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Cidade sueca está a ser engolida por uma mina (e a solução é mover as casas)

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A maior mina de minério de ferro do mundo está prestes a engolir a cidade sueca de Kiruna. A solução: mover a cidade.

A fenda apareceu há alguns anos e, desde então, está a abrir em direção à cidade de Kiruna. “As minas estão debaixo de nós”, diz Göran Cars. “Consegue ver-se a direção das fendas – vindas da mina e a ir para o centro da cidade.”

A mina, Kiirunavaara, é a razão pela qual esta cidade sueca de aproximadamente 20 mil pessoas no norte da Lapónia existe. É uma das maiores minas subterrâneas de minério de ferro do mundo, e domina tanto economicamente como visualmente – com as duas chaminés a lançar fumo negro do cimo da montanha.

Há mais de um século, os mineiros escavaram tão profundamente a terra – 2 quilómetros em alguns pontos – que literalmente escavaram por baixo da cidade. As cavernas estão a causar afundamento, a enfraquecer a estrutura dos edifícios e a abrir uma grande fenda na própria terra, que cresce cada ano mais alguns metros em direção a Kiruna, que está prestes a ser engolida pela mina que lhe deu vida.

Em 2004, um plano foi criado. A Luossavaara-Kiirunavaara AB (LKAB), a gigante empresa estatal que opera a mina, decidiu mover a cidade – incluindo as casas.

A empresa identificou uma zona ameaçada pela fenda e deu aos moradores três opções: um novo apartamento, vender a casa à empresa pela taxa de mercado com 25% de acréscimo, ou, se possível, carregar a casa num camião e movê-la para a nova cidade. Cars recebeu a responsabilidade de planear a nova cidade.

“A ideia era ter uma praça, porque a cidade não tem uma praça da cidade”, disse Cars na inauguração do edifício da Câmara Municipal, o primeiro da nova Kiruna, citado pelo jornal britânico The Guardian. É um edifício muito moderno, projetado pelo arquiteto dinamarquês Henning Larsen e a característica mais notável é a galeria de arte embutida.

Atualmente, a Câmara Municipal está sozinha no que parece ser o meio do nada. Na verdade, o local era o antigo depósito de lixo da cidade e, em seguida, uma sucessão de fábricas e ferros-velhos conhecidos localmente como Vale da Morte. Mas o plano é haver uma cidade inteira neste local a 1 de setembro de 2020.

Os planos mostram edifícios comerciais e residenciais, cinemas, bibliotecas e hotéis, irradiando-se em largas avenidas da Câmara Municipal.

A escala do projeto é sem precedentes. Várias dúzias de prédios serão movidos por uma equipa especialmente treinada de especialistas que se tornaram tão bons nos seus trabalhos que é mais barato mover a casa do que demolir e reconstruir.

A enorme igreja de madeira será içada e movida. Já outros edifícios, como a atual Câmara Municipal e a estação ferroviária, serão despojados de elementos estéticos, incluindo postes de iluminação e grades de ferro, para serem incorporados a novas estruturas.

Todos os custos serão suportados pela LKAB. Mas não é a generosidade que motiva a empresa. “A lei é simples”, explicou Cars. “A mina tem de compensar os danos estruturais que provocou pela lei sueca”.

Também tem a ver com sobrevivência. “Parte do problema de Kiruna é que as mulheres têm-se mudado, enquanto os homens têm ficado. Por isso, isto é também um esforço para atrair mulheres estrangeiras para se casarem com mineiros.

Quanto mais profunda a mina, mais caro se torna remover o ferro – e o número de empregos também está a diminuir devido à automação. Numa era globalizada, é cada vez mais difícil convencer jovens com formação universitária a viverem no Círculo Polar Ártico.

“Eu moro em Kiruna. Quero ter uma cidade agradável para morar. Espero que os meus filhos fiquem aqui ou pelo menos voltem quando estudarem. Precisamos de pessoas formadas para se mudar para Kiruna e trabalhar”, disse Johan Mäkitaavola, gerente de projetos da LKAB.

Para sobreviver, a cidade precisa de se diversificar. Já é sede de uma indústria espacial promissora e, no inverno, há voos diretos de Tóquio e Xangai para turistas interessados em vislumbrar as luzes do norte. Parece impossível, no entanto, imaginar Kiruna sem a LKAB e vice-versa.

Há ainda uma verdade inconveniente – o facto de a nova cidade ficar no território dos Sami, o povo indígena da Lapónia, cuja criação de renas é frequentemente interrompida pelas mineralização. “Eles têm interesse neste terra e nós temos o nosso”, diz Mäkitaavola. “É um problema. Não é fácil”.

Stefan Sydberg, vice-presidente da Câmara Municipal de Kiruna, reconhece que os interesses do povo sami devem ser respeitados. “Mas mudar o centro da cidade para essa área tem o menor impacto, porque essa é uma área industrial antiga. Não tem havido nenhuma rena nesta área desde antes da transformação da cidade”.

“Não podemos simplesmente sentar-nos e dizer que não podemos fazer nada porque temos os pastores de renas. Nós temos que evoluir como uma cidade. Eles também prosperam com isto”, explicou.

ZAP //

1 Comment

  1. A lei portuguesa também obriga as concessionárias a reparar os estragos daquilo a que se chama a zona degradada. Para evitar/minorar isso é que uma galeria de uma mina fechada tem de ter sempre conservação

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