Um casal de Arouca está a desenvolver um negócio de broas que começou como forma de aproveitamento do excedente de abóboras que apodreciam nos campos de Souto Redondo e agora lhes são oferecidas pelos habitantes da aldeia.
Naturais da freguesia de Manhouce, mas agora a residir na referida aldeia de Urrô, Cláudia Rio Pinho e Vítor Fernandes arrancaram com o fabrico da receita familiar de broa de abóbora há alguns anos, quando, após uma licença de maternidade, ela se viu sem emprego na sua antiga fábrica de calçado e precisou encontrar uma nova forma de subsistência.
“As abóboras ou iam como comida para os porcos ou ficavam a apodrecer nos campos”, conta Cláudia, admitindo que só uma porção muito pequena desse vegetal era usada na confeção de sopas ou de bilharacos para o Natal. “Então pegámos numa receita que já tínhamos de família, melhorámo-la e começámos a cozer as broas – que são mais tipo regueifa, por serem doces, mas a que chamámos broa porque têm mesmo esse aspeto”, acrescenta.
Cozidos em forno a lenha, os pães começaram por destinar-se apenas a consumo próprio. “Depois, a Cláudia começou a levar umas broas para os colegas da formação em que andava, para comerem todos ao lanche, e, como as pessoas gostaram muito, começaram a dizer que ela devia comercializá-las”, recorda o marido.
Foi assim que a agora padeira passou a dedicar os dias de semana ao cultivo dos campos – enquanto o marido se manteve empregado no setor do calçado – e as sextas-feiras e os sábados ficaram reservados para o fabrico de broas a vender em feiras e mercados.
Um dia, estava o filho do casal a comprar dezenas de quilos de farinha no supermercado Cavadinha, quando a funcionária da caixa brincou com tamanha quantidade de embalagens e perguntou ao miúdo se ele fazia assim tantos bolos.
Quando o rapaz explicou a que se destinava o stock, a funcionária propôs então uma conversa com a proprietária do estabelecimento, para avaliar da possibilidade de as broas serem vendidas no local.
“Senti muita empatia com a Cláudia e gostei muito da broa quando a experimentei”, revela Teresa Sousa, a proprietária do supermercado. “Então propus-lhe que começasse a vender, mas, como não podia ter cá o produto sem ele estar legalizado, primeiro tivemos que tratar das licenças na Câmara, nas Finanças e dessas coisas todas”, refere.
Superada a parte da burocracia, Cláudia Rio Pinto passou as primeiras temporadas a tentar acertar com a fórmula ideal para a sua broa de abóbora e “esteve quase a desistir”, mas Teresa Sousa deu-lhe o incentivo para continuar.
“Hoje há clientes certos que perguntam sempre pela broa, mas isso foi precisamente porque, em vez de cozer muitas de qualidade razoável, ela preferiu perder algumas fornadas no início até perceber como é que podia ter sempre a melhor broa possível”, explica a apoiante do negócio.
Este ano, na época da colheita, Cláudia Rio Pinho recebeu cerca de 500 abóboras em casa, “quase todas oferecidas por pessoas da terra”, cada uma com 15 a 30 quilos de peso – “já para não falar das de 50 quilos ou de uma de 70 que me deu aqui uma senhora há uns meses atrás”, realçou.
Nos seus pontos de venda em Arouca ou no Mercado do Bom Sucesso, no Porto, a broa está depois à venda ao preço médio de 6 euros o quilo – “um preço barato que só é possível porque tanto as abóboras como a lenha dos fornos saem dos campos a custo zero”, observou o marido de Cláudia.
“Às vezes, a broa é comercializada noutros locais, mas quem nos tem contactado são sobretudo revendedores e não os gerentes de cada estabelecimento em si mesmo”, declara Vítor Fernandes. “Isso traz duas desvantagens, porque encarece muito o produto, à custa do transporte e dos intermediários, e faz com que ele já não chegue tão fresco ao consumidor final”, lamentou.
/Lusa