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“Contornos de desumanidade”. Utentes querem poder sair dos lares (e DGS garante que vai rever norma)

Depois de uma semana em que não se registaram nenhumas mortes em lares desde o início da pandemia, as instituições pediram ao Governo que se regresse a um regime mais facilitado de saída dos utentes.

Apesar de estarem praticamente todos vacinados contra a covid-19, os idosos que vivem em lares são obrigados há mais de um ano a cumprir um isolamento de 14 dias quando saem das instituições por um período superior a 24 horas.

Segundo o semanário Expresso, esta sexta-feira, na reunião semanal com a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) e a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) vão propor que se regresse a um regime mais facilitado de saída dos utentes, como o passeio nas imediações das instituições, ir ao barbeiro ou um fim de semana com a família.

O jornal Público adiantou na noite desta sexta-feira que a orientação da Direção-Geral da Saúde (DGS) que impôs esta restrição vai ser atualizada em breve.

Segundo o presidente da CNIS, Lino Maia, a orientação da DGS permite saídas sem necessidade de testes nem isolamento no regresso apenas quando os idosos saem por períodos inferiores a 24 horas para fazerem tratamentos ou para assistência médica ou para realizarem atividades fora das instituições.

Este é “um problema que tem que ser ultrapassado com moderação, agora que o processo de vacinação está praticamente concluído e os surtos e as mortes diminuíram”, afirmou Lino Maia.

Segundo o gabinete da ministra Ana Mendes Godinho, as saídas dos idosos residentes em lares não estão proibidas, mas, como é imposto o isolamento profilático de 14 dias no regresso após períodos superiores a 24 horas, muitos lares alegam não ter condições para garantir a quarentena por não disporem de espaços adequados nem suficientes funcionários em número suficiente.

“É evidente que esta é uma situação que tem contornos de desumanidade, mas sabemos que [os lares] são residências coletivas e é preciso continuar a garantir todos os cuidados”, sublinhou Lino Maia.

O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, defende que a situação mudou com a vacinação e que faz sentido que a DGS altere as regras e permita aligeirar das restrições.

Pelo menos 90% dos residentes nos lares de idosos e nas unidades de cuidados continuados já receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19.

Covid-19 não trava listas de espera

Segundo o Jornal de Notícias, os lares de idosos continuam a ter candidatos a utentes em lista de espera apesar de, desde março de 2020, Portugal ter perdido 4.666 idosos residentes em lares devido à covid-19.

Mesmo depois destes óbitos, que resultaram na libertação de vagas nas instituições, o presidente da Confederação Nacional das Instituições e Solidariedade, Lino Maia, esclareceu que os lares “já estão a repor as vagas”.

“Pensámos que as pessoas iam ficar com medo e não íamos ter tanta procura. Mas isso não aconteceu. Tivemos tanta afluência quando reabrimos as inscrições, que logo a seguir parámos de receber admissões”, afirmou Maria Luísa Silva, responsável pelo Asilo S.José.

“Disponibilizámos vagas para altas sociais, ou seja, pessoas que estão prontas para sair do hospital, mas não têm para onde ir. Só na eventualidade de alguém falecer ou alguma saída é que voltamos a disponibilizar camas”, explicou Jorge Ribeiro, provedor do Lar Pereira de Sousa, que já está “cheio”.

Manuel Lemos acredita que o país pode estar a caminhar para “um problema social sério” se a rede de lares e apoio domiciliário não for melhorada.

“Há muita gente a ficar velhinha, com demência, doenças crónicas, fragilidades motoras e físicas graves. A situação vai agravar-se e, por isso, no programa de resiliência e quadros comunitários pedimos ao Governo que reforce as verbas, não só para requalificação dos lares, mas também para construir novos”, disse.

Maria Campos, ZAP //

 

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