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Coronavírus ligado aos casos de Ovar tem mutação genética única no país

Estela Silva / EPA

GNR com máscara em Ovar

Na maior parte das amostras do vírus associado aos casos de Ovar identificou-se uma mutação genética única, que não se encontra no resto do país. Contudo, esta pode não ter qualquer influência na gravidade da doença ou numa maior transmissão do vírus.

Como noticiou na quarta-feira o Público, referindo dados da Direção-Geral da Saúde, até à data, foram detetados em Ovar 677 casos e sequenciados cerca de 100 genomas do vírus recolhido nas amostras desse concelho. Na maioria, detetou-se uma mutação única, diferente das outras 47 encontradas nos cerca de 800 genomas sequenciados em Portugal.

Uma dessas mutações genéticas – que ocorrem na proteína da espícula, responsável pela entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas -, é a D614G, prevalecente nos genomas do vírus encontrados na Europa e nos Estados Unidos.

“Fizemos uma amostragem muito significativa e sequenciámos imensos vírus associados às pessoas da região de Ovar”, explicou ao Público João Paulo Gomes, bioinformático e responsável do Núcleo de Bioinformática do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), em Lisboa.

Todos os genomas ligados ao cluster de Ovar tinham a D614G. Além disso, a maioria tinha uma mutação não detetada nos restantes vírus em Portugal, a D839Y. Ainda não se sabe qual o efeito desta modificação.

Os cientistas chamam à D839Y uma “mutação marcadora”, porque marca um determinado braço filogenético do vírus, em que todos os genomas desse braço partilham essa mutação. “Raramente vemos esta mutação quando fazemos comparações com as bases de dados [genéticas] públicas europeias”, disse João Paulo Gomes.

Os cerca de 100 genomas associados aos casos Ovar encontram-se dentro e fora do concelho, que teve uma cerca sanitária que o manteve isolado do resto do país, entre 18 de março e 18 de abril.

“Não deixa de ser curioso que a esmagadora maioria desses genomas tenha essa mutação, o que faz supor que a entrada da infeção em Ovar tenha sido feita numa única entrada”, acrescentou o bioinformático.

O Público frisou que esta mutação pode não ter influência na gravidade da doença ou na maior transmissão do vírus, visto que as mutações relacionam-se com a evolução natural do vírus durante o processo infecioso à medida que vai passando de pessoa para pessoa.

ZAP //

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