Putin espia o exército russo. O problema começou poucos dias antes da guerra na Ucrânia

Mikhail Tereshchenko / EPA

O presidente russo, Vladimir Putin ouve o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Russas, Valery Gerasimov.

O presidente russo, Vladimir Putin (E) ouve o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Russas, Valery Gerasimov (D).

General Leonid Ivashov avisou que invadir a Ucrânia seria uma má ideia. Presidente da Rússia desconfia dos generais do seu país.

Vladimir Putin tenta espiar o que os ucranianos fazem, tenta saber antecipadamente os movimentos do adversário (como é normal numa guerra).

Mas o presidente da Rússia também desconfia do exército russo. Sobretudo dos seus generais, detalha a revista The Economist.

Ou seja, líderes do exército da Rússia enfrentam os serviços secretos…da Rússia. Traduzindo: são espiados pelo FSB.

Primeiro porque, apesar de oficial e publicamente isso não ser anunciado, internamente há a ideia no Kremlin de que a guerra na Ucrânia não está a decorrer como era suposto.

Aliás, nem deveria estar a decorrer ainda: ainda antes do dia 24 de Fevereiro de 2022, Putin terá recebido a indicação de generais de que a “operação militar especial” iria durar dias. Os ucranianos até iram agradecer e receber os russos com flores.

Não houve flores. Houve armas. E uma guerra que, mais de três anos depois, persiste.

Aqui começa a desconfiança de Vladimir Putin em relação a tudo que mexe no terreno – é que, na prática, o exército russo avançou pouco neste período, na Ucrânia. Aliás, tendo em conta os objectivos do Kremlin (controlar a capital Kiev logo nos primeiros dias), o exército russo nem avançou quase nada.

Entretanto, segundo os números do Ministério da Defesa do Reino Unido, morreram pelo menos 200 mil soldados e 600 mil ficaram feridos, diz o Ministério da Defesa do Reino Unido.

E Putin desconfia do seu exército, principalmente por causa de um momento que decorreu poucos dias antes do início da invasão.

O antigo general Leonid Ivashov disse, numa reunião em Moscovo, que uma invasão militar na Ucrânia seria má ideia. Aliás, até avisou que seria um desastre.

A invasão não correu como Putin queria e os serviços de espionagem acabaram por ser considerados culpados – no sentido em que deveriam ter controlado os planos, os esquemas, as previsões de todos os chefes e ex-chefes do exército.

E o presidente da Rússia quer mesmo ter o controlo de tudo, sem desvios: vários generais desapareceram entretanto, o general Ivan Popov, o caso de Prigozhin terminou como se sabe.

Os canais de comunicação, as redes sociais, estão a ser controlados pelo Kremlin. O crítico de guerra Igor Strelkov foi preso.

Mais do que isso: ao longo dos últimos meses, o FSB começou a espiar o exército e até o Ministério da Defesa. E a mexer nas instituições. Até Serguei Shoigu, que era aliado próximo de Putin, foi transferido. Ex-deputados e cerca de 30 funcionários foram presos. Tudo para desmontar o “clã” de conexões de Shoigu no governo.

Nos últimos tempos, outros três generais também foram presos, incluindo Vadim Shamarin, vice-chefe do estado-maior geral, e Ivan Popov.

ZAP //

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