que nas causas”.

“O centralismo das decisões e a crescente marginalização de vozes críticas refletem uma deriva que consideramos grave e que mina a confiança de quem, como nós, acreditou que era possível fazer política de forma diferente. A nossa presença e participação nesta Comissão tornou-se, assim, insustentável”, acrescentam.

A nível interno, os dois membros apontam situações “inaceitáveis” de limitação do debate interno, destacando o curto de espaço de tempo – 12 horas – entre a aprovação do programa eleitoral de 2025 e a sua divulgação pública, “sem qualquer possibilidade real de análise e contributos como sempre se fez até então”.

Anúncio deveria ser só interno

Este comunicado foi dado a conhecer pela Lusa na quinta-feira. No dia seguinte, sexta-feira, os mesmos dois membros demissionários da comissão política nacional do PAN criticaram a divulgação pública desse comunicado. Consideram que se tratava de informação interna.

Num comunicado enviado à mesa da comissão política do PAN e à agência Lusa, Anabela Castro e Nuno Pires sublinham que o texto da demissão indicava que aquela informação não deveria ser reproduzida, e foi feito “com base na assunção de que há espaços próprios para dizer o que se considera necessário”, num partido e que “não tem que ser exposto em nenhum órgão de comunicação público”.

Os dois membros demissionários lamentam que “pessoas que têm acesso a informação que é comunicada mas que não é da sua autoria” se aproveitem de “informação interna para exporem o partido”, sublinhando que esse é um comportamento no qual não se reveem.

“Se querem fazê-lo, façam-no através das suas próprias ações, não usando informação que pertence ao foro interno do partido”, afirmam Anabela Castro e Nuno Pires, acrescentando que “há órgãos para se falar do que é necessário mudar ou rever, mas esses não são claramente os órgãos de comunicação social”.

Os dois membros acreditam que a divulgação de informações do foro interno do partido só “impede que haja transparência e honestidade no futuro, pelo receio de fuga de informação para fora do partido”.

Anabela Castro e Nuno Pires frisam que a “importância do comunicado mantém-se”, mas condenam a sua divulgação, considerando que “o seu desvelo é uma perfeita falta de respeito e ética de quem o tornou público”.

ZAP // Lusa

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