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Bercow. O Brexit é o maior erro de política externa desde a II Guerra Mundial

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“Se me perguntarem o que penso honestamente sobre o Brexit, se é bom para a nossa reputação internacional, a resposta honesta é não”, confessou John Bercow.

O antigo presidente da Câmara dos Comuns do parlamento britânico, John Bercow, defendeu esta quarta-feira que o Brexit é o maior erro da política externa britânica desde a II Guerra Mundial e garantiu que foi imparcial enquanto esteve em funções.

Já não sou speaker, não tenho de continuar a ser imparcial, e se me perguntarem o que penso honestamente sobre o Brexit, se é bom para a nossa reputação internacional, a resposta honesta é não. Considero o Brexit o maior erro de política externa desde a II Guerra Mundial”, afirmou em Londres, numa conferência de imprensa organizada pela associação de jornalistas estrangeiros.

Na sua leitura, o mundo é feito de blocos de poder e de blocos comerciais e o Reino Unido tem a ganhar se estiver nestes blocos. Bercow acrescentou que a “incerteza prolongada” causada pela demora do processo de saída da União Europeia é má para o investimento e confiança económica.

No entanto, defendeu “o direito do Parlamento [britânico] de ‘parler’ [falar em francês] porque é melhor fazer bem do que fazer depressa”, acrescentando: “O Parlamento tem todo o direito de continuar a debater o assunto”.

Segundo Bercow, existem três formas de concluir a primeira fase do Brexit: sair da UE com um acordo aprovado pela Câmara, sair da UE sem acordo, mas com uma decisão explícita do Parlamento, o que considera “improvável e muitíssimo indesejável, mas que seria legítima”, e estender o artigo 50.º para continuar as negociações.

“Até agora foi isso que aconteceu, vamos ver se vai acontecer de novo. Sem dúvida que as eleições vão ser um fator importante. Se houver uma maioria conservadora, provavelmente não vai haver outra extensão”, referiu.

Bercow recusou ter ajudado os deputados a favor da permanência do Reino Unido na UE a bloquear o processo do Brexit, lembrando que deu sempre a palavra aos eurocéticos durante muitos anos.

A esse propósito, lembrou que chegou a escolher uma emenda ao programa legislativo do governo de David Cameron, em 2013, a favor de um referendo “porque tinha muitas assinaturas e era uma proposta legítima para colocar à Câmara dos Comuns”.

A proposta foi rejeitada na altura por 277 votos contra e 130 a favor após um debate de seis horas. “Há quem diga que fez parte de uma sequência de eventos que forçou David Cameron a mudar de ideias e decidir realizar um referendo”, referiu, reiterando que sempre procurou tratar os dois lados da discussão de maneira justa. “Fui imparcial”, garantiu.

Deputado pelo Partido Conservador desde 1997 e presidente da Câmara dos Comuns desde 2009, John Bercow cessou funções na sexta-feira, tendo sido substituído pelo trabalhista Lindsay Hoyle numa eleição realizada na segunda-feira entre os deputados.

Bercow tornou-se uma celebridade mundial pelas suas gravatas coloridas, voz alta para pôr ordem nos debates parlamentares e decisões controversas durante o processo do Brexit. Alguns deputados ficaram tristes por vê-lo partir por ver nele um defensor das minorias e da modernização do Parlamento, permitindo que deputados confrontassem mais frequentemente o governo sobre matérias controversas.

Porém, uma outra fação, sobretudo composta por antigos colegas conservadores, criticou-o por ter tomado decisões contrárias ao costume que prejudicaram o processo do Brexit, levando a vários prolongamentos da data inicial de 29 de março para a atual de 31 de janeiro.

O biógrafo de Bercow, Sebastian Whale, descreveu Bercow como “divisivo, abrasivo e polémico”, mas até o primeiro-ministro, Boris Johnson, reconheceu que foi “um grande servo” do Parlamento e da Câmara dos Comuns.

ZAP // Lusa

7 Comments

  1. Concordo com ele. Mas só o tempo o vai dizer. A verdade é que, se fizessem agora o referendo, decerto quem pode votar com mais consciência e menos vaidade de um império que já acabou e já não é auto-suficiente, estaria lá em força e não passaria. Agora, terão de aguentar as consequências da má informação para o referendo e da falta de gente mais nova e mais consciente, a votar

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