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“Envergonha-nos”: 66% de cesarianas nos privados

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Presidente da Associação Europeia de Medicina Perinatal foi ao Parlamento português falar sobre mortalidade materna.

A mortalidade materna atingiu números preocupantes em 2020.

A contabilidade mais recente demonstra que esse ano foi o que registou mais óbitos em mulheres devido a complicações durante gravidez, parto e puerpério.

Diogo Ayres de Campos, presidente da Associação Europeia de Medicina Perinatal esteve no Parlamento português a falar com os deputados precisamente sobre mortalidade materna. Um pedido do Bloco de Esquerda.

“A mortalidade materna precisa de ser investigada caso a caso, porque só é considerada quando ocorre durante a gravidez, ou nas seis semanas seguintes ao parto, e que tem origem na gravidez ou causa agravada pela gravidez. Isto implica um estudo aprofundado, caso a caso, e por isso os dados aparecem tardiamente”, analisou, citado pela rádio TSF.

Temos de ter a certeza de que estes números são mesmo de mortalidade materna”, reforçou Diogo, lembrando que até 2009 não havia avaliação aprofundada das causas de morte.

“Quando surge um aumento de casos é preciso ver de se é ou não uma situação esporádica”, continuou o presidente da associação.

Num panorama geral, sugeriu que Portugal deveria ter uma “avaliação rigorosa da mortalidade materna que não se ficasse pelos sistemas de informação. Isso implica ter um grupo de pessoas que avalia os casos e que devia ser sediado na Direcção Geral da Saúde”.

Diogo Ayres de Campos referiu que há outros países na Europa onde se realizam inquéritos confidenciais sobre mortalidade materna – e esses dados permitem avaliar causas e perceber se era evitável.

O especialista defendeu que Portugal precisa de uma “estratégia” em relação aos cuidados obstétricos e perinatais, que “têm grandes implicações na população”.

Diogo repetiu a ideia de “degradação” dos serviços obstétricos e de ginecologia nos hospitais portugueses: “Quando temos um hospital, por pequeno que seja, que tem três médicos especialistas e todos com mais de 60 anos, não consigo dizer outra palavra que não seja degradação”.

Outro tema abordado foi o número de cesarianas realizadas nos hospitais privados em Portugal: “A taxa de cesarianas, de facto, é algo que, a nível europeu, nos hospitais particulares nos envergonha, porque temos 66% de taxa de cesarianas nos hospitais particulares”.

E não são boas práticas, avisou: “Se vamos alargar aos hospitais particulares, é uma decisão política que não cabe a mim, mas que, se isso acontecer, tem que haver algum controlo sobre estas práticas, porque não são consideradas boas práticas”.

O presidente da Associação Europeia de Medicina Perinatal considera que os hospitais particulares “não têm tido nenhuma atenção e também não há, das instituições do Estado, nenhuma vontade ou capacidade de fazer algum controlo sobre estas práticas”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

 

3 Comments

  1. Eu sempre tive partos normais, de bebés entre 3 e 5 quilos…
    Algumas cesarianas são feitas, porque ALGUNS dos médicos não querem perder muito tempo, o que demonstra bem o seu amor para com aquilo que fazem…

  2. Eu tive seis partos normais, três de gémeos, e os outros, só de um bebé. As cesarianas são um pretexto para os médicos não perderem tempo…
    Acordem, grávidas!

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