Chega ficou mais ofendido com “aqueles” do que com “nazis”

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JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

O deputado do Chega, Pedro Pinto

Declarações de Rui Tavares originaram dupla confusão, primeiro com o primeiro-ministro, depois com um deputado do Chega.

É mais uma “novela” que a Assembleia da República protagoniza. Desta vez com o próprio primeiro-ministro e com “neo-nazis” pelo meio.

A confusão no debate quinzenal desta quinta-feira instalou-se quando Rui Tavares falou. O deputado do Livre começou por dizer que o excedente orçamental de 2.000 milhões de euros não é do Governo, é “resultado do sacrifício dos portugueses ao longo de muitos anos”.

Apelou também à “responsabilidade” de um Governo sem maioria absoluta, que deveria “saber discutir um Orçamento do Estado com o Parlamento”.

E atirou que não se importa com as ideias que o Governo “roubou” ao Livre, acrescentando outras sugestões – por exemplo que o fundo de emergência para a habitação deveria ser mais utilizado para “tirar pessoas das ruas”.

Em relação ao novo passe ferroviário a 20 euros, alegou que o Executivo ainda não mostrou como não deixa a CP ir à falência.

Luís Montenegro respondeu directamente a este assunto, dizendo que o Governo “transferir o valor subjacente ao serviço que a CP vai prestar”.

Os últimos segundos de Rui Tavares mudaram o ambiente no hemiciclo.

Etnia e “aqueles”

O deputado do Livre disse que um primeiro-ministro de um país europeu “tem de assumir uma responsabilidade: foi imputada a autoria de um crime a uma etnia inteira – e o senhor primeiro-ministro não disse nada! Foi um atentado à Constituição da República e ao Estado de Direito”.

O crime em causa é o triplo homicídio desta quarta-feira em Lisboa e Rui Tavares estava a falar sobre o discurso de André Ventura (Chega) que, minutos antes, tinha dito que este crime mostra a “impunidade que a comunidade cigana continua a ter” em Portugal.

Perante as palavras de Rui Tavares, o primeiro-ministro exaltou-se. Barulho na sala, em parte proveniente do próprio Luís Montenegro. “Se é assim…”, disse Rui Tavares, que se calou, desligou o microfone e se sentou; mesmo quando ainda tinha tempo para falar.

Montenegro pediu logo uma interpelação à mesa.

Rui Tavares também, para pedir mais tempo para falar. “O tempo foi parado”, assegurou o presidente da Assembleia da República, Aguiar-Branco. “Não, mas foi perdido antes. Houve 10 segundos que foram perdidos!”, reagiu Rui Tavares.

O porta-voz do Livre voltou ao seu discurso: “O senhor primeiro-ministro tem obrigação de dizer àqueles que marcharam ao lado de nazis que não podem violar impunemente a Constituição“.

Aqui, foi Pedro Pinto (Chega) a pedir uma interpelação à mesa.

Mas Luís Montenegro, que tinha pedido primeiro, sugeriu disponibilizar, por escrito e com vídeo/som, a resposta que deu a André Ventura. Quando isso for feito: “Agradeço-lhe (Rui Tavares) que me possa fazer um pedido de desculpas face à acusação que me fez agora”.

Na tal resposta ao líder do Chega, o primeiro-ministro tinha dito que o Governo “não está a olhar para os criminosos vendo a sua etnia, origem, ou qualquer característica da sua personalidade. Nós vemos os criminosos todos da mesma maneira”.

Agora sim, Pedro Pinto, deputado do Chega: “O senhor presidente já disse várias vezes que o senhores deputados têm de se tratar de forma cordial. Não posso admitir que haja um líder de um partido que trate uma bancada parlamentar por ‘aqueles’. Aqui não é ‘aqueles’. O senhor presidente não pode admitir que o senhor deputado Rui Tavares trate os deputados da bancada do Chega desta forma”.

Aguiar-Branco foi rápido na resposta: “Tem razão, eu devia ter feito esse reparo e não fiz”. Concordou com Pedro Pinto; aplausos do Chega.

Mas os pedidos de interpelação à mesa ainda não tinham acabado. Agora, Rui Tavares, que pediu a transcrição “o mais depressa possível” do que tinha dito segundos antes, explicando que disse “aqueles que marcharam…”.

Lembrou todas as vezes que Pedro Pinto, deputado do Chega, usou a palavra “aqueles” em debates e, antes de fechar o microfone com alguma violência, atirou: “Quero apenas anotar que ele (Pedro Pinto) não se ofendeu pelo final da frase: aqueles que marcharam ao lado de quem…? De neonazis confessos” – e até tinha dito “nazis”, não “neonazis”.

No meio de gritos de Rita Matias (Chega), e enquanto o presidente da Assembleia da República tentava acalmar o ambiente, a deputada seguinte a falar foi Inês de Sousa Real.

A deputada do PAN não se desviou do assunto: “Não nos indignarmos perante atribuições colectivas de culpa, mas depois não nos deixarmos de indignar relativamente a quem marcha, não só ao lado de neonazis, mas também de quem apela à violação de mulheres de esquerda… É, de facto, estarmos a pôr em causa os valores do 25 de Abril”.

Aplausos dos deputados do Livre e de Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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5 Comments

  1. Mas como é que eles podiam estar contra os Nazis? isso faz parte da genessi do chega para trás, um partido fascista não pode ser contra a presença de neonazis nas suas manifestações, salazar já morreu mas os seus herdeiros alguns ainda cá estão.

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  2. Porque será, que a comunicação social, ataca continuamente o Chega, que é de direita, dá cobertura aos partidos comunistas, que têm na sua matriz, a criação de campos de concentração, o assassínio dos seus opositores políticos, e o roubo de todos os bens para si?

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