“Faz lembrar Cavaco” ou “Marquês de Pimbal”. Socialistas criticam postura de Costa

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António Costa / Twitter

O primeiro-ministro português, António Costa.

A postura agressiva de António Costa na entrevista dada à Visão e no recado para Carlos Moedas está a ser criticada mesmo dentro do PS.

Apesar de todas as críticas da oposição e dos burburinhos sobre quem lhe pode suceder, António Costa tem sido uma figura consensual no PS — não fosse ele o homem que conseguiu formar Governo sem vencer as eleições e consolidar-se depois no poder ganhando dois sufrágios, tendo até chegado à maioria absoluta.

Mas esta mesma maioria absoluta é que pode ser a raíz das críticas internas que Costa tem recebido nos últimos dias, até mesmo de ex-Ministros do seu Governo. Em causa estão as declarações do primeiro-ministro na sua entrevista à Visão, onde Costa saiu ao ataque contra a oposição, especialmente contra a Iniciativa Liberal, descrevendo os liberais como “queques que gincham“.

António Costa ripostou ainda quando foi confrontado sobre um possível desgaste no Governo, que já perdeu vários nomes de peso em menos de um ano. “Cansado? Desde as eleições, quem se cansou foi um líder do PSD, um líder da Iniciativa Liberal e um líder do PCP”, respondeu, referindo-se às saída de Rui Rio, João Cotrim de Figueiredo e Jerónimo de Sousa.

O chefe do Governo deixou ainda um recado aos seus críticos: “Habituem-se! Vão ser quatro anos e habituem-se a viver com a escolha dos portugueses”.

 

As palavras de Costa não caíram bem dentro do seu próprio partido. Uma das vozes mais críticas, e talvez a menos surpreendente, foi a de Ana Gomes. “A fotografia na capa da Visão é assim uma postura… não diria de Marquês de Pombal, mas Marquês de Pimbal, porque reformas, zero – reformas que bem precisávamos”, afirmou a ex-eurodeputada no seu espaço de comentário na SIC Notícias.

Ana Gomes também não gostou da “forma como diz aquele ‘habituem-se’”, que “não é apenas para a bolha política mediática que ele acusa de estar a criar casos, é para todos nós”.

Alexandra Leitão, deputada socialista que foi Secretária de Estado e Ministra sob a alçada de António Costa, também admitiu sentir “algum desconforto” no programa O Princípio da Incerteza da TSF.

“É que esta maioria absoluta está no início e eu quero que não seja uma maioria absoluta em declínio. O que me custou foi ver um déjà vu relativamente a outras maiorias absolutas, até com repetição de algumas das palavras utilizadas noutras maiorias absolutas, e desta maioria – que apoiei e apoio – esperava uma outra abertura, um outro diálogo”, afirmou a deputada.

Será que Alexandra Leitão estava a comparar Costa a Cavaco Silva? Alguém que é mais directo nesta comparação é Pedro Siza Vieira, que foi Ministro da Economia de Costa. “É uma entrevista de alguém que está completamente instalado, muito confortável na sua posição, híper-confiante, e é aí que alguma coisa dá uma sensação de desconforto a quem lê”, disse no programa Bloco Central da TSF.

“Há muitos indícios que fazem lembrar [o tempo de Cavaco Silva]. Nas tragédias gregas, quem caía na húbris – a tentação, o sentimento de quem se sentia infalível e punha em causa os deuses –, acabava por não ter um final muito feliz”, considera.

Siza Vieria aponta ainda a forma como Costa lida com a oposição, que indica que pensa que “não vem dali nenhuma ameaça que possa pôr em causa a sua situação de poder”.

Outro dirigente socialista ouvido pelo Observador fala do “tom estranho” de Costa, especialmente na tirada contra Carlos Moedas quando foi questionado sobre porque é que não tinha contactado autarca de Lisboa para coordenar a resposta às cheias.

“Pergunte-lhe porque é que ele não me contactou a mim, que tive a casa inundada”, respondeu António Costa, tendo entretanto pedido desculpa.

“É um estilo de quem teve uma grande vitória. Só espero que a acompanhar o estilo, haja reformas…”, atira outro socialista. “Costa tem empurrado com a barriga. Resultou durante quatro anos com a geringonça. Pode resultar com a maioria absoluta”, ironiza um outro membro do PS.

Adriana Peixoto, ZAP //

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5 Comments

  1. Quando referenciam PSs criticam costa, devem referir que estes (PSs) desempregados sempre criticaram, acredito que nunca foram PSs, escolheram o PS para chegar ao Tacho, e nao está a acontecer, aliás se tivermos estes comentadores oficiais para criticar o PS, escolhidos com criterio pela comunicaçao social liderada por cavaco silva e passos coelho, somos obrigados a admitir que a maioria absoluta foi do Antonio Costa.

  2. Declarações de quem se sente confortavelmente bem instalado e com um certo grau de impunidade? Um pouco de modéstia talvez não fizesse mal nesta altura do campeonato, tanto por parte de António Costa como de outros senhores que por aí andam … É que pode dar para o torto, nunca se sabe…

  3. EM PORTUGAL O FUTURO, ANDA PARA TRÁS
    Não é difícil criticar Costa, mesmo dentro do PS. Basta ter os olhos abertos e um pouco de memória recente, o que não é difícil. Senão, vejamos:
    Com os lucros inesperados das grandes empresas, veio a televisão anunciar um imposto especial de solidariedade de 30%!!, para com esse dinheiro poder ajudar (como seria dever do governo) as famílias mais caranciadas. Fiquei espantado com o atrevimento do primeiro ministro.
    Chegamos ao fim do ano, os portugueses esperneiam com dificuldades financeiras e o sr. primeiro ministro esqueceu-se de cumprir o que prometeu.
    Demitiu-se a ministra da saúde e o sr. Costa anunciou uma mudança radical no sistema, com um novo ministro, médico de profissão, experiente, que iria resolver todos os problemas rápidamente, dado o seu profundo conhecimento do sector. Ontem, dia 21/12 esse senhor ministro veio anunciar que os problemas são crónicos e levarão mais anos e anos a resolver.
    E eu deixo uma pergunta: que homem é este, capaz de passar o tempo a mentir, ameaçando tudo e todos, por dá cá aquela palha?
    Somos um país de mansos ordeiramente comportados e por isso mesmo, não merecemos mais do que o pouco (cada vez menos), que temos.
    Festas felizes e remediadas a todos os portugueses.

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