A partir desta segunda-feira até quarta-feira, o Convento São Francisco, em Coimbra, acolhe o congresso internacional “José Saramago: 20 anos com o Prémio Nobel”, num evento que terá a presença do Presidente da República.
Esta segunda-feira, quando se comemoram exatamente 20 anos sobre o anúncio da atribuição do Nobel da Literatura a José Saramago, será também publicado o “Último Caderno de Lanzarote”, inédito do escritor, derradeiro volume do diário que escreveu ao longo dos 17 últimos anos de vida, quando se fixou nesta ilha das Canárias.
O congresso, organizado pelo Centro de Literatura Portuguesa (CLP) da Universidade de Coimbra e pela Câmara Municipal, vai contar com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, da presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río, na sessão de abertura, esta segunda-feira.
“A expectativa do congresso é dupla. Primeiro: que se faça uma atualização do conhecimento em torno do escritor, nestes 20 anos subsequentes à atribuição do Prémio Nobel da Literatura e também naqueles que se seguiram à sua morte, em 2010. Segundo, que essa atualização abra novas pistas de análise da obra de Saramago, especialmente em âmbito académico”, sublinhou o coordenador da comissão executiva do congresso, o professor Carlos Reis.
Durante o primeiro dia, será entregue o primeiro prémio do concurso de ensaio sobre José Saramago, destinado a estudantes do ensino secundário. Logo após a abertura, de acordo com o programa, terá lugar a apresentação do “Último Caderno de Lanzarote“, pelo professor de Literatura da Universidade de Coimbra Carlos Reis.
De acordo com a FLUC, do programa constam conferências plenárias por docentes da Universidade do Rio de Janeiro, Universidade de Leeds, Universidade de Bolonha, realizando-se ainda três mesas plenárias centradas nos temas “Personagens e identidades”, “Diálogo sobre Deus e Saramago” e “Outros Saramagos: ‘transmediações'”.
A dimensão da “ilha desconhecida”, em Saramago, as “cartografias imaginárias” e “representações de espaços distópicos”, num paralelo entre o escritor português, o angolano José Eduardo Agualusa e o brasileiro Ignácio Loyola de Brandão, a “glória das personagens” do Nobel da Literatura (“figuras impalpáveis merecedoras de estátua”), alegorias, religião e mito em “As intermitências da morte”, as “estratégias narrativas em José Saramago”, a “forma estética e consciência histórica”, na sua obra, assim como “o conceito de cidadania” são temas em discussão ao longo dos próximos três dias.
A obra é abordada, de “Levantado do Chão” a “Jangada de Pedra” e “Memorial do Convento”, de “O Ano da Morte de Ricardo Reis” e “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, a “Ensaio sobre a Cegueira”, “O Homem Duplicado”, “Caim” ou “A Viagem do Elefante”.
Ao todo, durante os três dias de congresso, serão apresentadas cerca de 60 comunicações e deverão participar mais de 300 pessoas, entre docentes, investigadores, alunos e público em geral.
O encerramento do congresso estará a cargo da presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río, sendo posteriormente apresentada uma adaptação dramatúrgica de “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, pela companhia Éter.
José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga do Ribatejo. Publicou o seu primeiro livro, “Terra do Pecado”, em 1947, seis anos antes de concluir o romance “Claraboia”, publicado apenas após a sua morte.
Foi responsável pelo catálogo da Editorial Estúdios Cor, desde o final dos anos de 1950, traduziu e fez crítica literária, antes de regressar à escrita em 1966, com “Os Poemas Possíveis”. Entrou no Diário de Lisboa, em 1971, como editorialista, e no Diário de Notícias, em 1975, como diretor-adjunto.
Em 1976 instalou-se na aldeia de Lavre, na região de Montemor-o-Novo, para escrever sobre “camponeses sem terra”. O projeto deu origem ao romance “Levantado do Chão”, publicado em 1980, que, de acordo com investigadores, estabeleceu “o modo de narrar” característico da ficção novelesca de José Saramago.
Até à morte, em 2010, Saramago construiu, com mais de 40 títulos que atravessam diferentes géneros literários, “uma obra determinante na literatura portuguesa e universal”, segundo os seus editores.
No ano de 2007 foi criada uma fundação com o seu nome, que trabalha pela difusão da literatura, pela defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, tomando como documento orientador a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desde 2012, a Fundação José Saramago tem a sua sede na Casa dos Bicos, em Lisboa.
José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Nobel de Literatura em 1998.
“Uma obra escrita trabalhada com suor”
O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, evocou esta segunda-feira José Saramago em Coimbra e realçou que o Nobel da Literatura português “nunca perdeu o sentido ético” da existência humana. O autor de “Memorial do Convento”, na sua opinião, “nunca deixou cair esta profunda exigência moral de justiça”.
José Saramago é “uma figura de escritor que se impõe por essa exigência ética que atravessa toda a sua obra”, sublinhou.
Luís Filipe Castro Mendes intervinha na abertura do congresso internacional “José Saramago: 20 anos com o Prémio Nobel”, promovido pela Universidade de Coimbra (UC), que decorre até quarta-feira no Convento de São Francisco.
José Saramago “é um escritor que trabalha profundamente a sua escrita”, afirmou para frisar que o escritor possui “uma obra escrita trabalhada com suor”.
ZAP // Lusa