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Um cérebro “hiperativo” não é um cérebro saudável

Um estudo recente forneceu algumas evidências que associam a diminuição da atividade cerebral como um possível mecanismo para prolongar a vida útil dos seres humanos.

A pesquisa, cujo artigo científico foi publicado na revista Nature, não fornece uma visão muito clara sobre o que é que faz com que algo aumente drasticamente a vida útil de um ser humano, uma vez que estes mecanismos ainda não são inteiramente compreendidos.

Ainda assim, e apesar de necessitar de várias investigações consequentes, este avanço não deixa de ser relevante. Até agora, e por si só, o estudo é promissor e pode levar à criação de medicação ou à implementação de mudanças culturais no futuro, com o principal objetivo de regular a atividade cerebral.

Uma equipa de investigadores da Universidade de Harvard e alguns colegas da faculdade de Medicina da Universidade do Texas uniram esforços para analisar a expressão genética de alguns genes-chave que regulam o envelhecimento.

Os fatores de transcrição são um importante grupo de proteínas que regulam a expressão genética. Estes fatores são essenciais para a diferenciação celular, uma vez que todas as células têm o mesmo ADN, mas não expressam os mesmos genes. As células ósseas desempenham funções drasticamente diferentes dos neurónios por causa destes fatores de transcrição.

Neste estudo, o fator de transcrição em foco foi o REST. A equipa descobriu que este fator de transcrição é regulado em seres humanos com vida útil prolongada e reprime os genes relacionados à excitação.

Os cientistas decidiram levar a cabo experiências com invertebrados e mamíferos como organismos modelo e concluíram que o sistema nervoso desempenha um importante papel na regulação do envelhecimento. Um invertebrado comum que tem sido extensivamente estudado é o nematóide C. elegans.

Segundo o Minnesota Republic, os organismos modelo são usados ​​para entender processos biológicos conservados. Estas novas descobertas podem ser aplicadas a seres humanos ou a outras espécies para aprimorar o nosso entendimento geral de como funcionam os principais processos, como o envelhecimento.

O nematóide C. elegans foi o escolhido para os cientistas estudarem de que forma a excitação neural afeta a vida útil. Através do medicamento nemadipina, os cientistas inibiram os canais de cálcio nos vermes, o que levou a uma diminuição geral da atividade neuronal. O tratamento contínuo com este medicamento revelou uma extensão da vida útil.

A equipa analisou também de que forma o aumento da excitação neural afetou a vida útil do verme. O C. elegans foi novamente utilizado, mas a via neural em estudo envolveu uma excitação geral da atividade neural.

Os nematóides foram tratados com uma técnica chamada inibição mediada por RNA (RNAi), que terá o efeito geral de excitação aumentada num certo tipo de neurónio em C. elegans, chamado ASH. Quando este neurónio estava altamente excitado, os nematóides que receberam o tratamento com RNAi mostraram uma diminuição significativa na vida útil.

Prolongar a vida em humanos

Os cientistas descobriram ainda como é que o fator de transcrição REST é expresso no envelhecimento do cérebro humano.

Segundo a equipa, no grupo de longevidade estendida (acima dos 100 anos, e em comparação com o grupo 70-80 anos) a expressão do REST aumentou e, de forma consequente, diminuíram os genes que mediam a excitação e a função sináptica.

Citado pelo Stat News, Bruce Yankner, professor de genética e de neurologia da Harvard Medical School, explicou que, à medida que as pessoas envelhecem, o REST pode regular-se naturalmente. Esta suposição pode explicaria as recentes descobertas que ditam que as pessoas que tendem a viver mais tempo expressam o REST em quantidades superiores.

Entender o envelhecimento pode abrir portas a mudanças no estilo de vida das pessoas, de forma a diminuir a excitação neural, e à produção de fármacos com o objetivo de prolongar a vida.

ZAP //

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