/

Como vai Portugal ser afectado pelas tarifas de Trump? Cinco sectores correm mais riscos

3

ZAP // Darwinius / Wikimedia; Rawpixel

Os EUA são um dos principais destinos das exportações portuguesas, ocupando o quarto lugar entre os “clientes” de Portugal. Mas que impacto vão ter as tarifas de Donald Trump na nossa economia? 

Os EUA são o “principal parceiro extracomunitário” de Portugal, representando “6,8% do total das nossas exportações de bens“, considerando dados de 2023, como nota a economista Gabriela Castro, que integra o Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal (BdP), em declarações no “BdP Podcast“.

A AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal reforça que “os EUA são o quarto cliente de Portugal” e que, em Janeiro deste ano, eram o nosso 11.º fornecedor.

Em 2024, as exportações portuguesas para os EUA representaram “5.318,3 milhões de euros” e “as importações subiram 7,3% para 2.416 milhões de euros, com um saldo da balança comercial positivo para Portugal em 2.902,3 milhões de euros”, segundo dados da AICEP.

“Os químicos representavam um quarto (24,9%) do total das vendas aos EUA em 2024, somando 1.324,2 milhões de euros”, ainda segundo a AICEP.

Já em Janeiro deste ano, “as exportações de químicos para os EUA somavam 70,2 milhões de euros”, “com um peso de 21,3%, seguido dos combustíveis minerais (peso de 14,8%, totalizando 48,9 milhões de euros)”, ainda segundo a mesma agência.

“As vendas de plásticos e borracha eram o terceiro produto mais vendido (peso de 11,5%), somando 37,8 milhões de euros”, acrescenta a AICEP.

Na lista dos principais produtos portugueses exportados para os EUA, estão “óleos de petróleo ou de minerais betuminosos”, “medicamentos, pneumáticos novos, de borracha, entre outros”, como destaca ainda a AICEP.

Há “países com dependência muito maior” dos EUA do que Portugal

Analisando o peso das exportações portuguesas para os EUA em termos do PIB português, “Portugal encontra-se numa posição intermédia no contexto da União Europeia”, refere a economista Gabriela Costa no “BdP Podcast”.

Em 2023, “as exportações de bens representaram cerca de 2% do PIB português, enquanto há países da UE onde têm um impacto “significativamente menor”, como são os casos de Chipre que “tem um peso de 0,4%”, e de Malta, “com 0,6%”, analisa ainda Gabriela Castro.

Mas também há “países com uma dependência muito maior, como é o caso da Bélgica, com 5,6%, e o caso da Irlanda, com 10,1%”.

Que impacto podem ter as tarifas no nosso país?

Nesta altura, ainda é prematuro presumir qual vai ser o impacto real das tarifas de 20% anunciadas por Donald Trump sobre os produtos importados da União Europeia (UE).

Mas o Boletim de Março do Banco de Portugal (BdP) já antecipava o efeito negativo que é certo – embora ainda não seja possível adiantar quão grave será.

Naquele documento de previsão do BdP, estimava-se que o “impacto global” do choque imposto por Trump levaria a uma “redução cumulativa do PIB [Produto Interno Bruto] em torno de 1,1% no final de três anos, com os efeitos concentrados nos primeiros dois anos”.

Banco de Portugal

Impacto das tarifas anunciadas por Donald Trump no PIB português.

Impacto das tarifas anunciadas por Donald Trump no PIB português.

A instituição salientava no documento que, “para além dos efeitos directos da imposição de tarifas, o aumento das barreiras comerciais gera um ambiente de maior incerteza, com repercussões negativas na confiança dos agentes económicos, fruto da imprevisibilidade de futuras políticas comerciais, da sua escala e duração, da possibilidade de medidas retaliatórias e da volatilidade induzida nos custos de produção e nos preços dos bens”.

Tudo isso vai levar, inevitavelmente a “uma redução do investimento e do consumo privado“, analisava ainda o BdP.

A economista Gabriela Castro, que esteve envolvida na elaboração do Boletim de Março do BdP, reforça que este “ambiente muito instável”, “reduz a confiança” e retrai o consumo, com efeito directo na actividade económica.

Com a “redução da actividade económica nos países afectados pelas tarifas”, a procura global também fica afectada, nota ainda a economista, concluindo que isso afectará o rendimento das famílias, devido a possíveis cenários de aumento do desemprego e do aumento dos preços dos bens.

Os 5 sectores portugueses mais expostos às tarifas

O boletim do BdP também identificava os cinco sectores nacionais mais expostos ao comércio com os EUA, e que, portanto, podem sofrer mais com as tarifas.

As empresas exportadoras de fabricação de têxteis e de produtos minerais não metálicos (que inclui vidro, produtos cerâmicos e cimento) têm “elevada exposição ao mercado americano”, considerando os números das exportações de 2023, apontava o BdP.

“As indústrias das bebidas, dos equipamentos informáticos, de comunicações, electrónicos e óptica e a indústria do couro e seus produtos, apresentavam também uma relevante percentagem de empresas com elevada exposição ao mercado americano”, acrescenta o mesmo boletim.

Banco de Portugal

Sectores portugueses mais afectados pelo impacto das tarifas anunciadas por Donald Trump.

Sectores portugueses mais afectados pelo impacto das tarifas anunciadas por Donald Trump.

Contudo, o impacto, nestes e noutros sectores, pode ser diferente, conforme a realidade de cada empresa individualmente, e de acordo com a forma como se prepararam, ou não, para as tarifas, como repara o economista João Amador, que também integra o Departamento de Estudos Económicos do BdP.

Mas existem casos de empresas onde o mercado americano é “absolutamente fundamental”, e que podem, portanto, sofrer mais, analisa João Amador no “BdP Podcast”.

O que podem as empresas fazer?

“As empresas exportadoras poderão mitigar esse efeito reduzindo os seus preços de venda, comprimindo a sua margem de lucro“, nota o Boletim de Março do BdP.

Outra possível solução, no caso de empresas multinacionais, passa pela “criação de capacidade produtiva nos EUA“, com a criação de instalações de produção neste país, afiança ainda o BdP. Isso vai encontro da estratégia de Trump que quer recuperar a indústria dos EUA.

Mas as empresas também podem ser afectadas indirectamente, mesmo que não exportem directamente produtos para os EUA. Afinal, vivemos num “mundo globalizado”, onde a “produção de muitos bens é distribuída por vários países, com cada país a especializar-se” numa determinada área, com o repara Gabriela Castro.

A economista dá o exemplo da produção automóvel, notando que “um carro pode ter componentes que são fabricados em diferentes países, e pode ser montado noutro país”.

Assim, “os fornecedores de componentes automóveis, mesmo que não vendam para os EUA, podem ver a procura pelos seus produtos diminuir”, destaca, sublinhando que a indústria automóvel nacional também pode sair afectada.

Susana Valente, ZAP //

3 Comments

  1. Não são as tarifas do Presidente Trump que vão afectar Portugal e os Portugueses, são as más políticas intencionais praticadas pelos Governos do dr. Pedro Coelho, dr. António Costa, dr. Luís Esteves, e dos próximos governos, que estão e vão prejudicar verdadeiramente o País, os Portugueses, e às quais se junta o factor de instabilidade política representado pelo Sr.º Presidente da República Marcelo Sousa.
    As tarifas do Presidente Trump são uma oportunidade para se fazer as Reformas que Portugal precisa, e reactivar os sectores da Agro-Pecuária, Indústria, e Pescas, Comércio e Serviços, rumo a uma maior autonomia e soberania.
    «…O sistema político da Constituição de 1976 está gasto, transformou a Democracia, Esperança do 25 de Abril, num “ancien régime”. Transformou-A numa partidocracia subordinada a várias oligarquias, onde impera o poder do dinheiro e não o Primado da Pessoa Humana, nem a soberania do Povo.
    O Estado Social vem sendo descaradamente destruído e agravam-se as desigualdades sociais.
    Os menos esclarecidos julgam que os centros de decisão mais importantes ainda estão nos Partidos, e não, como agora, nas sociedades secretas cujos interesses financeiros, protegidos por uma desregulação selvagem, dominam o Estado.
    Portugal, por culpa da passividade e da incompetência, foi transformado num protectorado de uma Europa sem coragem de se autoconstruir, afundada no Relativismo e rejeitando Princípios, Valores e Ideologias. Está assim comprometido o Interesse Nacional e o Bem Comum dos Portugueses.
    Também a posse das máquinas informativas pelos poderes aqui denunciados, ajuda a convencer os Portugueses de que não há outro caminho de Regeneração, de Democracia e de Desenvolvimento Integral da Pátria, a não ser o deste percurso de “apagada e vil tristeza” por onde nos forçam os “velhos do Restelo” do século XXI português.
    Os socialmente mais débeis são os mais covardemente atingidos e sofredores, porque assim o escolheram as oligarquias e as sociedade secretas.
    A crise tinha de ser enfrentada, mas não desta maneira de genocídio social…» – Alberto João Jardim in «A Tomada da Bastilha» (https://www.aofa.pt/rimp/PR_Alberto_Joao_Jardim_Documentacao.pdf)

Responder a Fred Cancelar resposta

Your email address will not be published.