Crise chega aos ovos. Receitas de Natal podem estar ameaçadas

A escassez de ovos já começa a sentir-se nas prateleiras dos supermercados e teme-se que o problema se agrave em Dezembro, com a aproximação do Natal, altura em que este produto é mais consumido, nomeadamente para fazer as receitas típicas da época.

Há menos oferta disponível de ovos e já está a ser difícil dar resposta à procura. Mas a situação tende a agravar-se e alguns produtores temem que faltem para o Natal.

Mas o que justifica esta escassez de ovos? É um problema conjuntural relacionado com várias situações problemáticas.

“A produção de ovos vive tempos difíceis, não só em Portugal, mas na Europa e no mundo, devido a toda a conjuntura de aumento de preços das matérias-primas“, explica à SIC Notícias o director-geral da Zêzere Ovo, Alfredo Martins. Esta empresa é responsável por 80% da produção nacional de ovos.

Alfredo Martins refere que “é um ciclo que já se vive desde 2021” e que se agravou com a guerra na Ucrânia, uma vez que esta fez “disparar ainda mais os preços”. A inflacção galopante veio agravar o problema e, ainda por cima, a Europa vive a maior epidemia de sempre de gripe das aves.

A gripe aviária tem “reduzido muito a oferta de ovos”, assume Alfredo Martins, lamentando ainda a subida no preço das rações. “Hoje pagamos pela alimentação das galinhas cerca de 100% mais do que se pagava há um ano e tal, dois anos”, diz à SIC Notícias.

O aumento dos custo dos “factores de produção” também tem feito alguns produtores “desistirem” e “abandonarem” o sector, repara ainda Alfredo Martins.

Com toda esta conjuntura, há receios quanto aos ovos disponíveis para o Natal.

“O Natal é sempre uma época de maior consumo e tentamos que a nossa produção esteja no máximo nesta altura”, sublinha o responsável da Zêzere Ovo enquanto vai “antevendo dificuldades, pela falta generalizada que há de ovos na Europa e no mundo”. Mas “vamos tentar satisfazer os nossos clientes habituais”, garante.

Nestes tempos de incerteza, a única certeza de Alfredo Martins é que, até ao final do ano, os preços dos ovos não vão subir mais.

Em França, já se mudam receitas

A escassez de ovos é um problema global e em França, a Reuters noticiou que a indústria alimentar já está a mudar algumas receitas, nomeadamente procurando alternativas aos ovos.

Entretanto, no Reino Unido, uma pesquisa da Associação Britânica de Produtores de Ovos ao Ar Livre (BFREPA) revela que 33% dos produtores reduziram o tamanho dos lotes de galinhas, interromperam a produção temporariamente ou deixaram a indústria.

Estes dados confirmam a ameaça ao fornecimento de ovos no Reino Unido e ao futuro da própria indústria, como repara o portal Supply Management, o media oficial do Chartered Institute of Procurement & Supply (CIPS), uma organização sem fins lucrativos que se dedica à área das compras e suprimentos em todo o mundo.

“Menos galinhas significa menos ovos e avisamos em Março que os ovos poderiam faltar no Natal. A oferta de ovos diminui naturalmente nesta época do ano, à medida que empresas e indivíduos se preparam para o Natal, o que pode estar a agravar a situação”, explica uma fonte da BFREPA ao Supply Management.

“Além disso, a gripe aviária também resultou no abate de galinhas poedeiras“, acrescenta o mesmo elemento.

Produtores perdem dinheiro em cada ovo posto

Por outro lado, muitos produtores estão a deixar o sector porque os custos de produção se tornaram incomportáveis, nomeadamente em termos de preços das rações, do combustível e da electricidade.

“Muitos dos nossos membros estão a perder dinheiro em cada ovo posto, e os nossos dados mostram que mesmo aqueles que estão a ter um pequeno lucro, não veem um futuro de longo prazo” no sector, refere a mesma fonte da BFREPA.

Entretanto, a gripe aviária também está a ameaçar o fornecimento de peru nas vésperas do Natal devido ao abate de milhares de aves infectadas por toda a Europa.

Na Austrália, já em Agosto passado se sentia a falta de ovos nos supermercados de todo o país. O site The Conversation reportava, na altura, que alguns cafés já estavam a servir o pequeno-almoço com apenas um ovo em vez de dois e que algumas cadeias de supermercados estavam a limitar as vendas a duas caixas por cliente.