Durante o debate da moção de censura, que decorre esta quinta-feira no parlamento, o primeiro-ministro António Costa respondeu à deputada do BE Catarina Martins, dizendo-lhe que foi preciso inventar uma frase que não disse para o atacar.
“Eu não disse para não nos avaliarem pelos casos, e não pelos resultados. Eu não disse que os casos não têm importância”, frisou, dizendo que a prova de que o Governo dá relevância ao caso de Alexandra Reis, tanto que esta foi demitida por Fernando Medina e Pedro Nuno Santos demitiu-se do cargo de ministro.
Estas declarações surgiram em resposta à intervenção da líder bloquista, que disse que medir o Governo pelos resultados que Costa pede “é caminho perigoso” e que se corre o risco de “ameaçar a legitimidade da democracia”. Este discurso é “populista e alimenta o pior dos populismos” e o PS “é o partido que mais alimenta a extrema direita com os casos”.
“O descaso absoluto entre o discurso dos sucessos governativos e as dificuldades da vida concreta das pessoas é uma outra forma, também perigosa, de retirar legitimidade à democracia e ao debate democrático”, considerou Catarina Martins.
“A cada caso encerrado abre-se um novo caso. Não é imprudente a forma como o Governo tem lidado com as nomeações? Que depois de demissões, com base em percursos com tanto por explicar, o Governo faça mais uma nomeação com tanto para explicar?”, questionou a líder do BE.
No caso desta quinta-feira, sobre o facto de o marido da nova secretária de Estado da Agricultura ter as contas arrestadas, Costa referiu estar “surpreendido” por ser Catarina Martins, que “julga” conhecer, a defender a demissão de uma “mulher” do Governo por causa de problemas judiciais do marido.
“Neste caso é claro: o MP [Ministério Público] já investigou tudo, e vou ser eu a substituir-me ao MP? A não ser que a senhora deputada saiba algo que não sei. Vou demitir uma mulher porque o marido foi acusado? Qual é o caso da ética? É ser casada com alguém que foi acusado?”, indagou Costa.
“A civilização” na justiça demorou muito a construir, e não será abalada pelo “populismo de esquerda”, atirou. “Não é preciso ser jurista, basta ter mínimo de cultura” política e saber o que é a pessoalidade do crime: “se eu cometer um crime sou eu o criminoso e mais ninguém é responsável”.
Costa disse ainda lamentar ter de lembrar ao BE uma questão civilizacional da altura do século das luzes. “Não se combatem populistas da direita sendo populista à esquerda”, notou.
Ainda durante a sua intervenção, Catarina Martins disse que “as perguntas são muitas”, sobretudo no caso da indemnização da ex-secretária de Estado por sair da TAP. “Ninguém sabia que tinha recebido meio milhão. O Ministério das Finanças tem a tutela financeira e ninguém sabia de nada”, sublinhou.
Medina, apontou Costa, não era ministro quando o acordo com a TAP foi feito.